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Dia: 29 de Agosto, 2005

29 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Momento Zen de segunda

A opinação de segunda do nosso fazedor de opinião favorito, J.C. das Neves, teve honras de editorial no local onde debita semanalmente a sua verborreia moralista, o Diário de Notícias. J.C. das Neves esmerou-se na escolha do título para a sua prosa semanal «Armadilha do moralismo antimoralista» para nos advertir do perigo dos tempos modernos: o contradictio in terminus que dá o tema à prosa mais hilariante com que o douto moralista alguma vez nos mimoseou.

Hilariante porque o moralista mor cá do burgo afirma que «O moralismo é um vício terrível, que perverte a verdadeira moral e deve ser sempre condenado». Mas, claro, para o J.C. das Neves, paladino intransigente da «verdadeira moral», moralistas são os que não aceitam as suas alarvidades verdades absolutas! E, sobretudo, moralistas são os ateus (será que já considerou estar em oposição ao seu adorado Papa, que diz ser o relativismo ateu o maior mal moderno?) afirmando mesmo que «hoje o maior moralismo sente-se sobretudo nos que se opõem às religiões». Depois do artigo de puro nonsense debitado hoje pelo ilustre opinador católico fico na dúvida sobre onde foi ele ler a definição de moralismo!

29 de Agosto, 2005 Palmira Silva

De pequenino…

No Texas a importância da educação «correcta» desde cedo é certamente reconhecida pelo Conselho de Educação. Por isso, os livros e manuais escolares que podem ser comprados por escolas públicas estão sujeitos a um apertado escrutínio. Escrutínio que uma decisão de um tribunal federal declarou poder ser baseado em pontos de vista discordantes, isto é, podem ser rejeitados livros que não reflictam estritamente «os valores tradicionais, conservadores da maioria dos texanos».

Esta decisão do tribunal federal texano referia-se à acção movida por Daniel Chiras contra o Conselho de Educação do Texas por rejeitar em 2001 o seu livro «Environmental Science: Creating a Sustainable Future» (Ciência do ambiente: criando um futuro sustentável) que foi assim retirado da lista de livros escolares permitidos nas escolas do Texas. Acusado de conter «erros factuais», a única razão prevista por lei para a rejeição de um manual escolar, o livro foi considerado anti-americano, anti-livre iniciativa e anti-cristão pelos grupos de pressão conservadores Citizens for a Sound Economy e Texas Public Policy Foundation. Os «pecados» graves do livros de Chiras, para além de assumir que a Terra tem milhões de anos e não meia dúzia de milhares de anos, passam por indicar que os americanos, apenas 5% da população mundial, geram 25% dos gases de efeito de estufa, por descrever o papel das indústrias americanas na poluição ambiental e, «blasfémia» por que o compararam a Bin Laden, referir a poluição causada pelas companhias aéreas americanas.

Outro grupo teo-conservador, Educational Research Analysts, presidido por Neal Frey, avalia os livros de texto a serem utilizados no Texas com base nos «valores morais» dos teocratas americanos: devem apontar erros nas teorias da evolução, apoiar os valores judaico-cristãos, advogar abstinência estrita em vez de educação sexual e apoiar o capitalismo. Para este pilar da moral e bons costumes texanos os manuais escolares que falhem um destes pontos incorrem em «erros de omissão» e «erros de discriminação de perspectivas»!