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Dia: 24 de Agosto, 2005

24 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Já não há respeito

Roupas reduzidas perturbam missas. Os padres da região preocupam-se com o respeito nas igrejas – lê-se em «O Mirante».

Em terras da diocese de Fátima/Leiria que ainda não se chamava assim, andou a Virgem bem ataviada a poisar nas azinheiras e a pregar aos rudes pastorinhos as virtudes da modéstia no trajar e as vantagens do terço na conversão da Rússia.

Pediu a divina criatura que não ofendessem Deus – que tem mau humor, o que João César das Neves confirma -, que não ferissem o pudor nem faltassem à compostura que os sacros lugares exigem.

Tantos terços depois, inúmeras novenas, rores de padre-nossos e ave-marias, aparecem mulheres em trajos reduzidos a ofender a Deus, atiçar os homens e deixar os padres à beira de um ataque de nervos, que outros nervos a idade levou.

Lá de cima, o Padre Eterno olha de soslaio o decote atrevido, roboriza-se com as coxas bem torneadas, excita-se com a anatomia desnuda, solta imprecações perante o biquini reduzido, a transparência da seda e o linho que percorre o corpo feminino.

Não é por ele, que tudo vê, cujo olhar torna transparente a burka e o hábito da freira, o capote alentejano e a batina do prior. É pelos homens que se distraem dos deveres pios em doces lucubrações, que enjeitam a elevação do santíssimo por um olhar lúbrico, que esquecem o martírio do seu Deus enlevados no prazer dos sentidos.

O P.e Ricardo Mónica conduzia o terço na capelinha das aparições e deparou-se, quiçá entre o terceiro e o quarto mistérios, com duas jovens de biquini, com um páreo sobre as pernas, que é mais o que mostra do que o que esconde. Até podia enganar-se no número de ave-marias, saltar um mistério ou deixar cair o rosário.

Imagine o leitor o P.e José Cortes na consagração da hóstia e toca um telemóvel. Quem garante que a consagração fica bem feita, que o milagre da transubstanciação acontece ou que apenas se mantém vinho e pão?

Tem razão o reverendo António José Santos, o mais antigo da diocese de Santarém: «é a banalização da fé, dos valores e do respeito…». Deus não pode ser assim ofendido, ele que teve tanto cuidado com Adão e Eva que, depois de descobrirem o que podiam fazer juntos, perderam a inocência e Deus reservou-lhes folhas de parra, a primeira tentativa de cobrir as partes pudendas que evoluiu a caminho da burka e do hábito das carmelitas.

24 de Agosto, 2005 Palmira Silva

200 000

Este é o número de visitas que o Diário Ateísta contabilizou hoje: umas respeitáveis 200 mil, que correspondem a 100 mil visitas em 5 meses. A todos os nossos leitores um muito obrigado, inclusive aos que visitam estas páginas com a vã esperança de nos evangelizarem. Como diz o Carlos, ateísmo é sinónimo de tolerância, o Diário Ateísta existe para expôr as intolerâncias intrínsecas e indissociáveis das religiões. Porque como tive oportunidade de escrever há uns tempos, no nosso mundo cada vez mais global em que urge a coexistência pacífica, especialmente de credos (ou inexistência deles), qualquer grupo que pretenda ser o detentor intolerante da verdade e moral absolutas, que se arrogue divina e superiormente justificado para impor a sua forma de ver e estar na vida é uma ameaça à paz e à justiça.

Todos nós somos testemunhas do perigo dos fundamentalismos religiosos. Os que têm curiosidade em investigar a História sabem que nada de bom adveio do absolutismo religioso em termos do que deveriam ser os valores universais, independentes dos deuses por que cada um jura, nomeadamente o respeito pelo outro.

A paz, a justiça, os direitos e a própria sobrevivência do homem só serão de facto possíveis quando as religiões se remeterem para o foro privado, que deveria ser o seu papel, sem tentativas de imiscuição na vida pública. Sem julgamentos de valores sobre a qualidade moral dos que não subscrevem a respectiva religião porque os preconceitos e o sentimento de superioridade moral resultantes justificam (e justificaram) as acções mais ignóbeis de que a Humanidade foi vítima. E é urgente que o não esqueçamos! Por isso o recordamos frequentemente…

24 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Ateísmo é tolerância

Não sou contra as pessoas que têm fé. Sou contra a fé que as pessoas têm.

Defendo o direito a ter fé, a mudar de crença, regressar à anterior, partir para outra e a não ter fé. Só não aceito a imposição e a violência que soe acompanhar o proselitismo.

Combato os avençados do divino que não aceitam outra fé e, sobretudo, quem a não tem. Ataco os parasitas de Deus e os charlatões místicos. Desmascaro Deus e outros mitos.

Os deuses, tal como as pessoas, nascem, crescem e morrem, apenas o seu ciclo é mais difícil de prever e a sua existência impossível de provar. O próprio Jesus Cristo, depois de uma curta carreira de milagres e pregação, actividades em voga no seu tempo, nasceu há cerca de 2005/2012 anos. Pouco tempo para um Deus e demasiado para as vítimas.

À volta de Deus crescem interesses, organizam-se multidões de parasitas que precisam de multiplicar o número de devotos para manterem o poder e as prebendas. A história das religiões comparadas mostra que são todas parecidas, tendo a morte e o medo como alimento predilecto.

Leão X, Papa católico (ateu, por acaso) dizia que «a fábula de Cristo é de tal modo lucrativa que seria ingénuo advertir os ignorantes do seu erro». Até Pio XII, que morreu com a consciência pesada de ser anti-semita e vagamente nazi, afirmava que, para os cristãos, Cristo era do domínio da fé, não era objecto da história.

Alguns leitores acusam-me de ser, não tanto contra as religiões, mas sobretudo anti-católico. É benevolência dos católicos. Sou contra todas. Já algumas vezes afirmei que todas as religiões se consideram a única verdadeira, donde se conclui que, na melhor das hipóteses, são falsas todas menos uma e, muito provavelmente, são todas.

É verdade que sou mais generoso para com o catolicismo, por ser o mais pernicioso em Portugal. Deve-se-lhe o atraso do País, por ter sido religião obrigatória. Os padres foram quase sempre caceteiros e trogloditas. Atacaram o liberalismo a favor do miguelismo, a República mancomunados com a monarquia, a democracia, aliados à ditadura.

Até na guerra colonial a posição oficial da Igreja católica portuguesa foi empenhada, com o cardeal Cerejeira a afirmar que defendíamos a civilização cristã e ocidental, depois de ter sabido pela Irmã Lúcia que Salazar fora enviado pela providência, quando os portugueses achavam que só podia ter sido pelo diabo.

Deus é uma miragem, afasta-se à medida que as pessoas se aproximam.

24 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Pat Robertson pede o assassínio de Hugo Chávez

Pat Robertson, o pastor evangélico que é o ex-libris dos teoconservadores ou «religious right», fundador da Coligação Cristã e director executivo da CBN (Christian Broadcast Network), que esteve envolvido recentemente numa polémica depois de ter afirmado no programa «This Week with George Stephanopoulos» que os terroristas que perpetraram o 11 de Setembro são apenas «alguns terroristas barbudos que voam contra edíficios» e que a verdadeira ameaça para os Estados Unidos são os juízes federais que não partilham os seus pontos de vista em relação ao aborto, discriminação de homossexuais e mulheres e as outras aberrações em relação aos direitos humanos que são a imagem de marca de qualquer fundamentalista religioso, islâmico ou cristão, voltou às luzes da ribalta. De facto, depois de ter afirmado que os ditos juízes são uma ameaça maior para a América que os terroristas, Nazis durante a segunda Guerra Mundial ou a Guerra Civil no século XIX, o que provocou um prevísivel repúdio, Pat Robertson vem agora pedir o assassinato do presidente venezuelano Hugo Chávez.

Robertson, que foi ainda o fundador da Coligação Cristã da América (Christian Coalition of America) e candidato à nomeação repuplicana para as presidenciais em 1988, afirmou segunda-feira no seu programa «700 Club», transmitido para milhões de pessoas no globo pela CBN, que o presidente venezuelano transformaria o seu país «num ponto de lançamento para a infiltração comunista e extremismo muçulmano em todo o continente» e assim, matar Chávez, um aliado de Fidel de Castro, seria «muito mais barato que começar uma guerra». Acrescentando que «Nós temos a capacidade de o matar e eu penso que é tempo de exercer essa capacidade. Nós não precisamos de outra guerra de 200 biliões de dólares para nos vermos livre de outro ditador poderoso. É muito mais fácil deixar que alguns dos operativos infiltrados façam o trabalho e acabem com o problema».

O governo venezuelano, pela voz do vice-presidente Jose Vicente Rangel, respondeu ontem afirmando que as observações de Robertson são «declarações terroristas», condenando-as como um incitamento ao assassínio de Chàvez e pediu às entidades oficiais americanas que tornem claro que as leis anti-terroristas se aplicam não só aos radicais muçulmanos mas «até para tais cristãos»:

«É uma enorme hipocrisia manter um discurso anti-terrorista e, ao mesmo tempo, no coração desse país existirem declarações completamente terroristas como essas».

Até agora a única reacção da administração Bush consistiu na declaração que Robertson é um cidadão privado que proferiu palavras «inadequadas» que não reflectem a posição da administração americana.

Quiçá Robsertson tenha sido inspirado pelas piedosas palavras do Cardeal Rosalio Castillo Lara, um determinado opositor de Chávez, que «pede a Deus que nos liberte deste flagelo (Chávez, claro)», e considere que o exorcismo recomendado pelo mui católico Cardeal não é suficiente!

E como nota adicional da BBC, refere-se que a Venezuela é o 5º produtor mundial de petróleo e um grande fornecedor dos Estados Unidos.