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Dia: 24 de Junho, 2005

24 de Junho, 2005 Carlos Esperança

Ainda o Diário Ateísta

Recentemente um bando de energúmenos da melhor cepa fascista apareceu a escrever nas caixas de comentários do Diário Ateísta.

Os dez colaboradores habituais são ateus de diferentes proveniências culturais e variadas opções políticas que têm em comum o ateísmo e o desejo de combater as religiões pela acção deletéria que lhe atribuem. Há certamente outros ateus que não se identificam connosco nem nós queremos qualquer confusão com eles.

No meu caso pessoal, junto ao ateísmo militante um anti-clericalismo entusiástico, certo de que não posso combater eficazmente a droga sem beliscar os traficantes. Não é só a religião que é responsável pelo atraso dos povos e por uma atitude retrógrada perante a vida, é o clero, na luta pelo poder político, que impede o progresso e cerceia a liberdade.

Sabemos que não somos os únicos. Há ateus entre extremistas violentos, estalinistas e nazis. Mas é fauna com que não nos identificamos.

O Diário Ateísta defende a liberdade religiosa e o direito de todos poderem ter uma religião, abdicar dela, aderir a outra ou desprezar qualquer fenómeno atribuído a Deus. Apenas não abdica do direito de combater as crenças nem de defender igual direito para os que nos combatem, desde que a única arma seja a palavra.

O que todos aqui defendemos é a democracia, baseada no sufrágio universal e secreto, o respeito pelas minorias, a não discriminação de quem quer que seja por motivos de raça, sexo ou outros e a exigência da separação do Estado e da Igreja, única condição para que os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos possam ser respeitados. Apenas impedimos o proselitismo religioso neste espaço bem frequentado pelo ideal ateísta.

As religiões são falsas e mentirosas. Atribuem a Deus livros que consideram sagrados e que frequentemente apelam ao crime, mas, nem por isso, aceitamos outro foro para o seu julgamento que ultrapasse a opinião pública que nos esforçamos por esclarecer e os tribunais a quem, num Estado de direito, cabe julgar os crimes de crentes e ateus.

Os homens primitivos criaram Deus à sua imagem e semelhança, com os seus piores defeitos e nenhuma das virtudes que a humanidade no seu incessante progresso se tem encarregado de criar. É por isso que Deus é cruel, vingativo, misógino, ignorante e feroz.

O dever dos homens e mulheres civilizados é desmascarar as religiões e os clérigos que as parasitam. O Estado moderno, laico e democrático, é um dique contra a superstição e a ignorância que o clero perpetua e as religiões se esforçam por aprofundar.

O Diário Ateísta continuará a defender os seus pontos de vista de acordo com a visão de cada colaborador, com o respeito devido à Constituição da República Portuguesa e o apreço que lhe merece a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

24 de Junho, 2005 Ricardo Alves

Livros para as férias

Aproxima-se, para a generalidade dos habitantes do hemisfério norte, a época de uma merecida pausa no trabalho, libertando espaço para a vida privada e o lazer. Um dos meus rituais prévios à partida para férias consiste em escolher alguns livros para ler. Deixo aqui algumas sugestões para ateus, ateias, agnósticos, livre-pensadores, laicistas e curiosos, escolhidas entre as edições mais recentes.
  1. O «Traité d´athéologie: physique de la Métaphysique» de Michel Onfray tem feito furor nos meios ateístas franceses. O autor, que é filósofo, milita por um ateísmo hedonista, não niílista, e procede, neste livro violentamente blasfemo e abertamente anti-religioso, à crítica dos três monoteísmos (judaísmo, cristianismo e islão), salientando o que têm em comum: o ódio à razão, à liberdade, às mulheres e à sexualidade, e a defesa da fé, da obediência, da submissão e da castidade. (Ler algumas citações.)
  2. Em «Freethinkers: A History of American Secularism», Susan Jacoby demonstra que os EUA foram fundados na separação do Estado e das igrejas e que sempre existiu uma forte corrente secularista norte-americana que incluiu figuras como Thomas Jefferson, John Adams, Thomas Paine e Robert Ingersoll, corrente essa sempre influente em progressos sociais como a abolição da escravatura, a defesa do ensino do darwinismo, ou o direito à contracepção. Um livro importante num momento em que o carácter originalmente laico dos EUA se encontra pervertido por um cristianismo proselitista.
  3. Henri Peña-Ruiz é o principal filósofo da laicidade nosso contemporâneo. O seu livro mais recente, «Histoire de la laïcité: Genèse d´un idéal», traça a história do ideal laico, ou seja, o avanço progressivo da ideia de igualdade de tratamento entre aquele que crê no céu e o que não crê, por um Estado sem religiões reconhecidas nem ateísmo de Estado, pela defesa de uma esfera pública consagrada ao interesse geral e não às guerras de identidades.
  4. Num início de século em que o Islão está no centro das atenções e das reflexões, vale a pena ouvir o que têm para dizer os apóstatas que abandonaram esta religião. A mais célebre de entre eles é a deputada holandesa de origem somali Ayaan Hirsi Ali, da qual foi publicado recentemente «Insoumise». Hirsi Ali foi excisada aos cinco anos, educada numa escola wahabita, e aos 22 anos abandonou a família para escapar a um casamento arranjado. Esta ateia corajosa tornou-se famosa após ter colaborado com Theo Van Gogh no filme «Submissão», devido ao qual este realizador holandês foi assassinado.
  5. Outra visão pouco abonatória do Islão pode ser encontrada em «Why I am not a Muslim», de Ibn Warraq. O autor analisa os mitos fundamentais do Islão, e discute a hipotética compatibilização desta religião com os direitos humanos, a democracia e a laicidade. Ibn Warraq está ligado ao Institut for the Secularisation of Islamic Society.
  6. Infelizmente, nenhum destes livros (que eu saiba) está traduzido em língua portuguesa. (Algum editor se voluntaria? Peña-Ruiz e Onfray, por exemplo, fazem muita falta.) No entanto, encontram-se traduzidos dois livros de Chadortt Djavann («Abaixo os véus!» e o que pensa Alá da Europa») sobre a polémica do véu islâmico em França.
24 de Junho, 2005 Palmira Silva

Submissão II

A deputada holandesa Ayaan Hirsi Ali, que escreveu o argumento da curta-metragem «Submissão – Parte I», sobre a repressão sofrida pelas mulheres no Islão, afirmou à BBC que pretende continuar os planos originais e filmar a sequela do filme, não obstante o perigo envolvido em tal propósito.

De facto, «Submissão» foi a causa do bárbaro assassinato do realizador Theo Van Gogh, morto em Novembro último por um fundamentalista islâmico e a razão porque até hoje Ayaan Hirsi Ali continua rodeada de rígidas medidas de segurança. Mas para a parlamentar não realizar a continuação do filme «Recompensaria os assassinos de Theo van Gogh, recompensaria a violência, sugerindo que (os terroristas) conseguem impor às pessoas o comportamento que querem que estas apresentem».

Assim, Hirsi Ali pretende cumprir os objectivos do filme, «colocar uma lente nos detalhes dolorosos do Islão».

Detalhes nos quais está incluído que, como consequência da realização deste filme, com ou sem continuação, a vida desta holandesa nunca retornará à normalidade, perseguida até à morte pelos fanáticos islâmicos, tal como ainda acontece a Salman Rushdie pela publicação em 1989 dos «Versículos Satânicos». Mas segundo ela, «Independentemente dos riscos, vou fazer o filme, para mostrar que não nos devemos submeter à violência».

E considera que «É o que acontece – quando, como muçulmano, alguém afirma que não é muçulmano ou afirma algo que os radicais consideram apostasia, então eles acreditam que matar essa pessoa os levará para o Céu. Por isso vou viver, para lhes provar que não existe Céu – ou Inferno, já agora».