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Dia: 18 de Junho, 2005

18 de Junho, 2005 jvasco

Teocracia iraniana em alta

Nas eleições presidenciais do Irão havia três candidatos favoritos, dos quais dois passariam à segunda volta se nenhum deles conseguisse mais de 50% dos votos. Um reformador, um conservador, e um ultra-conservador.
Com a palavra «conservador» não me refiro ao termo que usamos na política europeia, mas sim ao facto de defenderem as instituições e a manutenção da teocracia islâmica, ou até o seu reforço.

Hoje foi um dia triste para a liberdade religiosa e para o povo iraniano, pois os apurados para a segunda volta foram Akbar Hachemi Rafsanjani e Mahmud Ahmadinezhad: o conservador e o ultra-conservador.

A Teocracia no Irão é para continuar…

18 de Junho, 2005 Palmira Silva

O regresso do Malleus Maleficarum

Algumas das práticas de tortura preconizadas pelo Santo Ofício da Inquisição. Entre outras não representadas pode-se observar na gravura, de cima para baixo, para além da morte na fogueira ou por enforcamento, técnicas como exposição das vísceras, quebra e fractura de ossos, açoitamento, decapitação e amputação das mãos.

A polícia inglesa têm as mãos cheias de casos de abuso e tortura de crianças relacionadas com exorcismos de supostos feiticeiros/bruxos.

Ontem foi revelado oficialmente que a polícia e os serviços sociais investigam mais cinco casos de abuso de menores relacionados com práticas de exorcismo. Uma fuga de informação revelou ainda dados de um relatório da polícia metropolitana que investiga tortura de menores por razões religiosas. O relatório, obtido por um jornalista da BBC, indica que há inúmeros pastores e igrejas, em Inglaterra, na Europa e em África, a explorar e potenciar de forma abjecta a superstição dos crentes. Superstição encorajada pelas autoridades eclesiásticas de todas as confissões cristãs!

Nomeadamente revela a existência de uma rede de tráfico de crianças com um fim abominável: são trazidos de África rapazes não circuncidados para serem sacrificados em altares de seitas que acreditam conseguirem «magias» poderosas com o assassínio destas crianças.

O relatório, despoletado pelo assassínio de outra bruxa de oito anos, Victoria Climbié, identifica ainda inúmeros casos de exorcismos de menores realizados por sectos cristãos fundamentalistas, exorcismos estes que resultam na tortura e muitas vezes morte das infelizes crianças consideradas possuídas pelo demo. Igrejas fundamentalistas como a Igreja do Combate Espiritual, envolvida recentemente num caso de tortura de uma «bruxa» de oito anos.

O espírito cristão medieval tão exaltado pelo finado João Paulo II e pelo actual papa regressa em todo o seu «esplendor». Aparentemente muitos cristãos consideram ainda em vigor a bula Summis Desiderantes, que «constatando» que «muitas pessoas de ambos os sexos abandonaram a fé e se entregaram aos demónios, incubi e succubi» «decretamos que os ditos inquisidores tenham poder de para proceder à justa correcção, apresamento, e castigo de qualquer pessoa.»

18 de Junho, 2005 jvasco

O Reino dos Céus

Tal como o «Código da Vinci», o filme «O Reino dos Céus» também é uma obra massificada que feriu muitas susceptibilidades cristãs.
Vi este filme pouco depois de ter estreado.

Centrado no século XII, e na época das cruzadas, «O Reino dos Céus» conta a história de um simples ferreiro que se torna cavaleiro e herói, salvando a população de Jerusalém de uma pilhagem que poderia ser devastadora.

Antes de ver o filme, sabia que o realizador era o Ridley Scott (não é propriamente um dos meus realizadores favoritos), que a temática era medieval (umas das minhas temáticas favoritas) e que era uma grande produção.

Tendo visto o filme verifiquei que, não sendo propriamente um marco «na história do cinema», é um filme agradável e interessante. Recomendo que, depois de ver o filme, se veja este artigo da wikipedia ou se faça alguma pesquisa na internet, para verificar que partes do argumento do filme são fiéis à história, e que partes surgiram apenas da fértil imaginação dos argumentistas

Como vêem, as conclusões são muito semelhantes às relativas ao «Código da Vinci», mas as parecenças não terminam aí…

E sobre o ateísmo?
O filme está muito longe de ser uma perspectiva ateia sobre o que nos rodeia. O filme parece imerso num apelo à espiritualidade, e embora não ataque directamente qualquer posição mais materialista ou racionalista, entendemos facilmente que os argumentistas pretendem transmitir um sentimento, de alguma forma, religioso.

No entanto, procurando opiniões sobre o filme, facilmente constatamos que muitos cristãos sentiram que o filme era um verdadeiro ataque que lhes era dirigido. Um dos casos com mais relevo terá sido o da CBN (Christian Broadcast Network), com mais de 2000 estações de rádio e 36 canais televisivos cristãos. Na página da rede que dedicaram à crítica do filme, é possível textos como este (do qual dei conta via Barnabé):

Se a Igreja se deixar enganar […] vamos voltar ao velho problema de estarmos cheios de ódio por nós mesmos; de toda a gente ter de viver em harmonia; de toda a gente ter de se esquecer das suas raízes religiosas; e temos de parar de tentar evangelizar e parar de tentar mudar os muçulmanos e temos de lhes pedir desculpas. Chegados a esse ponto vamos pelo cano abaixo e caímos nos braços de uma religião corrompida e demoníaca.» [in “Thoughts on ‘The Kingdom of Heaven’: A Discussion with Dr. Ted Baehr by Craig von Buseck”]

E porquê toda esta histeria? Porque as várias acusações (por parte de várias fontes diferentes) do filme «atacar o cristianismo»? Ser «contra a Igreja»?

A crença, por parte de vários cristãos, de que «O Código da Vinci» e «O Reino dos Céus» são ataques à Igreja, é preocupante e assustadora. Não pela susceptibilidade que revela, mas pela estreiteza de perspectivas, pelo horror à pluralidade.
Depois de ver algumas críticas furiosas a este filme, é mais fácil ter noção da quantidade de gente que considera ofensivo relembrar o passado; e da quantidade de lavagens revisionistas que por aí polulam.

18 de Junho, 2005 Carlos Esperança

Exorcismo que correu mal

Um sacerdote ortodoxo crucificou uma freira romena, com a ajuda de outras três freiras, por estar possuída pelo demónio.

Durante o exorcismo, terapêutica corrente para tal moléstia em várias religiões cristãs, a crucificada Maricica Cornici, do mosteiro de Tanacu, no nordeste da Roménia, não resistiu ao tratamento.

A religiosa, antes de entregar a alma, foi amarrada a uma cruz, privada de água e comida durante três dias e amordaçada.

O pio sacerdote declarou à polícia que, sob o ponto de vista religioso, tinha procedido correctamente. Até missas rezou para salvá-la.

Desconhece-se se o demo abandonou a freira com tão vigoroso exorcismo ou se sobreviveu às pias intenções que puseram termo à vida da jovem de 23 anos.

A polícia, pouco dada à cultura bíblica, acusa o padre e as freiras de crime, enquanto o Patriarcado romeno se mantém em silêncio até conhecer melhor o facto.

Coisas do demo.