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Dia: 23 de Abril, 2005

23 de Abril, 2005 pfontela

O defensor

Bento XVI o mais recente papa, tão louvado por alguns sectores católicos, foi acusado de ter intencionalmente ignorarado, durante 7 anos, as queixas contra o frade Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo. O frade em questão é acusado de abusar de nove jovens que estudavam no seu seminário durante as décadas de 40, 50 e 60 mas a abonar em seu favor tem o facto de ter sido um amigo pessoal de João Paulo II – prova de inegável virtude.

Quando em 1997 John R McCann, bispo de Nova York, enviou ao então Cardeal Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, uma carta aberta redigida pelo frade Juan Vaca (uma das nove vítimas que acusam Maciel) o exaltado Bento XVI, perdão, o cardeal Ratzinger (quase me esquecia da transformação mística que ocorre quando alguém se torna papa) não fez nada. Rigorosamente nada. A atitude deste servo do Senhor foi reconhecer que recebeu a carta e guardá-la num lugar remoto e escuro no Vaticano.

Quando questionado sobre a sua posição sobre o assunto Ratzinger sempre se mostrou evasivo e deu a entender que não considerava «apropriado» que se fizessem tais perguntas. Quando um repórter americano, de nome Brian Ross, teve a coragem de tocar no assunto levou uma palmada de reprovação na mão (literalmente) – o que provavelmente explica a atitude da ICAR em geral e de Ratzinger em particular face aos crentes, infantilizados como crianças retardadas que se portam de forma marota. Mas, numa ocasião em que resolveu quebrar o silêncio sobre o assunto, as suas palavras foram: «Não se pode pôr em julgamento um amigo pessoal do papa como Marcial Marciel».

Em Dezembro passado foi finalmente iniciada uma investigação do Vaticano sobre as queixas. Mas não se pense que houve alguma alteração na posição Ratzinger. Tudo não passou de uma manobra para aumentar a suas hipóteses de ser eleito papa, já que tendo a sombra de proteger abusadores a pairar no ar poderia diminuir de forma substancial a probabilidade de ser eleito.

Em suma, Bento XVI apresenta-se sem dúvida alguma como o defensor das tradicionais virtudes do Vaticano. Ainda bem que existe um homem destes preocupado com o estado moral do mundo e com a «ditadura do relativismo».

23 de Abril, 2005 jvasco

Explicando os casamentos homossexuais

Que a ICAR seja contra o casamento homossexual, que se recuse a prestar o sagrado matrimónio a crentes homosexuais, e que garanta que as relações homossexuais são um pecado com direito ao Inferno, é legítimo.
Claro que é uma posição homofóbica, triste, intolerante. Mas se acreditam realmente nisso, estão no seu direito de tomar aquela posição.

Mas que a ICAR seja contra que o Estado case homossexuais, sejam estes católicos ou não, faz tanto sentido como quererem obrigar os cidadãos a ir à missa! Sem tirar nem pôr! Eles acreditam que os homosexuais casados vivem em pecado, tal como acreditam que um crente que não vá à missa comete um pecado. Mas não têm nada que procurar alterar as leis para evitar que os cidadãos não tomem as decisões por si.

Quando vejo alguns crentes a comentar a posição da Igreja sobre a lei espanhola (ver os comentários do pertinente artigo Começou… do Blasfémias, e destes esclarecimentos adicionais no Da clara ilicitude de uma organização…), fico com a sensação que ainda não entenderam esta distinção.

23 de Abril, 2005 Ricardo Alves

25 de Abril em Lisboa com a ARL

A Associação República e Laicidade irá associar-se às celebrações do 25 de Abril em Lisboa, participando no desfile na Avenida da Liberdade.
O ponto de encontro é a estátua a Camilo Castelo Branco, no final da Avenida Duque de Loulé, quase na praça do Marquês de Pombal. Às 15 horas.
Todos os associados e simpatizante são convidados a participar.
23 de Abril, 2005 Palmira Silva

Ciência e religião

«Apenas acrescenta factos ao teu conhecimento (…)
Assim não estarás perdido ao deixar esse paraíso,
pois possuirás um paraíso muito maior dentro de ti,
uma felicidade muito maior
»
John Milton, Paraíso Perdido

Os seres humanos apresentam uma apetência inata por explicações, por respostas aos muitos «porquês» que a observação do mundo que os rodeia causam. Esta é certamente uma das razões que explica porque a religião se difundiu tão universalmente, já que a maioria das religiões oferece, ou oferecia, respostas concludentes para praticamente tudo: desde cosmologia, biologia, física, química até, claro, à indispensável «teoria» da criação. Neste sentido a religião poder-se-ia considerar como ciência, já que esse é também o objectivo da Ciência, explicar todos os fenómenos físicos numa associação tão completa quanto possível. Mas a metodologia de ambas não poderia ser mais diversa e a religião é, quanto muito, um paradigma da má ciência, já que não se baseia em conhecimento ou observações mas sim em «revelações» improváveis de entidades não fisicamente observáveis.

Assim no século XXI todo o conhecimento concreto e real pertence à ciência; e todo o dogma quanto ao que ultrapassa o conhecimento definido, pertence à teologia. A teologia pretende que os cientistas são incapazes de descrever a Natureza, pelo facto de descartarem causas sobrenaturais e de desígnio insondável nas suas explicações.

Nos últimos tempos temos assistido a uma guerra surda entre as autoridades religiosas (e totalitárias) e a ciência, achando as primeiras que os cientistas dever-se-iam coibir de opinar sobre assuntos que contrariam os muitos dogmas religiosos, para além de deverem restringir os objectos de investigação a assuntos com os quais estas autoridades concordassem. A investigação em células estaminais ou a reprodução assistida destacam-se neste aspecto, já que os religiosos de várias confissões pretendem que determinados conhecimentos são restritos a Deus e que a ciência não pode investigar nessas áreas nem manipular técnicas que são da competência divina.

Para a Igreja Católica em concreto a verdade só pode ser revelada através da palavra divina, incompreensível para o homem, e a ciência, completamente fora do controle da Igreja, é um inimigo a anatematizar:

«Uma aceleração sem precedentes do progresso científico (…) a parcialidade contraditória das respostas oferecidas pela ciência moderna geram desorientação existencial e cultural entre os jovens e não só entre os jovens. O pensamento frágil, que se difunde rapidamente proclamando os dogmas da dúvida, do cepticismo e do relativismo radicais, produz personalidades frágeis, homens e mulheres que desistem da procura da verdade. Aumenta a diferença entre ética e pesquisa científica, aumenta o risco que a ciência, em vez de ser aliada do homem, se transforme numa ameaça para toda a humanidade» foram as palavras dirigidas pelo Arcebispo Stanislaw Rylko, em 31 de Março de 2004, ao oitavo Forum Internacional dos Jovens sobre o tema «Os jovens e a universidade: testemunhar Cristo no ambiente universitário».

O finado Papa, já tinha avisado que «A revelação cristã é a verdadeira estrela de orientação para o homem, que avança por entre os condicionalismos da mentalidade imanentista e os reducionismos duma lógica tecnocrática» na sua encíclica Fides et Ratio. Realçando que a ciência sem fé, resultou no «positivismo» e no «cientificismo», no «humanismo ateu» e em todas as «pragas» dos tempos correntes que João Paulo II jamais deixou de invectivar contrapondo como exemplo os piedosos «cientistas» da Idade Média.

Neste contexto, a ciência, completamente incompatível com quaisquer revelações divinas, é extremamente perigosa para a fé já que pode dar respostas satisfatórias sobre os «mistérios» da vida e prova que estes conhecimentos não são exclusivos à omnisciência divina, o que quer que isso seja. E prova também que algumas das «verdades absolutas» que se contrapõem à «ditadura do relativismo» são apenas rematados disparates.

Por isso não é de estranhar que o início do pontificado deste novo Papa tenha sido pautado pela denúncia desta dita «ditadura do relativismo», ou seja, supremacia da razão e ciência em detrimento do totalitarismo da fé, pois, como afirma o jornalista e escritor espanhol Juan Arias «Ratzinger não pediria perdão à ciência pelas perseguições durante a Inquisição. Ele acha que é o mundo moderno que tem de pedir perdão à Igreja».

23 de Abril, 2005 Palmira Silva

Premonição ou Espírito Santo de orelha?

A nota pastoral debitada pelo cardeal Patriarca de Lisboa por alturas da Páscoa causou à época muita celeuma por o digno prelado ter entendido ser essa a altura apropriada para esclarecer um certo mau-estar relacionado com as circunstâncias em que decorreu o funeral do Dr. Nunes de Almeida.

Como terceira figura do Estado, o funeral do presidente do Tribunal Constitucional mereceu honras de Estado, que, no nosso País apenas laico no papel, decorreu na Basílica da Estrela. Como maçon, Nunes de Almeida tinha deixado expresso o seu desejo de ser velado segundo os ritos maçónicos, que decorreram numa capela adjacente à Basílica de Estrela.

Seis meses depois, o Cardeal Patriarca «apressou-se» a esclarecer que «Um católico, consciente da sua fé e que celebra a Eucaristia não pode ser mação». Porque a Maçonaria faz parte do conjunto de correntes de pensamento que «se baseiam na razão como fonte da verdade» e que acreditam «no carácter absoluto da liberdade individual».

Depois da eleição na passada terça-feira de Joseph Ratzinger interrogo-me se o ilustre cardeal português, que muitos especulavam ser um provável sucessor, teria tido uma premonição sobre as orientações do seu futuro Papa sobre o tema.

De facto, a opinião do actual Papa sobre a Maçonaria está explicitamente indicada em vários documentos emanados da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, ex- Santo Ofício da Inquisição, a que presidia. Que sem margem para dúvidas indicam:

«Permanece portanto imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçónicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem às associações maçónicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão.»

Certamente que a Opus Dei e os Legionários de Cristo secundam e aplaudem tal disposição doutrinária…