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Dia: 9 de Abril, 2005

9 de Abril, 2005 Carlos Esperança

A aldrabice da fé e a fé de um aldrabão

Um dia andava Deus na sua divina ociosidade e pensou em seu pensamento: «O Diário Ateísta diz mal de Mim e dos empregados que tenho em comissão de serviço no planeta Terra». E o senhor Deus, habituado à ociosidade, com pouca imaginação, pensou, pensou e nada lhe ocorreu para pôr cobro à liberdade de expressão. Apenas sentiu um desejo de vingança para fazer jus às características com que os homens o criaram.

Passou então pelo Céu o Papa recém falecido, curvado das genuflexões, com um odor pestilento a incenso, a rezar continuamente, e o Senhor lhe disse: «acaba lá com essas rezas e deixa-me pensar». E, enquanto o senhor Deus continuava no penoso sacrifício de pensar, lembrou-se o Papa recém falecido de perguntar o que apoquentava Deus.

Foi então que Deus pensou fazer uma viagem de Vespa (uma moto muito popular nos anos sessenta do século passado) e lhe disse: «Arranja-me uma Vespa». Como o Papa era muito piedoso e julgava que Deus era o criador do Céu e da Terra queria ir buscar-lhe algo mais precioso e pediu a um Papa mais antigo que ajudasse a demover o Senhor de um pedido tão modesto e o convencesse a pedir algo de mais valioso.

Quando o Senhor viu o Papa recém falecido acompanhado do Papa mais antigo, exclamou: «Como estás senil! Pedi-te uma Vespa e trazes-me uma besta!». Nisto, o senhor Deus lembrou-se de que uma besta era o que lhe convinha. Não podendo mandar à Terra um cadáver com muitos anos, por causa do cheiro e do aspecto, lembrou-se de uma besta muito devota, que vivia em Portugal, e deu-lhe a seguinte inspiração:

«Vai ao Diário Ateísta, usurpa a identidade e o endereço dos colaboradores e confunde os visitantes. Não preciso de dizer o que hás-de escrever. És suficientemente néscio para não precisares de mim. Os ateus não se deixam enganar mas os crentes confundem-se e continuam a acreditar que Eu existo». E o estulto foi e fez o que o Senhor lhe disse. E ainda julgou ouvir:

«Em verdade, em verdade te digo: bem-aventurados os pobres de espírito».

9 de Abril, 2005 Carlos Esperança

O legado de João Paulo II

A morte não é a benzina que apaga as nódoas. Não é falta de respeito criticar Hitler, Stalin, Franco, Mussolini, Pio IX, Khomeini, Brejnev, Salazar ou João Paulo II. Como não será crime condenar amanhã Pinochet, Saddam ou Bin Laden.
A bondade das pessoas não está à mercê dos decretos pontifícios ou das opiniões dos poderosos. A voz pública não coincide obrigatoriamente com a que se publica.

Após o último comício realizado sob os auspícios de JP2 que, nem no funeral, prescindiu dos banhos de multidão com que alimentou o narcisismo e promoveu a religião que administrava, há multidões de órfãos que em breve ultrapassarão o luto com o novo «pai» que os cardeais, iluminados pelo Espírito Santo e influenciados pelo Opus Dei, lhes vão arranjar.

Contrariamente ao meu amigo e companheiro do Diário Ateísta, João Vasco, não registei no longo e autoritário pontificado de JP2 aspectos positivos. No entanto, há coisas boas que deixa – uma igreja monolítica que, após o autoritarismo, tem tendência a desagregar-se; santos em tanta quantidade que vai ser fácil desmascarar o passado pouco glorioso e recomendável de muitos deles; milagres a rodos cuja puerilidade vai fazer corar de vergonha os crentes pensantes; o ressentimento dos teólogos e dignitários católicos que amordaçou e cuja pressão vai destapar a panela fechada por JP2, com a ajuda da Cúria.

JP2 foi um misto de estrela pop e de aldrabão de feira. Virou os holofotes todos para si. Foi o eucalipto que secou tudo à sua volta. Veremos como os próximos tempos serão tempo de desagregação e de lutas dentro da ICAR. Nem tudo é mau, de facto.

O erro que mais frequentemente se comete é ver em JP2 o Papa do diálogo ecuménico. Ele não procurou reconhecer a verdade dos outros, apenas tentou hegemonizar a sua. Nunca defendeu a liberdade de crer e de não crer, só quis o regresso a um tempo em que era perigoso não acreditar. Desde a morte de Pio XII que a ICAR nunca mais tinha proibido um livro. Voltou a censura com JP2. Ele nunca foi um arauto da liberdade, apenas foi um adversário de alguns tipos de ditaduras. O pretenso diálogo não resultou da bondade e da tolerância, estabeleceu-se na base dos preconceitos misóginos, autoritários, homofóbicos e de ânsia do poder clerical. Foi isso que aproximou os clérigos das religiões do livro em luta contra o livre-pensamento e a laicidade.

JP2 deixa uma Igreja mais medieval, supersticiosa, fanática e troglodita do que a que herdou de João Paulo I, papa durante 33 dias, falecido na sequência do anúncio da fiscalização das contas do Banco do Vaticano, piedosamente chamado IOR (Instituto das Obras Religiosas). Alguém pergunta por que razão JP2 se negou a extraditar o arcebispo Marcinkus, presidente do IOR e arguido na falência do banco Ambrosiano? Quanto pagou o Vaticano por essa monumental burla e por que razão defendeu o cúmplice? Quem deu o dinheiro para as grossas indemnizações e acabou por tornar-se prelatura pessoal de JP2? Ou deveria o papa falecido chamar-se «(J)P-2»?

9 de Abril, 2005 jvasco

Sabotagem da livre-expressão

O Diário Ateísta existe há cerca de ano e meio, tendo vindo sempre a crescer significativamente. Até agora sempre mantivemos um sistema de comentários no qual não existia qualquer forma de censura. Crentes, ateus e agnósticos diziam tudo o que queriam, faziam as críticas que achavam devidas, participavam com mais ou menos nível. Gostaria tanto que o civismo de todos os participantes fosse, pelo menos, o suficiente para manter esse sistema indefenidamente…

No entanto, é triste que um comentador sem escrúpulos tenha decidido prejudicar o debate a todos. Alguém que não sabe argumentar, que não é capaz de exprimir os seus pontos de vista, mas que fica revoltado com a expressão daqueles que são diferentes dos dele, decidiu, em toda a sua intolerância, quebrar as regras mínimas que permitiam o diálogo entre todos.

Assim sendo, começou a assinar os seus comentários como «Carlos Esperança» e «Ana», para que todos pensassem que as ignomínias que escrevia eram da autoria de um membro do nosso blogue e de uma comentadora frequente.

É uma pena que nem todos saibam lidar com a liberdade de expressão.