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Dia: 8 de Abril, 2005

8 de Abril, 2005 jvasco

O lado positivo do legado de João Paulo II

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Existe um lado positivo no legado de João Paulo II.

Não custa nada dizê-lo, e seria errado não o esperar. Afinal ele foi o líder de uma das mais poderosas instituições do planeta, com um impacto tão grande no resto da humanidade, que ao longo do seu longo pontificado fez muitas coisas boas e muitas coisas más. Afinal de contas, ao contrário daquilo que vários cristãos evangélicos acreditam, o Papa não é o anti-Cristo.

Então porque é que nós, os autores deste blogue, nunca escrevemos isso mesmo?
Pela minha parte, que até agora não escrevi nada sobre o Papa, desde que morreu, vejo uma razão óbvia: não é preciso. O lado positivo do legado de João Paulo II tem sido repetido até à exaustão pelos meios de comunicação social, numa fúria revisionista Orwelliana, esquecendo todos os aspectos negativos do seu legado.

É por essa razão que, neste blogue, se têm referido exclusivamente os negativos. Por uma questão de equilíbrio, de reposição da verdade, de ver ambos os lados da moeda. Queremos ser livres pensadores.

Não negamos, portanto, que João Paulo II tenha feito coisas positivas (um exemplo é a sua contribuição assinalável para o diálogo inter-religioso, que acaba por ser, indirectamente, uma contribuição louvável para a Paz)
Mas queremos que se fale sobre tudo: as coisas boas e as coisas más.

Queria deixar isto bem claro.

8 de Abril, 2005 Carlos Esperança

O gozo de Deus

Deus, a julgar pelo que dele dizem os padres, deve andar eufórico a rebolar-se de gozo no Paraíso. Já não lhe bastava a companhia das almas que conseguiu antecipar com terramotos, guerras e doenças que enviou à Terra, teve ainda o brinde suplementar de receber recentemente alguns dos seus filhos mais dilectos.

Fique o Paraíso onde ficar, já lá chegou a Irmã Lúcia, de quem a mãe de Jesus era visita frequente, o Papa JP2 que a comunicação social transformou num santo homem e o príncipe Rainier III que governou o Mónaco 55 anos sem ter de suportar o incómodo jacobino de eleições.

Por outro lado, a comunicação social rendeu-se aos encantos do cadáver do representante de JC na Terra. Exibiu tantos cardeais que fez da púrpura a cor da moda; ouviu tantos bispos e monsenhores que transformou a voz da ICAR na voz do povo; transmitiu tantas missas, orações, terços e novenas que o mundo trocou o trabalho pela oração e a razão pela fé.

A força da ICAR fez sentir-se nas excursões de devotos que se dirigiram a Roma com o zelo dos muçulmanos em relação a Meca. A ansiedade de tocar o ataúde do Papa polaco foi tanta quanto a sofreguidão dos judeus ortodoxos às marradas no Muro das Lamentações.

Há muito que não se gastavam tantas velas com um só defunto, que o barulho dos sinos não azucrinava tanto os tímpanos, enfim, há muito que Deus não incomodava tanto. Nós, os ateus, ficámos siderados com tamanha devoção. Quatro milhões de devotos a caminho de Roma, em homenagem ao Papa, ultrapassaram os três milhões de portugueses que rejubilaram com a vitória de um tal Castelo Branco num concurso educativo da TVI – «A Quinta das Celebridades» – canal que piedosamente foi concedido ao Patriarca de Lisboa e que as vicissitudes do mercado levaram, então, à falência.

Antigamente a ICAR convertia os relapsos com a ameaça do Inferno e o temor dos autos-de-fé. Hoje, atrai-os com o brilho dos espectáculos fúnebres que encena com meticulosa e garrida coreografia. São dois mil anos de manha posta ao serviço da sobrevivência e da conquista do poder. Deus, na sua inexistência, é um mero pretexto para o êxito do negócio.

8 de Abril, 2005 Carlos Esperança

A morte de Rainier III

A morte de JP2 prejudicou gravemente a projecção mediática de outro espectáculo fúnebre encenado para Rainier III.
O Diário Ateísta não pode deixar de registar a morte de «um príncipe de direito divino», como o próprio se considerava.
Não surpreende que, na ausência da democracia, quem manda se desculpe, admira que quem obedece aceite a justificação.

O Mónaco é um país a fingir onde o príncipe defunto tinha o poder a sério. Autoritário e carrancudo conseguiu fazer-se amar pelos súbditos (na monarquia não há cidadãos) a quem proporcionou um raro bem-estar graças à indústria bancária e aos lucros dos casinos, especialmente o de Monte Carlo.

É natural que um príncipe de origem divina tenha transformado o Mónaco num Paraíso…fiscal. Deo juvante (Com a ajuda de Deus) – divisa familiar dos Grimaldi -, governou os sete mil monegascos (cerca de 20% dos habitantes do principado) cujo bem-estar depende da falta de escrúpulos com que afluem dinheiros de origem duvidosa de todo o Planeta.

O Príncipe, grande amigo de JP2, de quem recebeu uma bênção especial poucos dias antes do abençoador e do abençoado morrerem, foi sempre um excelente católico, temente a Deus e cumpridor dos sacramentos. Deus, por sua vez, pagou-lhe a devoção em numerário pelo que deixa uma enorme fortuna.

Os filhos, Carolina, Alberto e Stéphanie, além da sólida educação católica, sofreram marcada influência das hormonas. Assim, além da eucaristia, que sempre frequentaram, não se furtaram aos prazeres da carne. A igreja e a enxerga alternaram, a piedade e a libertinagem conviveram e uma das filhas preferia ter no quarto o guarda-costas ao oratório.

Nota: O catolicismo é a religião de Estado no Mónaco de acordo com a Constituição de 1962, em vigor.