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Dia: 31 de Março, 2005

31 de Março, 2005 Palmira Silva

Terri Schiavo

Chegou ao fim o drama que empolgou os media de todo o mundo e reacendeu a discussão sobre o direito a morrer com dignidade. Terri Schiavo faleceu 13 dias depois de a sonda que a alimentava ter sido desligada.

Quer o porta voz do Vaticano, Joaquin Navarro-Valls, quer o Padre Frank Pavone, director da organização americana Padres pela Vida, consideraram a cessação da manutenção assistida da vida vegetativa de Terri como um assassínio. Em relação a este último, o advogado de Michael Schiavo considerou «inquietantes» a «destilação de ódio e o julgamento extremamente duro» do seu cliente debitados pelo prelado, considerações não despiciendas uma vez que um alucinado defensor da vida já ofereceu um quarto de milhão de dólares pela morte de Michael.

Mais um tema que me mistifica: a total incoerência de uma religião que considera que os homens se estão a imiscuir indevidamente nos «desígnios» divinos quando investigam os «mistérios» da vida com técnicas como clonagem, manipulação de células estaminais ou recorrem a técnicas de reprodução assistida, que querem proíbidas, mas por outro lado declara criminoso que os frutos dessas técnicas abominadas não sejam utilizados para manter artificialmente o invólucro de alguém que como pessoa morreu há mais de 15 anos!

31 de Março, 2005 Carlos Esperança

Notas piedosas

Bíblia – O Evangelho segundo Judas foi descoberto e será publicado daqui a um ano. São reduzidas as probabilidades de adulteração do texto pois escapa ao controlo do Vaticano. Este Evangelho é um, entre várias dezenas, considerado apócrifo. O concílio de Niceia, em 325, aceitou só os quatro que, depois de retocados, pareciam ter menos incongruências. Mas foi o Concílio de Trento, em que a ICAR ainda se revê com saudade, que estabeleceu definitivamente o que passou a ser a verdade obrigatória.

Moscovo – Um tribunal condenou o director da exposição «Cuidado com a Religião». Dois organizadores da exposição cujo título revela já intenções pedagógicas, vítimas de uma atitude de franca censura à arte, sofreram pesadas multas. Por sua vez, os cristãos ortodoxos que, em zelo beato, vandalizaram quadros, viram o seu processo «encerrado por ausência de crime».

EUA – As leis que regulam o sexo, a violência e a obscenidade nas estações de rádio e televisão, têm tendência a agravar-se sob pressão da cruzada moralista que grassa nos ambientes religiosos do fundamentalismo moralista. A Comissão Federal para as Comunicações é o cão de guarda dessa moralidade asfixiante que ameaça salvar a alma e fazer retroceder a civilização. Há medo na comunicação social americana.

Vaticano – Os cardeais tentaram, uma vez mais, obrigar o Papa a falar, apesar da traqueotomia e de alimentado por uma sonda naso-gástrica. Foi desolador e indescritível o sofrimento, divulgado por televisões de todo o mundo quando o içaram à janela do apartamento. Claro que não conseguiu falar. O terrorismo eclesiástico atinge níveis bárbaros, próprios da inquisição. Não surpreende que lhe imponham a eucaristia nem que tenham de passar-lhe a hóstia pela varinha mágica e lha administrem pelo tubo.

Tolerância cristã – [«Se o teu professor de Biologia te quiser ensinar o que é a Evolução» … Processa-o! Foi isto mesmo que disse Dennis Baxley, promotor da nova lei da Florida, EUA, que permite que os alunos processem professores «ditadores de esquerda» [sic], que ofendam as suas crenças religiosas, nomeadamente explicando os processos de Evolução das espécies. Contra o «totalitarismo de esquerda» [sic], eis as trevas religiosas] – lê-se em «Renas e Veados».
Mais pormenores no The Independent Florida Alligator – à atenção dos ateus e profanadores, segundo piedosa recomendação da Palmira que o Boss certamente apoia.

31 de Março, 2005 Ricardo Alves

Laicizar a escola pública

A Associação República e Laicidade dirigiu uma carta à Ministra da Educação relatando que vários professores, alunos e pais de alunos constatam quer a presença de crucifixos em salas de aula e outros locais de escolas públicas, quer a realização de rituais religiosos no horário escolar e envolvendo alunos. A ARL elaborou um dossiê que documenta alguns destes casos.
A Constituição da República Portuguesa estabelece que «o ensino público não será confessional», e a Lei da Liberdade Religiosa, apesar dos seus muitos aspectos negativos, precisa que «ninguém pode (…) ser obrigado a professar uma crença religiosa, a praticar ou a assistir a actos de culto, a receber (…) propaganda em matéria religiosa». As situações reportadas serão, consequentemente, ilegais.
Não há portanto lugar na escola pública para as missas de comunhão pascal que tantas vezes aí se realizam, com o objectivo confesso e declarado de catequizar os alunos e até de os incentivar a seguirem a carreira sacerdotal, como assumiu há poucos dias o arcebispo Jorge Ortiga numa missa numa escola de Caldas das Taipas. Os crucifixos que se vêem afixados por tantas escolas do país configuram também uma situação de imposição de propaganda religiosa a alunos que têm o direito de ter outra religião ou nenhuma, mas que sobretudo devem encontrar na escola um espaço de aprendizagem e saber e não de dogmatismo e crença.
A laicização necessária do ensino público depende de nós e também dos leitores do Diário Ateísta, que são convidados a reportar abusos de que tenham conhecimento para [email protected]. Esperemos que a Ministra da Educação saiba honrar o cargo que ocupa e que envie uma circular às escolas repondo a legalidade.