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Dia: 17 de Fevereiro, 2005

17 de Fevereiro, 2005 Carlos Esperança

A Igreja Maná e as eleições legislativas

Os parasitas de Deus organizados em torno da Igreja Maná questionam a utilidade das eleições e aconselham a inutilização do voto, através de uma cruz no respectivo boletim.
A cruz é, de facto, o instrumento de tortura que sabem usar. Propô-lo contra o regime democrático é um acto de devoção e uma manifestação clerical com que os bandos de inúteis exploram a superstição, cobram o dízimo, ameaçam com o inferno e procuram subverter uma sociedade livre e democrática.

Em alternativa, este bando de malfeitores propõe: «Faça de Deus a sua fonte – Mateus 6:33» e «exija aos políticos e governantes os seus direitos», provavelmente o direito de viver em ditadura sob a vontade de Deus interpretada por um marginal que enriquece à sua custa – o apóstolo Jorge Tadeu.

Este proxeneta de Deus, fundador da Igreja Maná, informa que, pessoalmente, ele não vota, mas aconselha os seus fiéis a usarem o voto nulo, para não poder ser aproveitado de forma fraudulenta, possível com o voto em branco. De facto, a fraude seria possível se a indignidade cívica, a ausência de ética e a prática de um crime estivessem na cabeça dos cidadãos, que tornam possível o acto eleitoral, como está na cobardia mística do apóstolo que está a transformar uma Igreja de vão de escada num empório comercial.

A proposta do bispo Tadeu «é uma forma de envergonhar o governo e todo o sistema que não está a ser correcto para com o povo português». Para o pregador da bíblia é o sistema democrático que o incomoda, não vendo em nenhuma força partidária o direito e a legitimidade para dirigir o País. É a atitude de um clérigo que beneficia de um sistema que gostaria de abolir se fosse maioria, que não reconhece ao povo direitos de cidadania mas apenas obrigações religiosas. A delinquência mística é incompatível com a democracia. Já o padre católico da igreja de S. João de Brito o demonstrara com uma opção diferente.

Bendita corja. Santa Mafia.

17 de Fevereiro, 2005 Ricardo Alves

Fátima e o fascismo

São muitos os revisionistas que pretendem branquear o papel da ICAR durante o Estado Novo. É portanto pertinente recordar a Carta Pastoral «Transformação consoladora: Portugal ressurge do seu abatimento», escrita pelos bispos portugueses em 1942, para assinalar os 25 anos dos acontecimentos de Fátima.
«Quem conheceu as ruínas do primeiro quartel deste século, quem viu atirar ao edifício sagrado das crenças antigas o camartelo demolidor, quem ouviu os gemidos dos proscritos e sentiu ao vivo a desolação que pairava na casa de Deus, e vê agora como das ruínas se vão erguendo arrojadas construções, quem vê de novo entrar na escola o nome de Deus, quem vê restabelecidas as relações normais com a Santa Sé e assente o estatuto jurídico da Igreja, numa ordem nova que não afronta ninguém, mas faz justiça às tradições cristãs de Portugal, quem vê o desenvolvimento, que bem podemos chamar ressurreição, das missões católicas nas colónias e no Padroado [do Oriente], não pode deixar de sentir uma funda impressão de surpresa e de exclamar “digitus Dei est hic”-“aqui está o dedo de Deus”. Sim, passou sobre nós a mão de Deus, e passou sobre nós, porque passou no meio de nós a Mãe de Deus. E, se levantarmos os olhos do passado doloroso que acabamos de evocar e os fixamos no presente, contemplando o panorama internacional, a nossa surpresa sobe de ponto. Uma trágica cinta de fogo e de sangue envolve o mundo; as nações do velho e do novo continente estremecem batidas pela catapulta da guerra; (…) reina a desolação e a miséria em países ainda ontem prósperos e poderosos; e no meio desta convulsão universal, deste tremendo naufrágio do mundo que se diria civilizado e progressivo, a pequenina nau portuguesa continua a singrar serena e confiante, como se o vulcão destruidor se não tivesse desencadeado e não açoitasse impiedosamente sobre os mares. Como explicar tão grande portento?

Seria injustiça desconhecer a acção vigilante e patriótica dos nossos governantes, bem dignos da gratidão do país pela prudência e pelo zelo com que procuram manter-nos afastados da guerra; mas a situação é tão delicada, tão imprevistas as complicações, tão enevoado o horizonte diplomático, que sem um auxílio especial do céu baldados seriam todos os esforços. É grande de mais a procela para que forças humanas a possam debelar. Bendizendo pois as canseiras daqueles que devotamente zelam pelo bem público, temos que buscar mais alto o segredo da bênção misteriosa que as valoriza e lhes garante a eficácia.

Haverá algum português com fé que não reconheça na nossa situação privilegiada um revérbero daquela luz que a Santíssima Virgem veio trazer a Fátima, que fez incidir na alma dos pastorinhos e por eles sobre o mundo? Não é necessário ter fé; basta contemplar o que em tudo isto há de extraordinário para sentir e reconhecer que um poder mais alto se levanta e um coração terno e misericordioso vela amorosamente por Portugal. (…)»

O outro lado da questão pode ser considerado lendo os excertos seguintes da intervenção de Salazar numa conferência da União Nacional, em 1949.
«Portugal nasceu à sombra da Igreja, e a religião católica foi desde o começo elemento formativo da alma da Nação e traço dominante do carácter do povo português. Nas suas andança pelo mundo – a descobrir, a mercadejar, a propagar a fé – impôs-se sem hesitações a conclusão: português, logo católico. (…) A adesão da generalidade das consciências aos princípios de uma só religião e aos ditames de uma só moral, digamos, a uniformidade católica do País foi assim, através dos séculos, um dos mais poderosos factores de unidade e coesão da Nação portuguesa. Portanto factor político da maior transcendência; e por esse lado nos interessa.
(…)
Neste montão de escombros materiais e morais, a Concordata de 1940 deve ser considerada, no domínio religioso, como a reparação possível das espoliações passadas e a garantia da liberdade necessária à vida e à disciplina da Igreja, ao exercício do culto e à expansão da fé. Mantendo o princípio da Separação como mais consentâneo com a divisão dos espíritos e a tendência dos tempos, ela dá à Igreja a possibilidade de se reconstituir e mesmo de vir a recuperar por tempos o seu ascendente na formação da alma portuguesa. Sob o aspecto político, a Concordata pretende aproveitar o fenómeno religioso como elemento estabilizador da sociedade e reintegrar a Nação na linha histórica da sua unidade moral
Dois lados da mesma moeda?
17 de Fevereiro, 2005 André Esteves

O Kitsch da Fé

Aparentemente sou um ser fracturado espiritualmente.
Todos os dedos das minhas mãos têm estados espirituais diferentes!

Se a minha cabeça é racional e diz que as religiões não passam de um embuste e auto-engano por parte dos outros, o meu coração chama por altos píncaros de transcendência.
E o que dizer dos meus pés? Eles que aguentam com o peso do meu corpo, 100 exigentes quilos, pedem paciência e obstinação num protestante dia-a-dia . O baço, esse, fica-se pelo absurdo da vida e o fígado reclama por libações a baco, em desejos de morte libertadora. Os pulmões e o diafragama fartos do tabaco, reclamam por ascetismo e deixam-me com soluços em protesto. As partes pudendas, essas… Queriam um cartão dum clube de troca de casais, e os intestinos devem ser fundamentalistas, pois tratam tudo o que lhes for estranho como merda.

Tudo isto, porque experimentei os anéis da foto.
Decididamente, tenho que passar a usar luvas, para conseguir atingir algo próximo a um estado laico.

Os milagres da «Nova Era» conseguem-se graças às maravilhas dos novos materiais. Nada como um cristal líquido sensível ao calor, para mostrar o estado espiritual de uma pessoa. Se está quente de fé, de raiva ou de desejo, não há distinção. Só na hora da compra é que não se demonstrou muito esclarecimento.

Viva o novo mercado da fé! Onde as crenças são como as modas. Trocam-se na primavera e no inverno. Tal como os estados de espírito e o tempo que faz lá fora.