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Dia: 7 de Fevereiro, 2005

7 de Fevereiro, 2005 Carlos Esperança

Notas piedosas

Lisboa – O padre Loreno, pároco da Igreja de S. João de Brito, apelou durante uma homilia, para que os católicos não votem em forças políticas que admitam a legalização da interrupção voluntária da gravidez, o divórcio ou o casamento de homossexuais.

Os partidos políticos devem requisitar a Igreja para fazerem comícios e garantir o pluralismo.

IRAQUE – Os líderes xiitas querem o islão na Constituição do Iraque. O Papa queria o cristianismo na Constituição Europeia. São massa da mesma farinha a cujo terrorismo intelectual só a laicidade pode fazer frente.

Bósnia-Herzegovina – O islão radicalizado ganha terreno entre os muçulmanos. O mesmo fenómeno demente se passa nos EUA com o fundamentalismo metodista que inspira os neo-conservadores e com o catolicismo romano que contamina as sociedades seculares da velha Europa.

Indonésia – Está em debate um novo código penal que considera crime o adultério, as uniões de facto e… os beijos em público. Se o novo código vier a ser aprovado já se sabe que o islão ganha mais uma batalha rumo ao obscurantismo.

7 de Fevereiro, 2005 Palmira Silva

Momento Zen de Segunda

Segunda-feira é um dia em que, com um frémito de antecipação, saboreio o meu momento zen semanal com a coluna de opinião de João César das Neves. Por vezes o referido autor desilude-me e em vez de um momento zen tenho de contentar-me com uma pausa Kit Kat já que a sua opinação de segunda (feira, claro) não é contaminada com as mais absurdas elucubrações de cariz religioso.

Mas hoje, sob o tema «A clivagem escondida das eleições», o professor não me desiludiu. Os momentos altos do texto do fazedor de opinião do Diário de Notícias são «As recentes eleições americanas mostraram bem o que outros países também confirmam as ‘guerras culturais’ são a grande batalha do nosso tempo. O que separa hoje as pessoas não é já o regime político, sistema económico ou estrutura social. A verdadeira luta doutrinal trava-se na definição da família e do direito à vida. A contestação de valores seculares situa-se agora nos elementos mais nucleares da humanidade.» que nos indica que o professor considera que a refutação dos valores seculares são a ‘guerra’ do século no sentido de regressarmos ao passado em que os dogmas da Igreja de Roma faziam a letra da lei. Ou seja, a luta do século, para este ilustre spin doctor, cujo beato de eleição parece ser o pio Pio IX que condenava veementemente os erros da modernidade, como a liberdade de opinião e expressão, é a abolição da laicidade do Estado, o regresso aos tempos em que a Igreja ditava os destinos das nações e, quiçá, o regresso aos gloriosos tempos da Inquisição em que eram silenciados os que não comungavam dos ditames da Igreja de Roma.

Somos ainda mimoseados com pérolas de raciocínio, pejadas de falácias como é habitual e caracteriza o estilo único de JCN, neste caso em que a conclusão iguala o comunismo e a defesa de temas «fracturantes» como o aborto, a eutanásia, o divórcio e a homossexualidade: «A liberdade de abortar e a diversificação do casamento parece hoje tão moderna como há umas décadas pareceu a sociedade sem classes. Aliás, os que hoje atacam a família e a vida são exactamente os mesmos que há uns anos defendiam a ditadura do proletariado.»



Adenda
: João César da Neves foi pronunciado e vai responder em julgamento por difamação. No despacho da juíza do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Lisboa, segundo o comunicado da Opus Gay que interpôs a acção, pode ler-se que a opinação do professor da Universidade Católica no Diário de Notícias, «ultrapassa largamente os meros artigos de opinião» e «O arguido equivale os actos homossexuais ao crime de pedofilia, refere que os recentes casos de pedofilia são todos, mesmo todos, homossexuais, equipara os homossexuais com drogados e considera-os doentes». Certamente que as vozes do costume vão carpir esta «perseguição» dos católicos, erguer-se em acusações de novas Inquisições, em suma, proferir os dislates de vitimização a que já nos habituaram!

7 de Fevereiro, 2005 Carlos Esperança

Fátima – altar da fé, em regressão

A religião é um embuste grosseiro que alimenta poderosas máquinas clericais, obscuros interesses privados e redes de cumplicidades que atravessam o globo.

Sob a capa untuosa de um clero que finge defender a paz e promover a harmonia, jogam-se poderosos interesses e definem-se estratégias globais de conquista do poder.

Há quem pense que as religiões são um mal necessário, que são como as armas nucleares cujo equilíbrio do terror impede uma guerra global. Mas enquanto os Estados não têm disparado as armas nucleares contra os seus cidadãos, as religiões espalham o obscurantismo, o medo e as ameaças entre os crentes e incitam o ódio, a guerra e a violência contra os infiéis.

À medida que a instrução e a ciência avançam, as religiões definham mas agravam a sua virulência e, no desespero, a agressividade e o ódio que devotam à liberdade, à democracia e ao livre-pensamento.

Nos últimos dias temos assistido à mais violenta e sinistra ofensiva da ICAR contra o Governo de Espanha e à tentativa desesperada de virar o povo contra os seus órgãos legítimos. Até o referendo à Constituição europeia, cuja abstenção fomentou, lhe serve para promover o divórcio entre as camadas mais embrutecidas da população e o Governo legítimo.

À azia que o clero transporta depois de ter abençoado o casamento de uma plebeia divorciada com o príncipe herdeiro, com pompa e circunstância, junta agora a brotoeja que lhe provoca o casamento de homossexuais, a liberdade religiosa e o uso do preservativo. A Cúria romana reagiu como se a grande nação ibérica fosse ainda um protectorado sob o domínio de um rei absoluto dominado pelo confessor católico.

Em Portugal, um comportamento discreto e dissimulado foi a regra até à assinatura desse aborto e abuso clerical que é a Concordata. A partir de agora a chantagem vai aumentar. À medida que a clientela se afasta, o acréscimo de poder e as exigências de visibilidade vão aumentar. A luta contra a maçonaria é um primeiro ensaio de uma guerra mais vasta contra os sectores laicos, agnósticos e ateus.

Sirvam de consolo os revezes eclesiásticos na conquista de novos clientes. Fátima, o supermercado da fé católica, a maior superfície de oração em Portugal, não deixou de perder peregrinos desde 2000, data da última visita do Papa JP2, derradeiro esforço de marketing para manter e aumentar a clientela. Em 2004 teve menos meio milhão de peregrinos apesar de aumentarem os grupos organizados pelas agências turísticas. O mercado da fé, no que diz respeito aos peregrinos, retraiu-se em cerca de 10%, no último ano. Mesmo as actividades de lazer místico (terço, adoração, procissão das velas, laudes, vésperas) sofreram uma razoável retracção. As próprias maratonas de joelhos (populares exercícios sado-masoquistas) vão perdendo praticantes.

Não há só más notícias.