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Dia: 17 de Janeiro, 2005

17 de Janeiro, 2005 Carlos Esperança

Notas piedosas

Filipe Scolari – O treinador de futebol conhecido por ter introduzido o pai-nosso no plano de treino da selecção portuguesa, após ter tomado conhecimento da sobrevivência de um menino indonésio de sete anos, durante 19 dias, após o maremoto, usando apenas a camisola da selecção portuguesa, declarou: «o menino que usava apenas a camisola da selecção, usava mais que isso: tinha no corpo a bandeira de Portugal. A forma como aconteceu mostra mais uma vez que Deus é grande. Que Deus existe».

Pergunta: O Deus que salvou esta criança será o mesmo que matou e estropiou centenas de milhares de vítimas?

Penitenciária Apostólica – Não se trata de uma casa de reclusão para promover o proselitismo, como parece indicar o nome. Deve-se-lhe a publicação de um decreto onde se explica o «dom da Indulgência Plenária durante o ano da Eucaristia», lançado por JP2 em Outubro passado. Assim, quem participe «com atenção e piedade» em actos de culto e veneração para com o Santíssimo Sacramento, como a missa ou a adoração eucarística, arrecada Indulgências Plenárias.

Na mesma altura, numerosas empresas comerciais anunciaram agressivas campanhas de vendas com fortes descontos e aliciantes ofertas. Esta época é fértil em promoções.

Espanha – «Setenta e quatro Bispos espanhóis vão explicar ao Papa a situação nas suas dioceses, num momento de particular tensão nas relações entre a Igreja Católica e o governo socialista de Zapatero» – informa a Agência Ecclesia. Os prelados vão reunir-se com o Papa em audiências privadas e públicas. O aborto, a legalização dos casamentos homossexuais e o ensino da Religião nas escolas públicas são os problemas que levam os bispos a queixar-se ao capataz de Deus, sediado no Vaticano.

Muito sofrem os bispos com os governos democráticos.

17 de Janeiro, 2005 Aires Marques

Ateus, estrelas num céu sem Deus.

Amanhã, terça-feira dia 18, irá ocorrer o próximo meetup de ateus, no café Magnólia, dentro da Valentim de Carvalho, no centro comercial Residence, em Lisboa, às 19:30. A SIC estará presente para filmar o evento e solicita-se desde já a todos os ateus que façam a sua aparição em corpo presente. Nesta fase de gestação da Associação Ateísta Portuguesa é crucial mostrar ao público ateu que representamos os seus interesses e os do mar silencioso de ateus que salpica todo o Portugal.

A incrição para o Meetup pode ser feita em http://atheists.meetup.com/

Mesmo que não se inscrevam apareça! Traga um amigo, a sogra, um filho, uma prima, uma tia.

Sejamos muitos, sejamos grandes, sejamos estrelas cintilantes na televisão, a iluminar o país e os corações dos portugueses na luta contra o obscurantismo.

Ateus, até amanhã.

17 de Janeiro, 2005 jvasco

Transcendentalidade

Com meia dúzia de raciocínios lógicos, podemos facilmente pegar nos pressupostos e crenças das religiões mais conhecidas e chegar a meia dúzia de contradições.

Os crentes, que não gostam que se classifique as suas crenças como contraditórias ou irracionais, costumam repetir que essas crenças não atentam contra a razão: estão para além da razão.

Assim sendo, é neste contexto que adoram usar a palavra «transcendentalidade». Algo transcendental é algo que nos ultrapassa, que ultrapassa a nossa razão. Assim sendo, onde algum amante da lógica e da coerência vê uma contradição crassa, o crente vê uma limitação humana.

O crente precisa apenas desse axioma: «Deus é transcendental». Depois, pode escolher os restantes que quiser, por mais contradições que encerrem, que, a partir daí, ninguém o pode apanhar em contradição – pois nós usamos a lógica humana, e a transcendentalidade de Deus faz com que ela nada valha.

As contradições deixam de o ser, para passarem a ser mistérios. Qualquer semelhança com o «duplipensar» Orwelliano não é coincidência…

Os crentes não entendem que a mesma lógica pode ser aplicada a qualquer coisa. Eu posso mostrar que faz sentido acreditar no Pai Natal, nos Vampiros, nos Motoratos de Marte, de acordo com esse raciocínio. A trancendentalidade é um cartão verde que me permite acreditar em qualquer disparate que queira, protegendo-me das mais esmagadoras evidências de que a minha crença não faz sentido.

Serve para que as pessoas possam ver o mundo como querem ver, e não como ele é.

E para que, vivendo nas ilusões que constroiem, mais dificilmente o tornem num lugar melhor.

Eu prefiro o património civilizacional que me faz acreditar na lógica e rejeitar a trancendentalidade. Deu muito melhores frutos.