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Dia: 11 de Dezembro, 2004

11 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

Blasfemos

Fui hoje alertada para a existência de um «post» do Blasfémias intitulado «Fundamentalismo anti-cristão e a necessidade de trabalhar as almas». Li imediatamente o artigo, em que é citado o nosso amigo Josemaría Escrivá, e fiquei encucada. Será que o colaborador do blogue queria mesmo citá-lo? Será que era mesmo a sério? Pelos comentários que li, a resposta é claramente afirmativa e, como o texto é dedicado ao Diário Ateísta, não podemos deixá-lo sem resposta.

Mas o que, concretamente, se diz? Primeiro que «os inimigos de Jesus – e alguns que se dizem seus amigos -, cobertos com a armadura da ciência humana, empunhando a espada do poder, riem-se dos cristãos como o filisteu se ria de David, desprezando-o». Não me parece que nós, cavaleiros de armadura científica matemática ou social, desprezemos os católicos. O que desprezamos, isso sim, é a instituição reguladora da sua fé. Porquê? Porque é castradora de qualquer tipo de pensamento independente que ponha em causa os seus axiomas. Na verdade, a nossa atitude não pode ser considerada de desprezo – uma vez que não desconsideramos o fenómeno ICARiano -, mas sim uma luta contra os excessos intolerantes defendidos pela hierarquia da Igreja Católica.

De seguida pode ler-se: «o gigante dessas falsas ideologias [o Golias do ódio, da falsidade, da prepotência, do laicismo, do indiferentismo] pelas armas aparentemente débeis do espírito cristão – oração, expiação, acção -, despojá-lo-emos da armadura das suas doutrinas erróneas, para revestir os homens, nossos irmãos, com a verdadeira ciência: a cultura e a prática cristãs.» Aqui estamos perante uma clara afirmação autista de que a única e verdadeira ideologia é a católica e que quaisquer outros valores estão completamente errados, especialmente aqueles que pugnam pela laicidade. Ora, a verdade e «o certo e o errado» são relativos e a laicidade que defendemos entende exactamente isto na medida em que deixa espaço para os indivíduos, de acordo com a sua livre consciência, decidam por si mesmos.

Josemaría Escrivá e a sua obra, a Opus Dei, representam os valores opostos que devem imperar numa sociedade livre e plural como deve ser a nossa. Esta organização «propõe-se promover, entre pessoas de todas as classes da sociedade, o desejo da plenitude de vida cristã no meio do mundo». Mas que vida cristã? Uma vida recheada de flagelos corporais, alienação da família e outras práticas deveras questionáveis. Uma vida pautada por indicações e interesses que vão para além do espiritual. Uma vida sem liberdade, especialmente de pensamento.

Não, nós não lutamos contra crentes. Nós lutamos para que todos, crentes ou não, tenham a oportunidade de seguir o seu caminho livres e esclarecidos. Se lutar pela Liberdade é fundamentalismo, então, de facto, somos fundamentalistas… orgulhosamente fundamentalistas.

11 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

Não à chantagem religiosa

A intolerância religiosa que aflora um pouco por toda a Europa é um vírus que urge ser debelado. Não se trata de um epifenómeno exclusivo de grupos minoritários ou de uma única religião, começa a ser uma pandemia que alastra a todos os credos e compromete largas camadas de crentes.

Diariamente chegam ecos de violência religiosa, de comportamentos perversos oriundos de guetos «comunitaristas» onde, a coberto da cultura e da tradição, se cometem os mais infames atropelos aos direitos humanos, especialmente contra mulheres. Desde a excisão aos assassinatos em nome da honra, conceitos tribais fazem escola numa Europa cuja secularização parecia ter vencido os preconceitos medievais.

A própria ICAR, que desde 1961 deixou de actualizar o Índex (catálogo de livros cuja leitura interdita), voltou a recorrer à obsessão demente de influenciar a legislação dos países onde tem expressão, tentando impor a crentes e não crentes os seus preconceitos.

No Reino Unido um grupo islâmico ordenou a morte de Terrence McNally, autor da peça «Corpus Christi», por apresentar Cristo como homossexual e alcoólico. Acresce tratar-se do fundador de uma seita concorrente que, para os muçulmanos, não passa de um profeta de segunda categoria. Aos ateus pouco interessa a vida sexual de Cristo e, muito menos, a quantidade de copos que ingeria, mesmo que algumas das suas máximas se afigurem proferidas sob o efeito do álcool.

Na peça, Cristo aparece seduzido por Judas e crucificado por ser homossexual. Se esta versão correspondesse à verdade só havia que respeitar a orientação sexual do «divino mestre» e repudiar a crueldade e injustiça do castigo, desse ou doutro qualquer. Permitir ameaças de morte a quem exerce a liberdade de expressão, por quem defende a pena de morte para o adultério e a blasfémia, é resignarmo-nos ao regresso à barbárie, ao retrocesso da civilização, à renúncia aos direitos, liberdades e garantias que a democracia conferiu aos homens e mulheres dos países civilizados.

11 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

Parabéns renófilos

Renas e Veados

O Renas e Veados festeja hoje o seu aniversário. O Diário Ateísta felicita toda a equipa renófila pela sua obra que muito tem contribuído para uma maior iluminação da sociedade portuguesa.

11 de Dezembro, 2004 pfontela

«Cristianovitimização»

Desde há uns tempos para cá o Vaticano anda a fazer pressões mais ou menos discretas para conseguir aprovar dentro das instituições internacionais, como a ONU, um novo termo: a «cristianofobia».

Achando que o facto de o judaísmo e o islamismo terem referências específicas na lista da ONU era uma espécie de tratamento preferencial, o Vaticano exige a igualdade com as outras religiões do livro.

Há vários aspectos interessantes nesta exigência:

– O Vaticano não consultou nem os ortodoxos nem os protestantes sobre esta medida, sendo que está a fazer a campanha por conta própria, falando por todos os cristãos do mundo (como nos bons velhos tempos) – mas apesar de não terem sido consultados os protestantes americanos mostram-se muito satisfeitos pois, como bem sabemos, o meio rural americano é intrinsecamente agressivo ao cristianismo.

– Ao mesmo tempo que quer negar direitos a outros (o caso mais escandaloso é o das minorias sexuais), fazendo pressões e acordos (com o diabo?) para que as votações vão no sentido que lhe interessa, exige os mesmos direitos para si mesmo, arrogando-se de minoria em vias de extinção.

Eu sou pela liberdade da e de religião, acho que todos devem poder adorar quem e o que quiserem, e entendo que em certos países (como a Índia ou a China) ser cristão não é fazer parte do status quo e que tais medidas podiam ter um efeito positivo, mas o que eu acho revoltante, e não posso de forma alguma tolerar, é que um grupo que discrimina e promove o abuso de outros tenha o descaramento de vir propor tal medida. Antes de reclamarem protecção internacional se calhar era boa ideia deixar a hipocrisia de lado e olhar para o próprio umbigo.

11 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

Os bons samaritanos

No próximo dia 17 de Dezembro, o Vaticano apresentará uma nova fundação, denominada «O Bom Samaritano», cujo objectivo é ajudar os doentes mais necessitadozinhos, especialmente os que têm sida.

A Santa Sé quer uma instituição aberta a todos os que pretendem ajudar os doentes com sida em África. «Queremos que seja uma instituição que englobe toda a Igreja católica permanecendo fiéis aos nossos ideais prioritários em relação à doença, que são antes de tudo a prevenção e a assistência ao doente», disse o cardeal Lozano Barragán, presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde.

E quais serão as actividades promovidas pela fundação? A habitual educação aos valores cristãos de fidelidade, com grande relevo para a castidade, a fidelidade conjugal e a abstinência sexual.

Não há quaisquer informações sobre se a fundação irá canalizar alguns dos recursos da ICAR para a investigação científica de uma possível cura ou vacina definitivas contra esta doença ou mesmo para uma educação isenta e correcta que permita aos indivíduos evitarem o contágio.

11 de Dezembro, 2004 Palmira Silva

Panaceias e sicofantas

A Athenaeum Pontificium Regina Apostolorum vai oferecer aos padres católicos um curso especial «teórico e prático» em satanismo e exorcismo, de forma a melhor os equipar para o que é descrito pela Igreja como um interesse preocupante no oculto demoníaco.

A descoberta há uns meses dos corpos de dois membros da banda «Beasts of Satan», assassinados no que foi descrito como um rito satânico foi assim convenientemente aproveitada pela santa Igreja para corroborar a sua pretensão da existência real do Mafarrico. De facto, o ritual exorcista foi alterado em 1999, pela primeira vez desde os velhos tempos da Inquisição, em 1614.

A Igreja de Roma tenta assim perpetuar o Senhor das Trevas, a sua invenção mais bem conseguida no passado para dominar os fiéis através do medo e para justificar as mais abjectas práticas, que reclamavam ser dirigidas não a pessoas mas a servos do Demo.

Como nota para meditar, a Regina Apostolorum é uma instituição, dita universitária, privada, sustentada pelos Legionários de Cristo e pela Regnum Christi, fundadas pelo padre mexicano Marcial Maciel Degollado, uma «máquina» de angariação de fundos para a Igreja de Roma, sobre o qual pendem há décadas inúmeras acusações de abuso sexual de menores. Todas elas ignoradas pelo Vaticano, que não quer hostilizar uma das suas mais bem conseguidas fontes de rendimento. Em vez de se preocupar com demónios imaginários, a ICAR devia reflectir sobre o «demónio» bem real da pedofilia no seu seio!

Sobre Maciel ler «Vows of Silence: The Abuse of Power in the Papacy of John Paul II», de Jason Berry e Gerald Renner e uma análise do livro no National Catholic Reporter.