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Dia: 17 de Novembro, 2004

17 de Novembro, 2004 Ricardo Alves

«Deus» como utensílio

O Timóteo decidiu «responder aos ateus» num texto em que anuncia, de entrada, ir explicar-nos porque acredita em «Deus».

Infelizmente, passa os primeiros dois terços do texto a desconversar, dizendo-nos que «o mais importante é o amor», como se o cristianismo fosse alguma crença da «Nova Era», celebrada com florzinhas e canções à guitarra, e baseada em crenças vagas nalguma «energia cósmica». Como sabemos, nenhuma das variantes cristãs, mesmo as mais pós-modernistas, se baseia no «amor». O cristianismo funda-se, que eu saiba, na crença de que viveu há cerca de dois mil anos, no Médio Oriente, um indivíduo («Cristo») que teria morrido e «ressuscitado», violando assim a segunda lei da Termodinâmica (género uma lâmpada fundida voltar a funcionar)…

Mas voltemos ao Timóteo. No último terço do texto, tira do bolso o seu grande argumento para a existência de «Deus»: uma «moral laica» será sempre uma «moral» sem «fundamento transcendente» (correcto) e portanto uma «noção fraca de moral» (errado) porque fundada na sua «utilidade social». Logo, decide que «Deus» tem de existir porque sem «Ele» não haverá «moral absoluta». Ou seja, o argumento de Timóteo para a existência de «Deus» é puramente utilitário… Timóteo só acredita em «Deus» porque necessita dele para fundar uma moral absoluta que propicie o «amor». «Deus» é, para ele, um utensílio.

Quanto à questão (interessante) de saber em que se deve fundar a ética, penso que o problema passa por assumirmos: (1) que não devemos fazer aos outros o que não gostaríamos que nos fizessem; (2) que devemos abstermo-nos de fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem mas que sabemos que os outros podem não desejar que lhes façam; (3) e que devemos fazer aos outros o que sabemos que querem que lhes façamos (excepto se entrar em contradição com (1)). Claro que estes fundamentos partem da premissa da liberdade individual de a eles aderir. Mas o Timóteo quererá impôr-me uma moral que parte da premissa de ser divina e é portanto autoritária?

17 de Novembro, 2004 Carlos Esperança

Dois santos a caminho de Portugal

A comunicação social e a agência de caserna da ICAR, em Portugal – Ecclesia – anunciaram que JP2 abençoou o processo de canonização dos pastorinhos.

Ontem, de manhã, o padre Luís Kondor, vice-postulador para a canonização dos defuntos pastorinhos, membros recentes do sindicato dos milagres, encontrou-se com o Papa JP2 e concelebraram(*) a santa missa sob a experiente orientação papal.

Depois da celebração eucarística, o padre Kondor, que anda nestes negócios há muitos anos, aproveitou para informar o Papa de que iria fazer a entrega do processo e pediu-lhe a bênção «para que tudo corra bem». JP2 abençoou a documentação e até ofereceu um rosário de madrepérola ao padre Kondor, prova de que a marosca estava combinada.

A partir de agora, com o processo a cheirar a incenso, o cardeal Saraiva Martins, sócio no negócio das canonizações, vai facilitar a abertura do processo. Aliás, o padre Luís Kondor já se deixou descair, em entrevista ao Centro de Comunicação Social do Santuário, de que tudo está combinado com o cardeal Saraiva Martins para que a Congregação para a Causa dos Santos, repartição que dirige, abra o processo já hoje, dia 17.

A pressa na canonização dos pastorinhos deve-se ao perigo de que o actual Papa se apague e não se saber se o próximo continuará a usar os milagres e as canonizações como instrumento do marketing da ICAR.

(*) (concelebrar a missa = celebrar a meias; fazer uma vaquinha).