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Dia: 27 de Setembro, 2004

27 de Setembro, 2004 jvasco

Não me interpretem mal

Não quero fazer campanha por ninguém.

Não quero, com este artigo, defender este ou aquele partido, nem este ou aquele candidato dentro de um partido.

Mas quando vi o teste (bússola) que o público fez aos diferentes candidatos à liderança do PS, achei que uma das secções tinha algum relevo para este blogue. Vou portanto reproduzir essa secção:

27 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

O erro de J. César das Neves

João César das Neves (JCN) regressou às homilias da segunda-feira, no Diário de Notícias. Deixa o Domingo para os padres, muito mais cépticos quanto à existência de Deus, e reserva o dia seguinte para a sua catequização. Que pecados o atormentam ou que misticismo o devora para se dedicar ao proselitismo e querer convencer os incréus da existência do seu Deus?

Que JCN acredite em Deus e na Senhora de Fátima, que exulte com as aparições e se exalte com os milagres, que se comova com o martírio do seu Deus e acredite na virtude da sua Igreja é um direito que encontra em mim um denodado defensor. Mas que queira converter os outros à sua fé, sujeitá-los aos humores do seu Deus, amarrá-los às imposições da sua Igreja, assustá-los com o Inferno, convencê-los das superstições e condená-los à moral importada da Cúria Romana, é um exagero que se desculpa num devoto mas um despautério que arrepia num universitário.

JCN amofinou-se com a afirmação do cientista António Damásio que considera as religiões criações dos homens. Já Dante, na Divina Comédia, quando os homens se queixaram aos deuses, com voz triste, por tê-los criado, pôs os deuses, com voz ainda mais triste, a responderem: «homens para que nos criastes»?

Para contestar o Prof. Damásio, JCN argumenta com o facto de metade da população mundial acreditar numa das três religiões do livro e, se lhe juntar os crentes das outras religiões, apenas 20% não são crentes. E conclui em êxtase místico: «Mostrar com toda a certeza científica, que 80% da Humanidade está errada seria um feito sublime na história do conhecimento». Nem se lembrou de que esse feito foi cometido por Galileu para quase 100% da Humanidade, embora com os dissabores conhecidos.

Tempos houve que mais de 80% acreditavam que o Sol girava à volta da Terra e que esta era plana. Estou de acordo com JCN que foi um feito sublime – e perigoso – provar (nestes casos com percentagem bem maior) que 80% da Humanidade estava errada. E era Deus quem revelava uma atroz ignorância.

Com o seu argumento JCN concluiu – e bem – que a ignorância é a melhor prova da existência de Deus, embora não fosse essa a sua piedosa intenção.