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Dia: 26 de Setembro, 2004

26 de Setembro, 2004 jvasco

1984



Imagem gentilmente cedida pelo Francisco Burnay, da lista de discussão

Ocorreu-me há minutos

Faz cerca de dois anos que li a excelente obra de George Orwell: 1984 – o livro que nos fala sobre o totalitarismo do regime do grande irmão (big brother), falando-nos sobre todos os totalitarismos e sobre toda a opressão.

Mas o livro não se limita a contar a história de um regime tão opressor e esmagador que vigia com câmaras e microfones omnipresentes os movimentos dos membros do partido que mantém o poder. O regime é descrito como implacável e cruel, mas a genialidade do livro (na minha opinião) não está aí.

A genialidade do livro está em descrever a força do regime: refazer a história, manipular a informação e a realidade e, num nível mais avançado, destruir a racionalidade, a lógica e a coerência do pensamento.

Creio que isto é muito verdade: uma sociedade de pessoas incoerentes, de pessoas que respondem apenas às emoções irreflectidas e estímulos do momento, é uma sociedade onde a propaganda pode controlá-las, onde a informação pode ser manipulada, e a realidade das pessoas pode ser “criada”.

Eu, além de me identificar com o ateísmo, identifico-me com o Racionalismo (que é um sistema ateísta). Como uma das grandes qualidades deste sistema, vejo essa: numa sociedade onde ele tem uma aceitação significativa, a ditadura e a opressão são muito mais difíceis, a propaganda é muito menos eficaz, a informação é mais séria a honesta, e a Democracia funciona melhor.

26 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

A ICAR e os acidentes de trabalho

O padre católico de Alkemade (pequena aldeia a 30 km. de Haia) foi condenado em 1997 a um ano e meio de prisão por abuso sexual continuado de uma rapariga de 12 anos. A indemnização de 56.800 euros, reclamada pelos pais da vítima, que certamente recusaram o pagamento em indulgências, foi prontamente paga pela ICAR, para evitar um caso em tribunal e confiante de que a Companhia de Seguros Aegon, a ressarcisse da preciosa quantia, necessária à propagação da fé.

A Seguradora alega nunca ter sido sua intenção pagar indemnizações por semelhantes acidentes, mas tem contra si o facto de em 2001 ter redefinido as condições da apólice e excluído explicitamente o abuso sexual. Por sua vez a ICAR alega – e bem – que o contacto sexual indesejado ocorreu antes de 2001 e deve ser encarado como um «acidente de trabalho», pois teve lugar «durante o horário de trabalho» e «no local de trabalho».

Apostila 1 – A sentença sobre a responsabilidade da Companhia de Seguros no acidente de trabalho está prevista para Outubro.

Apostila 2 – O padre acidentado foi despedido pelo bispo de Roterdão e, após cumprir a pena, regressou discretamente ao ramo, sob os auspícios da fundação Hulp en Recht («Socorro e Justiça»), uma organização ligada à ICAR e que dá apoio às vítimas de abuso sexual cometido pelo clero católico.

Apostila 3 – Os antigos paroquianos ficaram estupefactos ao vê-lo na televisão, um ano após a saída da prisão, como acompanhante de coros religiosos do centro da Holanda.

Apostila 4 – Na sequência dos protestos, o padre foi proibido… de ir à televisão.

Fonte: Revista Única – Expresso n.º 1665 de 25-09-2004 pg. 18.