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Dia: 9 de Julho, 2004

9 de Julho, 2004 jvasco

500 artigos

Este blogue começou há cerca de um ano atrás, e este é o 500º artigo.

E este é o nosso crescimento:

Já agradeci, nas 10000 visitas, aos nossos leitores.

Faço-o de novo, na certeza de que não vos vou aborrecer tão cedo com artigos como este (os números simbólicos ficam agora distantes…).

9 de Julho, 2004 jvasco

Turquia pode dar um passo em frente

Acabei de ler no público que a justiça turca poderá proibir testes de virgindade feitos às mulheres, os quais são muito comuns em zonas rurais e conservadoras.

A fazê-lo, o estado Turco dará mais um passo em frente, no sentido de ter um estado laico, tolerante e desenvolvido. Muito embora seja, de todas as nações onde a religião dominante é o islamismo, aquela em que o estado é mais independente da religião, ainda não se pode dizer que a Turquia é um país laico… Não obstante as reformas constantes, a pressão militar, os focos de desenvolvimento, as influências culturais islâmicas continuam a ter um impacto negativo no desenvolvimento do país. Um exemplo disso são os testes de virgindade referidos. Atente-se nestas palavras desse mesmo artigo:

“Nas culturas islâmicas, a honra da família está depositada nas suas mulheres. Portanto, quando a pureza de alguma delas sai maculada, toda a família fica manchada. O raciocínio dos “crimes de honra” é que, nesse caso, o dever dos homens da família é matar a mulher desonrada. Na generalidade dos países muçulmanos, os juízes consideram esta situação uma atenuante para o crime de homicídio. Por vezes, o assassino pode mesmo não chegar a ser preso nem condenado.

Também se uma rapariga não sangrar durante a primeira relação sexual após o casamento será excluída pelo marido e pela sociedade, podendo até ser morta.”

9 de Julho, 2004 Ricardo Alves

Refutando Tomás de Aquino(3)

O quarto argumento de Tomás de Aquino para a existência de «Deus» é baseado na «gradação» e procede por analogia. Os passos essenciais são os seguintes:

(i) «Entre os seres há alguns mais e menos bons, verdadeiros ou nobres»;

(ii) «Mais e menos» são relativos a um máximo;

(ii’) Da mesma forma que algo é mais ou menos quente comparativamente ao «mais quente»;

(iii) O máximo de cada género de coisa é a causa de tudo nesse género;

(iii’) Da mesma forma que «o fogo, sendo o máximo de calor, é a causa de todas as coisas quentes».

(iv) «À causa do ser, da bondade e de qualquer outra perfeição, chamamos Deus».

Este argumento é tão miserável que dá vontade de rir. Em primeiro lugar, a verdade da analogia não provaria a verdade do argumento em si. Em segundo lugar, tanto a analogia como a substância da pseudo-demonstração estão erradas.

Começando pela analogia(ii’,iii’), não existe um «mais quente» no sentido lógico. É sempre possível aquecer algo mais um grau que seja. Do ponto de vista físico, o limite consistiria em escolher uma partícula «Z», converter toda a massa do Universo em energia, e concentrar toda a energia do Universo na partícula «Z». A temperatura de «Z» seria a temperatura máxima desse Universo. Evidentemente, o «fogo» não corresponde a máximo algum de temperatura. No entanto, existe um mínimo absoluto de temperatura, que corresponde à imobilidade total de todas as partículas num sistema.

Estando a analogia errada, toda a pseudo-demonstração de Aquino pode ser enviada para o cesto dos papéis. No entanto, mesmo que assim não fosse, a argumentação (i,ii,iii,iv) poderia sempre ser refutada separadamente.

(i) Se podem ou não existir máximos de verdade, bondade ou nobreza, é discutível. A «verdade» lógica de uma proposição jamais o é «mais ou menos»; uma proposição ou é verdadeira ou falsa ou indiscernível. Quanto aos valores éticos, mesmo um valor potencialmente absoluto como a vida humana é relativizável (pensemos em tirar a vida a Hitler ou Salazar). O mesmo é válido para a estética.

(ii) «Mais e menos» nem sempre são relativos a um máximo; «4» é mais do que «3», e no entanto o conjunto dos números reais não tem um máximo no sentido lógico.

(iii) Que o máximo de cada género é a causa desse género de coisas é uma afirmação gratuita, sem qualquer base lógica ou científica.

(iv) Não havendo um «máximo», não necessitamos de uma causa.