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Dia: 10 de Junho, 2004

10 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Notas piedosas

Tortura – Segundo o Pentágono, Bush não está sujeito a leis contra a tortura. Neste momento não é só Deus que está isento de prestar contas. Já são dois os inimputáveis e, ambos, com um passado pouco recomendável.

Dia do Corpo de Deus – Parece que 10 de Junho é dia de corpo de Deus. Será dia de lhe darem banho? Perguntei a alguns católicos o que era isso de corpo de Deus e não sabiam. Mas não gostaram da minha sugestão.

RTP 1 – Segundo a Agência Ecclesia ao Domingo é transmitida missa dos estúdios da televisão pública, às 10H00. É altura de perguntar por que exigiu a ICAR a «oferta» da TVI, levando o Governo da época a uma vergonhosa cedência. Depois foi o percurso da sacristia até à sarjeta. A televisão da ICAR começou por um acto de gula e acabou transformada em bordel.

ICAR – Ao deparar-me com o tema «Encontro Matrimonial» (Movimento da Igreja Católica, destinado a casais, sacerdotes e religiosas, temi o pior, quando o vi destinado aos «casais que querem manter viva a sua chama de amor». Não será demasiado promíscuo misturar casais, sacerdotes e religiosas?

Sousa Franco – Após a sua morte os maiores dislates cabem ao PPM (uma agremiação de súbditos do Sr. Duarte Pio) em que os vassalos ultrapassam o mestre. Este naco de prosa do comunicado do PPM é elucidativo:

«Não queremos nem devemos dramatizar, nem tão pouco fazer do Professor um mártir, mas a verdade é que o Professor também deveria fazer parte das pessoas que não cuidava da sua saúde. Provavelmente, não media a tensão há muito tempo. A sua morte já estava prevista».

10 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Concordata não serve

O EXPRESSO de hoje, edição antecipada por causa do feriado, publica em «Correio Azul», com o título em epígrafe, um texto da minha autoria, já editado neste «Diário» com redacção ligeiramente diferente.

Assinalo em itálico o parágrafo não publicado.

O mundo árabe é um exemplo trágico da promiscuidade entre o sagrado e o profano, o que deveria evitar fenómenos de regressão no processo de secularização que se verificou nos países ocidentais e, em particular, na Europa.

É por isso que a Concordata, negociada entre Portugal e a Santa Sé, assume foros de anacronismo. Não se sabe o que ganhará o Estado democrático com ela e sabe-se o que ganhou a ditadura e perdeu a Igreja com a de 1940, para não falar do que ganharam outras ditaduras com idênticas concordatas.

A religião não se impõe por tratados nem a propagação da fé se confia aos Estados. A Concordata, não pode ser um tratado de Tordesilhas que submeta à órbita do Vaticano um país a que a Cúria trace o meridiano.

Esta revisão fere princípios de universalidade e de igualdade de direitos e de obrigações, que a lei geral estabelece e acautela. Acresce que é difícil harmonizar-se com a lei geral na medida em que a Igreja católica apostólica romana (ICAR) exige tratamento especial no que lhe diz respeito e enuncia deveres religiosos como se o princípio da separação não impusesse ao Estado total alheamento.

Por ser bizarro, cite-se o n.º 2 do Art. 15: «A Santa Sé, reafirmando a doutrina da Igreja Católica sobre a indissolubilidade do vinculo matrimonial, recorda aos cônjuges que contraírem o matrimónio canónico o grave dever que lhes incumbe de se não valerem da faculdade civil de requerer o divórcio». Imagine-se que, por dever de reciprocidade, havia um n.º 3 com esta redacção: «A República Portuguesa, reafirmando a doutrina do Estado sobre o casamento civil, recorda aos cônjuges que contraírem o matrimónio civil o grave dever que lhes incumbe de se não valerem da faculdade canónica de requerer o matrimónio religioso».

Ou ainda o n.º 5 do Art. 9, onde se lê: «A Santa Sé declara que nenhuma parte do território da República Portuguesa dependerá de um bispo cuja sede esteja fixada em território sujeito a soberania estrangeira». Será a forma ínvia que o Estado Português encontrou para reconhecer a soberania espanhola a Olivença?

É minha firme convicção de que esta concordata não serve e outra não é precisa.

Talvez só o facto de ter sido assinada apenas entre Durão Barroso e o cardeal Angelo Sodano nos tenha poupado à primeira frase da de 1940: «Em nome da Santíssima Trindade».

10 de Junho, 2004 jvasco

Derrota para a Al-Quaeda

No Público pode ler-se: «A polícia de Milão deteve na manhã de ontem Rabei Osman Sayed Ahmed, conhecido como “Mohammad, o Egípcio”, acusado de ter planeado os atentados de 11 de Março em Madrid.»

Que bom!

A Al-Quaeda é para o século XXI aquilo que as Cruzadas foram para a idade média e a Inquisição foi para o período entre o Renascimento e o Iluminismo: um exemplo sinistro do mal que pode advir do fundamentalismo religioso.