Loading

Dia: 17 de Março, 2004

17 de Março, 2004 André Esteves

Estamos perdidos…

Público: Sampaio: taxas de abandono escolar são “dramáticas”

Desista… Senhor Presidente… num país de professores, doutores e engenheiros não há lugar para o amor ao conhecimento.

Não se aprende. Não se cria. Fazem-se disciplinas e cadeiras.

Quando os próprios conselhos das escolas, seleccionam secretamente as turmas em função da classe social do aluno… Quando os sindicatos corporativistas de professores tentam impedir a todo o custo a avaliação dos seus membros…. Quando o ministério da educação e os seus servos e senhores políticos manipulam programas, concursos e avaliações em jogos de secretaria… Quando o exame e a avaliação contínua são reduzidas a actividades medíocres… Quando se fecham as escolas que tentam usar métodos assertivos, democráticos e responsabilizadores… Quando os pais e filhos cultivam a mediocridade e na incapacidade de controlar a sua própria vida, entregam-na nas mãos de «autoridades»… Quando as gerações não sabem ler, escrever e raciocinar e ser criativas… Quando se usam títulos, uniformes e se controla o acesso aos meios de comunicação social para as classes privilegiadas… Quando ninguém sabe comportar-se numa assembleia-geral … Quando temos universidades públicas e comissões de bolsas que seleccionam subtilmente os acessos a uma «carreira universitária» que consiste em ser professor universitário (sem ensinar, sem investigar, sem…) a mando de lobbies e mafias corporativas… Quando alunos universitários encaram a universidade como uma oportunidade de ficarem bêbedos… Quando em todas as instituições de ensino superior se criam praxes e iniciações para se desenvolver o sentido de grupo corporativo, na exploração dos outros quando acabado o curso… Quando temos uma universidade católica, mantida pelo estado, que cria e descria cursos ao seu bel-prazer, facilita a manutenção do estatuto social de determinadas classes e pessoas e corrompe a concorrência com privilégios e empregos para a tecnocracia reinante… Quando as próprias pessoas que se dizem revolucionárias cultivam a mediocridade, prostituem-se nos próprios problemas e se revêm em visões simplistas do mundo…

Não há nada a esperar, Sr. Presidente…

Estamos perdidos…

Para termos uma sociedade do conhecimento, temos que ter pessoas que gozam com o acto de criação e aprendizagem.

Hoje, só as «elites» o podem fazer… Nos seus grupos corporativos e nas famílias privilegiadas…

E as coisas vão sempre se manter como foram e são…

A verdadeira meritocracia é medida pelo acto.

Sabemos demasiado pouco sobre o talento ou a inspiração para a remetermos a classes ou corporações, a títulos ou a reputações.

O mérito deve ser alcançável por todos, com todos e para todos…

Nunca haverá uma escola livre em Portugal.

Post Scriptum: Num exemplo do mais perfeito escárnio pelo que é a democracia, o conselho directivo de uma escola secundária em Castelo Branco, colocou um processo disciplinar por «ensinar o ateísmo, livre pensamento e satanismo» a um professor de filosofia do 10º ao 12º ano do ensino secundário. Ele limitou-se a responder com um «sim» a um aluno, que na sala de aula lhe perguntou se ele era ateu…

Quem é que serve poderes obscuros e malignos?

Comunicado de imprensa da Associação Républica e Laicidade

17 de Março, 2004 André Esteves

A fé é prenhe de loucura.

(Tradução: 1ºquadrado: Morram infiéis!!!, 2ºquadrado: Meninos do Coro…, 3ºquadrado: Glória a deus!!!, 4ºquadrado: Ah!! Que se lixem!! Vou me tornar num ateu…)

O autor (derf) é um homem singular… O seu sentido de humor absurdo, ácido e irreverente reflecte a sua experiência de nascer, crescer e viver na mó de baixo da sociedade americana. Um autêntico looser (falhado em calão americano). Considero-o o meu «Jack Kerouac» dos quadradinhos. Além disso, já viu muito… Muito mesmo…

Um dos seus amigos de escola era Jeffrey Dahmer. Dahmer cresceu com um pai fundamentalista cristão que o torturava física e mentalmente. A mãe sofria de paralisia cerebral. Sendo um homossexual reprimido, dirigiu os seus desejos de companhia, para a criação de um “autómato” que o satisfizesse. Raptava, seduzia e violava adolescentes, depois furava-lhes os crânios com uma máquina de furar eléctrica e despejava dentro ácido, na esperança de conseguir uma lobotomia… Não o conseguindo, comia os corpos…

Depois de preso, voltou a converter-se e tornou-se um crente fervoroso…

Foi morto na prisão, por outro preso que se considerava o «filho de deus», e que obedeceu ás ordens do «pai», espancando Dahmer até à morte.

A fé é prenhe de loucura.

Uma história dele por Derf.

O retrato do psicopata enquanto ainda humano…

Vale a pena visitar o site de Derf. Se puderem, comprem um comic. Derf está com cancro e ao médico paquistanês que o acompanhava na cura, foi retirada a licença de trabalho por causa do 11 de Setembro… Os médicos emigrantes são mais baratos e Derf terá que se arranjar para pagar um seguro de saúde normal.

Por mais que ele lute, a vida na América parece seguir num só sentido…

17 de Março, 2004 Carlos Esperança

Um ano após a cimeira dos Açores



Um ano após a cimeira dos Açores, Bush e Blair passam a reunir a dois. Perderam o cúmplice espanhol e dispensaram Durão Barroso, encomendando os cafés a uma empresa de catering.

Aznar, após o primeiro ataque das forças aliadas, declarou que “O regime iraquiano consumou o seu desafio à legalidade”. Com toda a razão.

Ficou claro que a ONU era contra a legalidade. Se fosse a favor teria autorizado os EUA a invadir o Iraque. Bush bem se esforçou, como é sabido. O invasor só não respeitou a lei porque não foi alterada. De quem foi a culpa? De Blair, Aznar, Berlusconi e Barroso? Claro que não, foi do mundo que não quis apoiar os libertadores.

Tenho um vizinho acusado de ofensas corporais por ter ido às trombas a um gajo detestável. Não é justo. Sei que é inocente, que só o agrediu, em legítima defesa, porque o outro se pôs a jeito e lhe provocou a paciência.

O advogado que constituiu ao arrepio da jurisprudência de Guantánamo, quer atribuir a culpa ao meu amigo. Eu sou testemunha de que o outro pôs o nariz à frente do seu punho, que desafiou com as mãos nos bolsos, que o trespassou com o olhar.

Mas afinal quem é o agressor, o que desafia parado ou quem se defende em movimento? Quando a agulha pica a costureira ninguém responsabiliza a agulha. Só faltava absolver a parede e acusar o condutor quando um carro se despista.

Há, nas democracias, a lamentável exigência do contraditório como pressuposto da justiça. Se este pensamento deletério fizesse escola acabaríamos por nos pôr ao lado dos índios que enjeitaram a evangelização, absolver os negros que recusavam o degredo e a escravatura, condenar os nazis que concentraram e albergaram judeus, censurar os inquisidores que forneceram lenha gratuita aos hereges.

E, entre um qualquer desconhecido de mau porte e um amigo nosso que embirre com ele, não podemos ficar neutros (parecer do jurista Durão Barroso). Finalmente, entre um deus que sabemos do nosso lado e um deus que suspeitamos estar do outro não podemos vacilar em relação ao verdadeiro.

Há um ano os cidadãos do mercado de Bagdade puseram-se à frente dos mísseis para lhes impedir a cirurgia a que se propunham. Foram eles, iraquianos, os responsáveis pela inutilização dos mísseis. Tal como os jornalistas do Hotel Palestina.

A provar que Deus esteve ao lado dos aliados esteve o facto de terem sido os únicos com direito ao céu. A bordo dos bombardeiros. Para os iraquianos ficou o inferno das bombas inteligentes. Mas deus está visivelmente cansado e já abandonou Aznar. Palpita-me que vai fazer o mesmo aos outros.

P. S. – O carácter obsceno do massacre de Madrid não legitima retroactivamente a invasão do Iraque.

O combate ao terrorismo – necessário e urgente – não pode subverter as regras da democracia.

A vitória do PSOE, em Espanha, é excelente para os que repudiam o carácter provocatório de uma referência religiosa na futura Constituição Europeia.