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Dia: 6 de Março, 2004

6 de Março, 2004 jvasco

Religião: Civilização ou Barbárie – Desabafo pessoal

A tendência de qualquer pessoa é associar o desenvolvimento da Religião à Civilização: os animais não têm Religião, as tribos primitivas têm uns rituaizitos, as sociedades Civilizadas têm Igrejas organizadas e poderosas. Os monumentos religiosos são símbolos de Civilização, e a Religião é um elemento caracterizador de uma Civilização.

Eu sou da opinião que a Religião é sinal de barbárie e de bestialidade.

Pelas razões acima expostas, essa opinião é controversa (não entre os leitores deste Blogue) mas suponho poder sustentá-la com recurso aos seguintes argumentos:

1- A Religião é contrária ao Racionalismo, por ser uma forma de superstição (claro que um indivíduo pode ser Racional e Religioso, tal como muitos Cientistas no passado o foram, mas a Religião não deixa de ser uma forma de superstição, que por definição é contrária ao Racionalismo). O Racionalismo é a “espinha dorsal” da Civilização.

2- A Religião floresce na ignorância, tal como pode ser sustentado por inúmeras estatísticas que relacionam a percentagem de crentes com os índices de analfabetismo. A ignorância é contrária ao Conhecimento, e este sim é um verdadeiro símbolo da Civilização.

3- As instituições religiosas tendem geralmente a querer manter o sistema vigente, de onde costumam contribuir para evitar que os Homens tenham um papel transformador no mundo em que vivem. Essa vontade transformadora é o cerne do “desenvolvimento civilizacional”.

4- A Civilização tende a florescer com o intercâmbio de ideias e produtos entre diferentes povos. A Religião, ao encorajar (na generalidade dos casos) a intolerância e a aversão à diferença, inibe estas trocas.

5- A Religião por diversas vezes encorajou conflitos e guerras: símbolo de barbárie. Apadrinhou opressões e tiranias, que resultaram em castigos e conflitos bárbaros.

A Religião representa parte das nossas reminiscências animais: os impulsos evolucionários racistas, o medo ancestral do que é diferente, o medo do desconhecido e da natureza que nos rodeia, a territorialidade, etc…

À medida que os seres humanos foram evoluindo, foram criando sistemas humanos e civilizados: Escolas e Universidades para compreender o mundo que os rodeia e manipulá-lo, Tribunais para garantir o cumprimento de códigos de Ética que garantissem a Liberdade, Quintas para poder comer sem estar tão dependente daquilo que a Natureza oferece.

Mas a sua Natureza animal não conseguiu impedir que cada um desses domínios fosse corrompido: ao lado das Escolas e Universidades estão Igrejas e Seminários, ao lado dos Tribunais está a Polícia e o Exército, a rodear as Quintas estão as cercas. Qual macaco cheio de verniz, os povos, por irracional desperdício de recursos oportunidades e vidas, continuam a guerrear-se e a odiar-se; a ensinar superstições e rituais às novas gerações, a juntar aos códigos de Ética regras de submissão ao poder instituído. Em suma, o dinamismo dos povos assenta AINDA numa irracionalidade extrema: quais meras formigas, o homem escraviza o homem; quais meras matilhas, perdem-se tribos inteiras numa guerra animal até à extinção; quais meros macacos, continuam a usar-se rituais inexplicáveis sem função social útil.

Nesta batalha entre Humano e Besta, são os ecologistas os humanos, e os “eco-despreocupados” as Bestas: só o nosso lado humano se preocupa pelas consequências que a nossa acção tem no ambiente. Se fôssemos animais, e a nossa acção danificasse o ambiente (e a nós por consequência), acabaríamos por exemplificar a teoria de Charles Darwin e extinguir-nos-íamos. Se os “eco-despreocupados” vencerem esta batalha pelo nosso eco-impacto (elevado ou reduzido; nefasto ou positivo) no planeta, a vida na terra provavelmente sobreviverá (adaptando-se a novas condições), mas nós não. Nós teremos sido uma espécie animal que não alcançou um estádio suficientemente elevado de Civilização para ter REAL consciência dos seus impactos no ecossistema (como nenhum animal tem) e agir em conformidade com isso.

Nesta batalha entre Humano e Besta, houve vitórias do Humano: A imprensa, o Liberalismo, o fim (?) da escravatura, a Física Quântica. Até o 25 de Abril foi uma pequena vitória. É nesta batalha que se situa a batalha entre Ateus e Crentes, entre Democratas e Despóticos, entre Anarquistas e Fascistas, entre Ecologistas e “eco-despreocupados”, entre Idealistas e Conformistas, entre Universalistas e Nacionalistas, entre Cientistas e Místicos, entre a Liberdade de Expressão e a Censura.

Depois das vitórias do último século (fim (?) do colonialismo, derrota do Nazismo, derrota do machismo (?) ) estamos nesta década a sofrer o contra-ataque das forças da irracionalidade. Os povos começam a ser menos Universalistas, mais aguerridos, mais Religiosos, o FMI tem um poder sem precedente e o défice Democrático começa a apresentar-se como um problema, os movimentos místicos recomeçam a ganhar importância, o Idealismo começa a estar “fora de moda”, ao contrário do Conformismo. É PRECISO TER CUIDADO. NÃO podemos perder os bastiões conquistados! Os direitos civis, a Democracia, a Liberdade de expressão, o Laicismo do Estado são fortalezas na fronteira para que se possam atacar as mais desejadas (Paz entre os Povos, Racionalismo, fim da Opressão, Eco-Equilíbrio, etc…), mas mesmo essas ESTÃO AMEAÇADAS.

Nesta mensagem acabei por referir muitos assuntos que não têm tanto a ver com Religião.

Foi um grande desabafo pessoal.

6 de Março, 2004 jvasco

Animações engraçadas

Este link dá para uma página de animações engraçadas. São pequenas sátiras, na sua maioria sem estarem relacionadas com a temática religiosa. Mas aquela que eu apontei está, tal como uma ou outra que por lá andam. De qualquer forma, há muitas outras engraçadas.

6 de Março, 2004 André Esteves

Quem mente? Quem engana? Não é um ateu certamente…

Veio a público, que a organização Juntos pela vida, que faz parte do movimento anti-aborto sancionado pela ICAR, tem distribuído folhetos entre as crianças de vários estabelecimentos de ensino, nomeadamente em colégios católicos.
O conteúdo dos folhetos é aparentemente chocante, demonstrando até que ponto, estão os apoiantes do movimento anti-aborto, dispostos a ir, para criar nas «futuras elites» do país, um terreno fértil para a sua influência.

Aliás, bastará aceder à pagina do movimento Juntos pela vida para descobrir todo um entulho pseudo-científico, de artigos, estudos e citações que transformam o aborto na causa de todos os problemas do mundo, desde o cancro da mama, à violência doméstica. É característica dos «cruzados» não olharem aos meios para atingirem os fins.


A imagem que foi utilizada nos folhetos, faz parte de um mito urbano que corre na internet, há já 3 anos… Trata-se do artista chinês Zhu Yu, que numa exposição de arte «choque» intitulada «Comendo pessoas», se auto-retratou a comer um «feto», que na realidade não passa de um pato assado com a cabeça de um boneco.


Na China comunista, nas fomes dos anos 60, suspeita-se que tenham sido comidas crianças, bem como estranhos que passavam nas estradas das aldeias. Mas a fonte mais persistente das histórias de canibalismo fetal chinês, é ironicamente uma religião. O Taoismo defende que para se obter saúde e longevidade é necessária a maior variedade possível de alimentos. Esse princípio naturista formou uma das características da culinária chinesa, que é o uso de uma extensiva variedade de alimentos e carnes, e que no passado, até incluía carne humana… (Numa ironia da natureza, foi exactamente este comportamento , que permitiu a entrada do vírus da pneumonia atípica nos seres humanos…).

Hoje, o canibalismo na China continental, bem como em Taiwan é proibido e sancionado pela lei.

Tal é do conhecimento público.

Utilizar uma imagem daquelas, carregada da carga emocional que lhe está associada, sem um aviso, ou com o objectivo de demonstrar o absurdo ou o mau-gosto, mas com a intenção de enganar, só demonstra a falta de ética científica (de que se reclamam…) bem como falta de rigor intelectual e de honestidade…



É caso para perguntar: Quem come quem?



Distribuí-las entre crianças, demonstra ou uma ingenuidade gritante, ou uma estupidez congénita ou uma vontade maléfica de manipular pelo trauma as mentes expostas na sala de aula.

Justificando-se, o Padre Jerónimo Gomes afirma que «as imagens não são chocantes» e argumenta que «tudo se pode dizer (às crianças) desde que seja científico e de maneira simples»

Científico não é. E a simplicidade é enganadora….

O Padre Jerónimo Gomes defendeu-se, dizendo que o folheto era aprovado pela hierarquia da igreja, na figura do Padre Feytor Pinto. Este negou-o publicamente, dizendo que só «aceitava a inclusão do folheto nas pastas distribuídas no Encontro Nacional da Pastoral da Saúde».

Quem mente? Os dois? Ou um, duplamente…

Portugal Diário: Notícia do folheto


Público: A «reacção» do Padre Feytor Pinto


As fotografias usadas no folheto ( ATENÇÃO – Imagem susceptível de causar repulsa. )


O mito urbano desmontado

6 de Março, 2004 Carlos Esperança

O padre Jerónimo Gomes – um talibã da ICAR

Os folhetos anti-aborto que estão a provocar enorme repúdio inserem-se na habitual política de terrorismo ideológico da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR).

Só quem já esqueceu o catecismo do Ensino Primário, durante a ditadura, pode agora surpreender-se. Os horrores que, segundo os padres, Deus reservava aos pecadores – choro, ranger de dentes, noite perpétua, caldeirões de azeite fervente onde o diabo mergulhava as almas dos pecadores com garfos de três dentes – faziam parte do inferno que povoava as noites das crianças.

Durante séculos foi o medo de Deus, e o pavor ainda maior dos seus funcionários, que serviu de caldo de cultura para o autoritarismo do Estado com a cumplicidade do clero.

Com a democracia, a ICAR tem procurado adaptar-se e aceitar a modernidade mas, de vez em quando, o terrorismo beato dos seus próceres vem à tona. Não resiste a querer transformar cidadãos num bando de beatos, tímidos e idiotas genuflectidos à vontade dos seus padres.

Foi o que aconteceu agora com a distribuição de panfletos pela Associação S.O.S. – Vida, um direito que lhe assiste mas que a boçalidade do Padre Jerónimo Gomes levou às últimas consequências ao entregá-los a crianças dos 6 aos 9 anos.

Imagine-se o que se diria – e bem – se as Associações que defendem a descriminalização do aborto abordassem crianças dessa idade para defenderem os seus pontos de vista!

As preocupações com os traumas que podem causar às crianças não interessam aos padres. Eles sabem que a fé é um trauma de infância que, às vezes, dura a vida inteira.

O terrorismo ideológico, crueldade visual e péssimo gosto que agora se execram não são fruto de um acto infeliz, é uma acto deliberado inserido na metodologia habitual.

Aliás, há três pecados que a ICAR combate com inusitada violência, talvez porque são os únicos que os seus padres e bispos não podem cometer: o aborto, o adultério e o divórcio – o primeiro porque as mulheres estão excluídas do sacerdócio e os dois últimos porque este se encontra condenado ao celibato.