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Dia: 8 de Fevereiro, 2004

8 de Fevereiro, 2004 Mariana de Oliveira

Duas frases dominicais não originais

Não é só o facto de Deus não existir. Experimentem chamar o canalizador num fim-de-semana.

Woody Allen

8 de Fevereiro, 2004 André Esteves

Deus não estava lá.. Só a incúria dos homens.

Há três anos atrás, dirigi-me para Castelo de Paiva com a minha mulher e um amigo.

Tinha havido a iniciativa, entre amigos e colegas de trabalho, de se organizar uma descida em rafting no rio Paiva.

Quando nos preparávamos para entrar nos botes, já eu sentia que havia qualquer coisa mal. O rio transbordara, e as árvores à beira rio tinham se transformado em lanças a emergir ou submersas na água.

O rio corria desalmadamente.

Comecei a aperceber-me que a empresa que organizara a descida não tinha avisado a polícia, ou bombeiros, do que se ia passar. A pressa com que nos queriam atirar para a água, puxou-me ainda mais o receio.

Tive que arrancar de um instrutor aparvalhado por alguém fazer perguntas, quais seriam os procedimentos no caso de cairmos à água… Entramos na água… e só saímos depois de virarmos três barcos e 6 pessoas quase morrerem afogadas, inclusive eu.

Fiquei preso num rolo de água de uma cascata, bebi e respirei água, enquanto via a minha morte, afogando-me num turbilhão. Felizmente que me lembrei das instruções que tinha pedido e relaxei o corpo, ao mesmo tempo que aceitei a minha morte e, ao fim de uma eternidade surda, acabei por me soltar da corrente que me aprisionava.

Percorri mais de 100 metros ao sabor da corrente, sem saber se estava morto, se estava vivo.

Reagrupámo-nos na margem, com mais de vinte pessoas cheias de escoriações, enlameadas e assustadas. Cheirava-se o medo no ar. Tive um ataque de pânico. Recriminava-me por me ter deixado apanhar naquela situação. Não podia ver um barco à frente…

A muito custo, convenceram-me a entrar no barco e a manter-me no fundo.

A minha mulher segurou-me e confortou-me, sabendo que, no meu pânico, podia saltar para a margem…

Na parte final, antes de chegarmos, ganhámos velocidade relativamente à margem e só a custo não nos despedaçavamos nas pedras e rápidos que estavam à frente, lutando contra a corrente, conseguindo agarrar um ramo, parar o barco e puxarmo-nos exaustos e a tremer por uma ribanceira acima, até chegarmos à estrada e aos nossos carros. Voltamos para casa, atordoados, a desejar por um banho quente e um lugar seguro e acolhedor.

Na manhã seguinte, ao ver as notícias na televisão, fiquei aparvalhado…

A ponte por onde tínhamos passado, horas antes, duas vezes, na ida e na volta daquela aventura idiota, tinha caído.

Sobreviver é f*****… Sabem porquê?

Porque se morremos, morremos.

Se sobrevivemos, tentamos tirar todo o gênero de lições e ilações sobre o que aconteceu.

E é difícil saber quando parar… Só quando controlamos a espiral de emoções libertadas é que emergimos para a calma. E conseguimos aprender alguma coisa…

Passados estes três anos, há uma reflexão que permanece: Estamos nas mãos uns dos outros.

E é só isso o que nos protege de um universo aleatório, adverso e terrível.

No entanto, naquele dia, houve pessoas que não me seguraram a mão.

A confiança numa sociedade é construída pela palavra e pelo cumprimento dos compromissos aceites.

A Competência é o cumprimento num serviço, trabalho ou profissão de certos compromissos: regras, objectivos de qualidade, segurança e transparência para com os outros nos nossos produtos e serviços.

Quando as pessoas deixam de se nortear por esses princípios e passam a “acreditar” que as coisas funcionam… Que alguém ou “alguma coisa” os há-de safar das consequências do seu mau trabalho ou má gestão dos seus negócios e responsabilidades, é quando se quebra o compromisso que todos temos uns com os outros, de manter a máquina da civilização e sociedade a funcionar e a preservar a vida comum.

Naquela noite morreram 59 pessoas. Caíram para uma morte certa, num rio a transbordar de incompetência.

Incompetência alimentada por uma cultura de aparências, superstição, cupidez e preguiça.

Ontem, duas novas pontes foram inauguradas, perto do local da tragédia.

Um governo que representa tudo o que de pior temos, transgrediu a constituição e a lei da liberdade religiosa, ao iniciar a cerimónia de estado, com um sacerdote católico romano a abençoar as pontes…

A ponte que caiu, quando inaugurada, foi abençoada por um sacerdote católico romano…

Onde está a racionalidade, neste tempo que passou?

Aprendemos alguma coisa?

Ou continuamos a alimentar a incompetência? E a esquecer a mão dos outros…

Associação Républica e Laicidade

Comunicado de imprensa sobre a inauguração das duas novas pontes em castelo de Paiva.

8 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

Mariana Cascais e a educação sexual



Mariana Cascais, secretária de Estado que na A. R. advertiu os deputados de que Portugal era um país oficialmente católico, por desconhecer o carácter laico do Estado, é um dos elementos mais reaccionários do actual Governo.

Amiga do peito e da missa dos outros elementos do CDS é uma defensora da castidade absoluta, com vaga tolerância para excepções destinadas à prossecução da espécie que não impliquem prazer ou lascívia.

Na entrevista de hoje ao Diário de Notícias esta sólida defensora da alma e virtuosa promotora da abstinência sexual, declarou: «Se eu quisesse não havia educação sexual».

Parece uma freira da ICAR, saída de um convento para o Ministério da Educação, sem respeito pela Constituição e com enorme ressentimento pela influência hormonal. É tal o proselitismo que a devora, e tão grande o seu fanatismo, que entrou em rota de colisão com o PSD.

Esta mulher dedicou-se à promoção da virtude e prevenção do vício com tal denodo que julga a masturbação um genocídio e o orgasmo uma ofensa a Deus.

Só em Maomé se encontra tão genuíno ódio ao toucinho como o desta mulher ao prazer sexual.

É a pessoas assim que João Paulo II encomenda milagres para fazer delas santas.