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O Presépio

Por

ONOFRE VARELA

Estamos a viver a quadra natalícia que na cultura católica representa o nascimento de Jesus Cristo, e fora da Igreja é um tempo de comércio que anima as ruas das cidades na onda consumista habitual, salvadora dos lojistas que, fora das datas fomentadoras de vendas, quase agonizam pela falta do poder de compra dos trabalhadores obrigados a sustentarem a família com o ordenado mínimo.

Na cultura ocidental a Igreja Católica é a entidade que tem maior riqueza iconográfica, sendo, por excelência, uma religião de imagens que alimentou pintores e escultores através dos séculos, e por isso possui uma pinacoteca das mais importantes. A imagem cristã mais mostrada na quadra natalícia é o presépio que pretende ser uma representação do nascimento de Jesus Cristo.

Uma breve consulta ao Novo Testamento mostra-nos que, de entre os quatro evangelistas sinópticos que nos falam da história de Jesus, nenhum deles nos narra a cena que estamos habituados a ver designada por “presépio”. 

Mateus (2:11) diz-nos que os reis magos “entrando na casa acharam o menino com Maria”. Logo, o estábulo da tradição não existe nesta referência, já que o local do nascimento seria “uma casa”. 

Marcos omite o nascimento de Jesus, referindo-o já como adulto, quando é baptizado nas águas do rio Jordão por João Baptista (1:9). 

Lucas (2:7) já nos diz que Maria “deu à luz o seu filho primogénito e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem”. Esta necessidade de josé e Maria terem uma estalagem para pernoitar, aconteceu pelo facto de se terem deslocado de Nazaré, onde viviam, para Belém no cumprimento de um decreto do imperador César Augusto que obrigava ao recenseamento de todo os cidadãos, e o casal partira para Belém (o local do recenseamento) quando Maria já estaria num estado avançado de gravidez. 

João (1: 29-34), tal como Marcos, só refere Jesus quando do baptismo no rio Jordão, omitindo o seu nascimento. (Este João [o Evangelista] não é o mesmo João [o Baptista] que baptizou Jesus e que tendo sido preso por Herodes Antipas I, acabou decapitado. Segundo a lenda, a sua cabeça foi oferecida, numa bandeja, a Salomé).

A imagem do presépio que hoje figura na maioria das casas e nas montras das lojas na época natalícia, teve origem numa ideia de Francisco de Assis que, em 1223 festejou o Natal fora da igreja, montando uma manjedoura na floresta de Greccio, Itália, colocando junto dela um boi e um burro como elementos tradicionais de um estábulo. O povo não entendeu de imediato o significado daquela encenação, mas durante a Idade Média o costume espalhou-se, e em 1567 a Duquesa de Amalfi mandou montar um grandioso presépio com 116 figuras representando o nascimento de Jesus Cristo com a adoração dos reis magos, dos pastores, e com anjos a cantar. 

A partir do século XVIII o costume espalhou-se pelas casas dos crentes, mantendo-se até hoje… e convenhamos que o presépio, enquanto decoração natalícia, fica muito bem nas montras e nos centros comerciais.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)