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Hoje é cá Páscoa

A Páscoa é quando a religião quiser. Os judeus celebram a saída do Egipto e os cristãos comemoram a ressurreição de Cristo. Com o tempo, perde-se a memória do plágio e do motivo da festa.

Hoje é dia Páscoa, dia em que JC ressuscitou dos mortos, com quem esteve a estagiar. Depois andou por aí, como alguns políticos, visitou quem quis e foi visto pelos que acreditaram ou, melhor, pelos que acreditam que houve quem o visse.

Ontem, ainda o ícone da lenda cristã fazia de morto e já os pantagruélicos festins tinham lugar para gáudio da indústria da restauração. Hoje, com a ressurreição consumada, está tudo fechado. Quero um sítio para tomar café e não encontro quem mo sirva.

Despregado do sinal mais onde se finou, JC estagiou num túmulo, como era costume, e, para animação do negócio pio a que deu origem, subiu ao Céu e sentou-se à mão direita de deus-pai, indivíduo de mau feitio cuja biografia vem, em toda a sua crueza, num livro pouco recomendável, da Idade do Bronze, e de origem duvidosa – o Antigo Testamento.

Para mim, que há muito deixei de crer em pias fantasias e elucubrações religiosas, é-me indiferente que JC se dedicasse à carpintaria, para continuar o negócio da família, ou se afeiçoasse à pregação e aos milagres, naquele tempo o mais promissor segmento do sector terciário de uma economia rudimentar.

O que me dói, independentemente dos laivos politeístas da ICAR, com um deus-pai, o deus-filho, a mãe do filho, a pomba e muitos filhos da mãe criados santos, o que me dói – dizia –, é não ter um sítio para tomar café.

Se a Páscoa da Ressurreição servisse para fazer o número de um morto que se cansa da posição, dá uns passeios e emigra para o Céu, e não fechassem os Cafés, eu não estaria aqui a maldizer a beata greve da restauração.

Faz-me mais falta um bom café do que uma ressurreição bem-feita.