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O negócio das almas

O Paraíso não é um bar de alterne, nem um lugar especialmente bem frequentado. A avaliar pelos santos que o defunto JP2 tirou das profundezas do Inferno ou do estágio no Purgatório, há hoje uma multidão de patifes a jogar as cartas com no Paraíso e a servir bebidas ao Padre Eterno.

Não sei se é Torquemada que toma conta do armazém das almas de crianças por nascer ou de adultos por batizar, pois sabia-se de ciência certa, com aquela honestidade que se conhece ao clero, que os não batizados tinham por destino o Limbo, sítio insípido, sem divertimentos nem crueldades, atribuído ao Deus de Abraão como destino de almas sem bênção, e que um papa recente extinguiu, por vergonha ou falta de rendimento.

No armazém das almas o negócio anda próspero com a explosão demográfica a que se assiste. Mas Deus é um comerciante insatisfeito que quer despachar mais mercadoria.

É por isso que a ICAR é contra o planeamento familiar, a contraceção, o preservativo, a IVG, o DIU e a pílula. No Céu há uma alma para cada espermatozoide e é por isso que tanto o pecado solitário como a ejaculação noturna são uma catástrofe para o negócio.

Os clérigos, encarregados das almas e do negócio, ficaram apavorados com o fim da perseguição criminal às mulheres que interrompem a gravidez.

Aliás, para as religiões do livro, a mulher é um ser inferior que deve obediência ao marido e serve apenas para a reprodução e louvores ao Deus regional.