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Ar e água milagrosos

Por

Leopoldo Pereira

Já em 2011 alguém se lembrava de vender ar da Serra da Estrela, aliás com sucesso, como se pode inferir pelo trecho que se transcreve: “Eis, pois, que o terno passou a deslocar-se semanalmente à Guarda, às vezes mais que uma vez por semana, donde traziam o carro atulhado de garrafas e garrafões de plástico, cheios de ar puro da Serra, que depois iam vendendo a quem tivesse dificuldades respiratórias, três euros a garrafa, dez euros o garrafão; na devolução do vasilhame obtinha-se um desconto de cinquenta cêntimos. Aquilo vendia-se bem. Podem não acreditar, mas pessoas houve que passaram a sentir-se melhor, a respirar sem dificuldade, algumas a quem o médico garantira doença pulmonar obstrutiva crónica. Os pulmões até ficaram limpos, grande coisa é a psicologia!

O terno ganhou dinheiro, claro, e já pensava comprar uma carrinha (…)”.

Provavelmente outros tiveram a ideia antes. Mas quando se vende um produto com determinadas características, não é no vendedor que recai o ónus da prova dessas características? Não se pode vender pasta “medicinal” mas pode-se vender ar “da Serra”? Quem garante a pureza do ar? O mesmo se passa, por exemplo, com a água de Fátima ou a de Lurdes. Tem certificado de garantia? O ar e a água são vendáveis, abençoados ou poluídos! Será que em nome das coisas ditas sagradas, se pode burlar impunemente, como a própria Igreja faz?

Muita gente considera a ideia brilhante e alinha no esquema. Quem engole uma rodela de pão ázimo, julgando que é corpo e sangue de um Deus imaginário, também embarca no ar puro engarrafado ou na água abençoada. Basta ter fé…