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Israel e as religiões do livro

O Antigo Testamento é um manual xenófobo, violento, misógino e vingativo que reflete o pensamento tribal da Idade do Bronze e a sua natureza patriarcal. Por mais alterações que tenha sofrido, continua um excelente documento histórico e literário, cuja natureza humana é óbvia, mas atribuído ao deus abraâmico, exclusivo das tribos israelitas.

Na idade adulta de Jesus, que seguramente não nasceu em Nazaré nem na data referida, houve quem visse no jovem judeu, exímio em parábolas e com currículo no ramo dos milagres, o Messias anunciado.

Paulo de Tarso era um judeu da Diáspora, israelita circuncidado da tribo de Benjamin, um intelectual do Império romano, que abraçou a ideia de que Jesus era o tal Messias e que veio salvar ‘todos’ os homens, abrindo a primeira cisão bem-sucedida no judaísmo.

Paulo de Tarso iniciou a globalização e o proselitismo religioso com a violência usual dos trânsfugas, movendo uma perseguição implacável aos judeus que não aceitaram o novo Messias e tornando-se fundador do cristianismo, depois da morte de Jesus Cristo, que morreu judeu e sem prever que seria a estrela de uma nova religião.

O Novo Testamento (NT), escrito de acordo com a tradição oral, várias décadas depois, é a originalidade do cristianismo através de evangelhos que foram eleitos no Concílio de Niceia (325) e dos definitivamente considerados canónicos (Mateus, Marcos, Lucas e João) no Concílio de Trento (1545 a 1563), entre dezenas dos considerados apócrifos e “totalmente absurdos e ímpios”, não sem que uns e outros tenham sofrido alterações e fraudes. Sobraram os que menos contradições expunham entre si, expurgados das mais flagrantes, e marcando a proscrição e o fim dos evangelhos alternativos.

O facto de o cristianismo ter nascido no seio do judaísmo, e contra ele, originou o ódio aos judeus que não aceitaram o novo Messias, o antissemitismo que o NT transmite e de que o Concílio de Trento foi fervoroso prosélito.

Os quatro Evangelhos (Marcos, Lucas, Mateus e João) e os Atos dos Apóstolos têm, na contabilidade de Daniel Jonah Goldhagen (in A Igreja católica e o Holocausto) cerca de 450 versículos explicitamente antissemitas, “mais de dois por cada página da edição oficial católica da Bíblia”.

No fim dos anos quarenta do séc. XX ainda o catolicismo português pedia a conversão dos “pérfidos judeus”, “ninho de víboras”, que mataram Jesus, depois do genocídio nazi que os gaseou e a cujos carrascos os bispos católicos e protestantes entregaram registos de batismo para mais facilmente descobrirem, por exclusão de partes, quem era judeu.

Foi esse preconceito o responsável das purgas que vitimaram os judeus, com expulsões, vexames e confisco de bens, com fogueiras da Inquisição e tentativa de “solução final” pelos nazis. O remorso dos Aliados deu origem a Israel, para onde emigraram cidadãos das mais variadas nacionalidades criando o único Estado de base teocrática.
Resta dizer que em 622 nasce um novo monoteísmo, o islamismo, uma cópia grosseira do judaísmo e do cristianismo, alegadamente ditada a um beduíno analfabeto e amoral, pelo Arcanjo Gabriel, entre Medina e Meca, em duas décadas de condução de camelos.

A decadência da civilização árabe transformou o mais implacável dos monoteísmos no atual viveiro de terrorismo, através da boçal interpretação do wahabismo sunita.

Depois desta breve síntese, reitero o meu anti antissemitismo, como expressão firme do combate a qualquer forma de racismo, mas seria uma grave omissão se não vituperasse o sionismo, essa violência judaica simétrica do antissemitismo, e esquecesse o massacre de Sabra e Chatila, a ocupação ilegal de territórios palestinos e a violência dos judeus das trancinhas à Dama das Camélias, às cabeçadas no Muro das Lamentações e a sonhar com o Armagedão, depois de ocuparem a Palestina.