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Milagres com prazo de validade

A insuspeita revista “Sábado” publica, no seu último número, um artigo acerca da próxima vinda do papa de serviço a Fátima. Adianta que não se trata de uma visita de estado, mas de uma peregrinação, pelo que não se percebe muito bem por que raios vai ter um encontro com o presidente da República e com o primeiro-ministro. Ou será, apenas, com os cidadãos Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa? Bom, adiante.

A folhas tantas, aparece uma entrevista com a freira-médica (ou será médica-freira? De qualquer modo, cheira-me a oxímoro) Ângela Coelho que acumula, também o cargo de “postuladora da causa dos pastorinhos”. Bom, deixemos de lado o blá-blá, e situemo-nos naquilo que, no fim de contas, acaba por se verificar serem, os milagres: a mais monumental fraude religiosa. Digamos, também, que a freira não aprendeu nada com a ciência. A certa altura,o entrevistador pergunta: “Como se define um milagre? É um acontecimento não explicável pela ciência?” ao que a freira responde: “Sim, ou pelas leis da natureza. 90% são casos médicos. Uma cura rápida e duradoura não explicável pela arte médica actual”. O jornalista volta à carga, e a ingénua feira cai na esparrela. Jornalista: “Então um milagre no século XVI hoje não seria?” E a freira: “Poderia não ser.” Mas vale a pena continuar a ler, pois a nova pergunta, a médica acaba por referir que não levou um caso à Congregação da Causa dos Santos. Tratava-se de uma criança com diabetes tipo I com uma bomba difusora de insulina. “No fim da missa da beatificação a mãe pede aos pastorinhos que curem o seu menino e logo naquele dia começa a achar que a bomba não está a funcionar. Foi ao hospital e a criança não tinha nada. Mas foi chumbado: há um tipo de diabetes na infância que tem uma cura assim”. Ou seja: a freiramédica acabou por, sem querer, prestar um mau serviço à causa religiosa. Disse, claramente, que não há milagres; apenas factos que a ciência não sabe explicar. Porque a ciência, ao contrário da religião, não é arrogante. E eu pergunto: os “milagres” que ocorreram tempos passados e que, agora, já são explicados pela ciência, continuam “milagres”? E os “santos” respectivos, continuam “santos”?