É verdade que, por vezes, os cientistas são religiosos, ou pelo menos supersticiosos. Sir Isaac Newton, por exemplo, foi um espiritualista e alquimista bastante ridículo. Fred Hoyle, um ex-agnóstico que se apaixonou pela ideia do “desígnio”, foi um astrónomo de Cambridge que inventou o termo Big Bang. Steven Hawking não é um crente, e quando foi convidado para ir a Roma conhecer o papa João Paulo II pediu que lhe mostrassem os registos do julgamento de Galilei. E fala sem embaraço da hipótese de a Física “conhecer a mente de Deus”, o que parece agora tão inofensivo como uma metáfora, como por exemplo quando os Beach Boys cantam, ou eu digo, “só Deus sabe…”.
12 de Abril, 2017 Carlos Esperança
Vítor Julião em Movimento Ateísta Português
Os Físicos na história e deus.
Antes de Charles Darwin ter revolucionado todo o conceito das nossas origens, e Albert Einstein ter feito o mesmo em relação ao começo do Cosmos, muitos cientistas, filósofos e matemáticos adoptavam o que podia ser considerada a posição de ausência e professavam uma ou outra versão do “deísmo”, que defendia que a ordem e a previsibilidade do universo pareciam, de facto, sugerir um criador, se bem que não necessariamente um criador com um papel activo nos assuntos humanos. Este compromisso era lógico e racional para o seu tempo, …
Laplace (1749-1827) foi o brilhante cientista francês que levou o trabalho de Newton ainda mais longe e demonstrou, através de cálculos matemáticos, como as operações do sistema solar eram as de corpos a girar sistematicamente num vácuo. Mais tarde, quando começou a estudar as estrelas e as nebulosas, postulou a ideia do colapso e implosão gravitacionais, ou o que agora chamamos alegremente o “buraco negro”. Num livro em cinco volumes intitulado Celestial Mechanics, ele expôs tudo isto e, como muitos homens da sua época, também estava intrigado com o planetário, um modelo articulado do sistema solar visto, pela primeira ver, de fora. Estes modelos são agora lugares-comuns, mas na época foram revolucionários e o imperador pediu para conhecer Laplace e para receber um conjunto dos livros ou (os relatos diferem) uma versão do planetário.
Pessoalmente, desconfio que o coveiro da Revolução Francesa preferiu o brinquedo aos livros: era um homem com pressa e tinha conseguido que a igreja batizasse a sua ditadura com uma coroa. De qualquer modo, e ao seu estilo infantil, exigente e imperioso, quis saber porque é que a figura de deus não aparecia nos cálculos inovadores de Laplace. E aqui têm a resposta fantástica, sublime e ponderada. “Je n’ai pas besoin de cette hypothèse“. (*) Laplace ia tornar-se marquês e talvez pudesse ter dito de forma mais modesta, “Resulta bastante bem sem essa ideia, Majestade“.
Mas declarou simplesmente que não precisava dela.
(*) “Não preciso dessa hipótese.”
Christopher Hitchens in “deus não é grande”.