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Dia: 18 de Fevereiro, 2017

18 de Fevereiro, 2017 Carlos Esperança

A disfunção inata da Humanidade

(Texto enviado por Casa do Oleiro)

A humanidade surgiu como um acidente da evolução, como o produto de uma mutação aleatória da seleção natural.

A nossa espécie foi apenas o resultado final de muitas curvas e contracurvas numa única linhagem de primatas do velho mundo.

Existem hoje em dia várias centenas de outras espécies nativas, descendentes de outras linhagens destes primatas, cada qual o resultado das suas próprias curvas e contracurvas. Podíamos facilmente ter sido apenas mais um australopitecíneo com um cérebro do tamanho do de um macaco, recolhendo fruta e tentando apanhar peixe, e acabando depois, mais tarde ou mais cedo, por extinguir-nos, tal como aconteceu com outros australopitecíneos.

Ao longo de 400 milhões de anos em que animais de grande porte ocuparam terra firme, o Homo sapiens foi o único a desenvolver uma inteligência suficientemente elevada para criar uma civilização.

Os pré-humanos possuíam determinadas vantagens, que influenciaram a direção em que seguiu a sua evolução subsequente. Entre estas incluíam-se, ao inicio, uma vida passada em parte nas árvores e a utilização livre dos membros dianteiros que esse tipo de vida permitia. Situação arcaica depois alterada para uma vida passada maioritariamente no solo.

Antepassados com cérebros grandes e um imenso continente com clima ameno e vastas pradarias intercaladas de florestas secas, a estas pré-condições juntaram-se os incêndios frequentes, que promoveram o crescimento de plantas herbáceas e arbustivas. Mais importante ainda, os incêndios tornaram possível uma mudança dietética para a carne cozinhada (que potenciou, ao longo de milhares de gerações, a diminuição do aparelho intestinal-digestivo e o subsequente aumento do tamanho cerebral).

Esta invulgar associação de circunstâncias no decurso da corrida evolutiva, em combinação com a sorte (ausência de alterações climáticas devastadoras e quaisquer pandemias graves), tudo jogou a favor dos primeiros humanos.

Comportando-se como deuses, os seus descendentes disseminaram-se por vastas porções da Terra. Tornámo-nos senhores do planeta e tagarelamos frequentemente

acerca da sua destruição – Guerra nuclear, alterações climáticas ou segunda vinda apocalíptica pressagiada pelas Sagradas escrituras.

O que nos impede de tornar o planeta num paraíso é o facto de o Homo sapiens ser uma espécie em que a sua disfuncionalidade é inata. Somos prejudicados pela maldição do Paleolítico: adaptações genéticas que funcionaram muito bem durante os milhões de anos da nossa existência como caçadores-recolectores, mas que se revela cada vez mais um obstáculo numa sociedade globalmente urbana e tecnocientífica.

Texto de Edward O. Wilson.

“Mais do que em qualquer outra época, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto, o outro à extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de saber escolher a primeira.” Woody Allen.