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Dia: 12 de Janeiro, 2017

12 de Janeiro, 2017 Carlos Esperança

Espanha ainda é franquista e católica?

Uma jovem, que não conheceu o genocida Franco nem o seu primeiro-ministro Carrero Blanco redigiu uma piada no Twitter, com a imagem do atentado que vitimou o fascista. Gracejar com a morte, mesmo de um almirante torcionário, é mau gosto, mas o risco de prisão é censura e intimidação aos familiares das vítimas do franquismo.

Em 20 de dezembro de 1973, o almirante que se preparava para suceder a Franco, de quem era um indefetível admirador e cúmplice, à saía da missa, bem comungado e benzido, entrou no carro oficial. Projetado por uma potente bomba colocada num túnel laboriosamente construído, caiu morto à altura de um 5.º andar no terraço dos jesuítas a cuja capela ia diariamente assistir à missa e comungar.

Foi a resposta possível à ditadura, à pena de morte por garrote e a centenas de milhares de vítimas. A ocorrência popularizou em Espanha e Portugal o slogan “Arriba Franco, más alto que Carrero Blanco”.

Num país onde não é ainda possível dar enterramento aos milhares de assassinados que jazem em valas comuns, só falta prender uma jovem por questão de gosto.

12 de Janeiro, 2017 Carlos Esperança

As autarquias, as eleições e a laicidade

Compreende-se que, em anos eleitorais, os autarcas preparem a reeleição e a vitória partidária. Apesar do excesso de autarquias, a exigir a eternamente adiada reforma administrativa, não falta dinheiro para passear idosos e oferecer-lhes lembranças, com o pretexto de apoiar os velhos, agora designados seniores.

A desejável disputa partidária não pode confundir-se com o suborno do eleitorado, nem pôr em causa os princípios da laicidade e da ética republicana.

Já começaram as excursões a Fátima, no ano em que se conjugam o centenário das alegadas visões dos pastorinhos, a suposta crença dos idosos e as eleições autárquicas. Os autarcas oferecem a viagem, o seguro e o almocinho, não tanto por acreditarem em milagres, mas porque sabem que quem dá aos velhos recebe em votos.

A comunicação social já transformou as alegadas visões, de há um século, em aparições, sem aspas, o baile do sol em milagre e as visões da D. Lúcia, revistas e aumentadas, em profecias. A vinda do papa, aliás pessoa de bem, é o golpe de marketing combinado.

Num país em que a superstição e o atraso da ditadura ainda se fazem sentir não é crime pactuar com a encenação pia, mas não é bonita ação e, muito menos, que seja praticada com o dinheiro público, à revelia do espírito da Constituição e da decência.

É o contubérnio entre a administração pública e o clero católico que vai esmorecendo a vigilância cívica às novas religiões, que disputam o mercado da fé de forma agressiva, ou a uma antiga que a procura impor à bomba.

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