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Dia: 23 de Março, 2016

23 de Março, 2016 Carlos Esperança

Réplica do Sr. Padre Poças

Olá caro Sr. Carlos Esperança.

Andei a pensar alguns dias na sua resposta. Comprometi-me a fazer o esforço mental de o tentar perceber. Posso dizer-lhe que foi maravilhoso os caminhos por onde andei. Infelizmente…

Depois de ter consultado o seu facebook percebi que a falta de respeito com que me tratou não me permite ter um diálogo honesto, aberto, transparente. Conclui que o senhor é muito mais anticlerical que ateu e/ou laico e uma das provas disso foi a necessidade de publicar a resposta à minha mensagem.

Se na sua infância o obrigaram a beijar a mão do pároco tenho pena. Muita pena. A mim já não o fizeram o que não diminuiu a minha estima por ele. Posso dizer-lhe que sou padre hà 8 anos e nunca fui obrigado a beijar a mão a um clérigo. Quer dizer que os hábitos são também próprios d eum tempo e de uma cultura e se vão corrigindo com o tempo. Como poderá ver na imagem que lhe envio em anexo já passou muita água debaixo do rio depois dessas histórias.

Sabe, eu também tive a tentação de mostrar a minha discordância à atitude da associação que representa no facebook. Não o fiz e disse-lhe que não o queria fazer pois essa não era a minha motivação. Era apenas percebê-los e quis fazer isso de forma respeitosa. Com alguma ironia e dor Agradeço no entanto o seu contributo para que as trincheiras da intolerância, do anticlericalismo, do ping-pong igreja-laicidade estejam agora mais fundas. Penso ter sido esse o bom contributo que afinal deu ao meu objetivo. Lamento.

Tenho pena, muita pena que não haja ateus e defensores da laicidade que me saibam responder de forma isenta às minhas sedes de compreensão. Até prova de contrário só me leva a concluir que muito do ateísmo e laicismo anunciado não é uma opção de vida mas uma resposta proativa aos pecados da igreja ou somente à igreja, os de hoje e do passado. Ela (a igreja) sabe que os tem e os caminho de os curar são outros.

Discordo pois de uma laicidade que em nome de uma suposta paz e progresso social e cultural ataca ferozmente as religiões. Agora é a católica, futuramente serão outras. Posso dizer-lhe que se julga que esse é o caminho de uma estado laico esqueça. Lembro que por duas vezes o estado já se viu livre da igreja (ou partes dela) expulsão dos jesuítas e expulsão das ordens religiosas. Como se percebe pela história esse não foi um caminho saudável para ninguém e por isso se recuou. Não porque a igreja o impusesse mas porque o estado assim o desejou.

Foi no entanto bom para mim as descobertas que fiz depois da sua resposta.

Tinha uma bela resposta para partilhar consigo pois posso dizer-lhe que consegui compreender parte das vossas razões e discordâncias mas depois do que vi conclui que não vale a pena.

Depois do que fez e de ter usado o meu nome (podia tê-lo ocultado) seria um bom serviço à verdade publicar a primeira mensagem que lhe enviei e também esta que agora lhe envio.

Não exigirei no entanto que o faça.

Concluindo deduzo que terei de procurar outra pessoa que me ajude naquilo que não me conseguiu ajudar. Obrigado na mesma pela disponibilidade para me responder.

Gostava de lhe desejar uma Boa Páscoa mas como não acredita desejo-lhe uma Boa Primavera que é a coisa simbolicamente mais próxima desta.

Até qualquer dia. Se aparecer pelo Porto (zona do centro histórico) avise, poderemos sempre tomar um café.

Acredite que fiquei triste mas não guardo ressentimento.

fique bem.

pe. renato poças

23 de Março, 2016 Carlos Esperança

E violam… de forma grosseira

Associações de pais consideram que as missas em escolas violam a Constituição.

GONÇALO SANTOS/GLOBAL IMAGENS

A Federação Regional de Lisboa as Associações de Pais pediu esclarecimentos ao ministro da Educação

A Federação Regional de Lisboa das Associações de Pais (FERLAP) considera inaceitável a celebração de missas nas escolas, por violar artigos da Constituição, e solicitou esclarecimentos ao ministro da Educação, pedindo-lhe que “reponha a normalidade”.

23 de Março, 2016 Carlos Esperança

O beijo na mão e o beija-mão

Não, não sou contra o beijo, essa revelação de afeto que pode começar na mão e acabar onde a geografia do corpo e o entusiasmo dos sentidos possa levar, num percurso a que as hormonas e o consentimento mútuo marcam a duração, intensidade e reciprocidade, numa explosão de alegria e satisfação.

Desprezo o beija-mão, uma tradição de reverência que na minha juventude se praticava em relação aos pais, padrinhos e párocos, de que os hábitos familiares me exoneraram. As origens medievais, na cultura lusófona, fizeram dele o costume monárquico, herdado depois pela corte imperial brasileira, em que o vassalo mostrava reverência ao monarca, em cerimónia pública ou, antes de solicitar alguma mercê, em privado.

Há sociedades onde o beija-mão permanece, não como mera tradição, mas com carácter imperioso, nas religiões e na máfia, duas instituições onde os graus hierárquicos são de respeito obrigatório e, na última, condição de sobrevivência.

Permanece em algumas religiões o hábito do beijo recíproco, entre iguais, (são sempre homens os clérigos) e o beija-mão do inferior ao superior e do crente ao clérigo.

Em sociedades democráticas, laicas e secularizadas, subsiste nas cerimónias privadas, pias e discretas, sem que os chefes de Estado humilhem os países que representam em atos públicos de obsoleta reverência.

É inaceitável que, sendo católicos, o presidente da Junta de Freguesia, oscule a mão do pároco, o presidente da Câmara a do arcipreste ou a do bispo, quando autarca na sede de distrito, o edil de Lisboa a do cardeal-patriarca e o PR a do Papa de Roma.

O poder civil, democraticamente sufragado, não pode, por respeito ao carácter laico da Constituição, e por decência, dobrar-se servilmente, genufletir-se ou atirar-se ao anelão de um bispo com o denodo com que S. Tiago se atirava aos mouros.