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  • 27 de Junho, 2015
  • Por Carlos Esperança
  • Ateísmo

Homilia de Frei Bento

Por

Frei Bento

(Epístola com pedido de publicação)

Caríssimos irmãos em Cristo, permiti que eu vos fale, hoje, da Eucaristia, a.k.a. Comunhão. Como sabeis, e se não sabeis devíeis saber, a Eucaristia simboliza e perpetua a Última Ceia de Nosso Senhor. De acordo com os evangelhos, a Ceia foi constituída apenas por pão e por vinho, o que não lembra nem a um penico, por muito sujo que esteja. Não faz o menor sentido treze marmanjos alaparem-se a uma mesa para a ceia sabendo-se, ainda para mais, que era a última, não faz o menor sentido, dizia eu, tratarem de apenas comer pão e beber vinho. Apenas.

Apenas? Não!

Aquando das escavações para as fundações do que viria a ser, posteriormente, a nossa Abadia, foram encontrados documentos que a própria Ciência, com quem estamos de costas voltadas desde aquela cena de a Terra andar à volta do Sol, pois bem, a própria Ciência, contra o seu costume, considerou tais documentos como autênticos – e não me refiro, naturalmente, aos cientistas que analisaram o Santo Sudário, refiro-me a cientistas MESMO. Tais documentos afirmam, sem margem para dúvidas, que a Ceia de Nosso Senhor não consistiu nos triviais pão e vinho. A ementa era farta, posso garantir, embora a ética religiosa me impeça de divulgar o menu. Quem sou eu, ou quem somos nós, frades Neo-Goliardos, para desmentir os Evangelhos, por muitas dúvidas que estes possam suscitar? Posso, no entanto, garantir que da ementa não faziam parte nem as tapas de presunto nem os camarões “al ajillo”. Por razões biblicamente compreensíveis.

Pois bem, rezam, literalmente, os documentos em poder da nossa Abadia, que, depois de todos bem comidos e melhor bebidos, Jesus se levantou para fazer um brinde, habitual naquelas e em similares circunstâncias. Mas Jesus era, e continua a ser, Filho de Deus. Filho e Pai, mas isso fica para outra ocasião. Pois bem, Jesus entendeu, e eu vou-lhe ao entendimento, que deveria fazer um brinde diferente. Nada do corriqueiro “Et fosses, et esgharabet et bitta tu”, nada disso. Daí que, pegando no pão que ainda estava na mesa, e que não seria descontado na conta, porque tendo vindo para a mesa tinha de ser pago mesmo que não consumido, distribuiu-o por entre os comensais e disse: “Tomai e comei, já que tenho de o pagar.”, embora neste ponto haja divergências quanto ao sentido de “tenho de o pagar”. Por exemplo, o nosso irmão Hermeneuta entendia que devia ser traduzido por “isto é o meu corpo”, mas o Abade de Priscos, nosso superior hierárquico, afirma que a tradução literal é “isto sai-me do corpo”, já que quem convida é que paga e Judas, que era a Maria Luís da época, garantia que havia almofada financeira para o evento, mas sem descurar a austeridade. “Nihil sub sole novum”, como se depreende. Os documentos falam, também, num episódio parecido, mas envolvendo vinho, só que, entretanto, já ninguém estava em condições de dizer, e muito menos escrever, fosse o que fosse. O que aparece escrito já é passível de muitas especulações.

Ora, e é aqui que eu quero chegar, a Igreja Católica decidiu-se pela apropriação da tradução do nosso irmão Hermeneuta, que Deus tenha em eterno descanso. E como se não bastasse, ainda tiveram a lata de garantir uma coisa que nunca foi minimamente provada, que é essa merda – Deus me perdoe! – da transubstanciação. Ou seja, uma rodela de farinha amassada com água dá direito a garantir que aquilo é o corpo e sangue de Cristo. E toda a gente – os que comem aquela mistela – nem se apercebem de que estão a praticar canibalismo. Antropofagia, que é pior! E o ministério público mudo e quedo. Porque se a antropofagia não é considerada crime, acho eu, já o mesmo não se pode dizer da profanação de cadáver. Quer dizer: andam há quase dois mil anos a comer Cristo, e ninguém mexe uma palha, ninguém faz a ponta de um corno!

Caríssimos irmãos em Cristo, a Eucaristia é um acto simbólico. É uma forma de os crentes “confraternizarem” com Jesus, e nada tem a ver com o comer-lhe o corpo às rodelas, já que o “sangue” é bebido pelos vampiros sacerdotes. Nós, na nossa Abadia, praticamos, naturalmente, a sagrada Eucaristia. Distribuímos pão ázimo, que mandamos vir diariamente da comunidade judaica de Belmonte e, contrariamente ao que se pratica na Igreja Católica, damos a beber aos crentes, vinho. Poiares maduro, colheita de 1967, para que conste! Aos menores de 16 anos (18, a partir de Julho) damos a escolher entre sumos ou Coca-cola. É uma cerimónia bonita, que se desenrola ao som de “In Taberna Quando Sumos”, entoada pelo nosso grupo coral.

Por isso, irmãos: se quereis participar numa eucaristia CDS (Como Deve Ser), vinde até nós.

Saúde e merda, que Deus não pode dar tudo.