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Dia: 18 de Março, 2015

18 de Março, 2015 Carlos Esperança

Religião e política e a política da religião

As manifestações contra o Governo brasileiro têm causas genuínas e objetivos obscuros, estes a exigirem uma cuidadosa atenção.

Deixemos de parte a corrupção, apesar da importância basilar, que cresceu com o rápido desenvolvimento económico e cuja perceção pública aumenta em regimes democráticos, para analisar outras vertentes, igualmente relevantes.

O Brasil tem hoje uma riqueza, jamais obtida no passado, e um desenvolvimento que o tornou uma potência económica mundial. A fome, a pobreza e o analfabetismo foram fortemente combatidos e com assinalável êxito.

O que leva, então, às gigantescas manifestações de protesto? Por um lado, a estagnação económica que a descida dos preços do petróleo tornou inevitável, por outro o domínio dos órgãos de comunicação social ao serviço de interesses que, no passado, sustentaram ditaduras e se alimentaram delas. Singular é a rebelião da classe média contra quem lhe deu acesso.

As religiões deviam evitar comprometer-se politicamente sob pena de verem, um dia, o seu clero a ser reprimido em nome da democracia e da laicidade que este regime exige.

No Brasil, salvo raras exceções, e estas também politicamente expostas, várias correntes cristãs têm assaltado o aparelho de Estado através de partidos políticos e do domínio de órgãos de comunicação que convocam e apoiam, em direto, as manifestações politicas. A Rede Globo é a central de intoxicação ao serviço de interesses financeiros e dominada por cliques religiosas. Tem poder para derrubar um governo eleito mas as sequelas serão fatais para o seu futuro e interesses.

Quando uma manifestação organizada, não são bandos caóticos, deixa que os cartazes a anunciem como “Marcha dos Cristãos” e tenha como lema o combate ao comunismo e o apelo à ‘intervenção militar’, sem que a hierarquia religiosa denuncie o carácter golpista e o condene, é natural ver no combate à religião a defesa da democracia.

Será dramático para os crentes, mas, entre a democracia e a religião, os cidadãos têm de fazer a sua opção. No Brasil, tal como no passado, a religião apoia de novo um regime totalitário de natureza militar, arriscando a neutralidade e a própria liberdade.

Quem não defende a liberdade dos adversários não é digno da sua.