Avança fria e chuvosa a tarde em Coimbra. Da janela da minha biblioteca, com os pés sobre a escalfeta, gozo o conforto pequeno-burguês de 44 anos de trabalho e descontos, enquanto os estarolas do Governo me deixarem, e olho pela janela.
Vejo uma vez mais o homem de cerca de quarenta anos que revolve o lixo do contentor que fica no lado oposto da rua. Observo os gestos lentos com que retira algo que leva à boca e mastiga. Não sei se é alienado ou apenas um desesperado que vem aconchegar a mucosa gástrica com vitualhas conspurcadas por bactérias que habitam o lixo.
Hesito entre chamá-lo a partilhar os restos abundantes de uma refeição em que sobram sempre alimentos para uma boca mais ou deixá-lo cumprir um ritual que todas as tardes me incomoda. O temor da sua reação impõe-se à solidariedade que me exige chamá-lo.
Não posso sentir-me confortável no habitat que me coube. Quando à minha volta vejo a miséria e fico inerte também eu me torno miserável. O homem partiu enquanto escrevia este desabafo. Amanhã, ou depois, lá virá de novo a este caixote, ou a outro, enquanto o medo ou o preconceito me tolhe um gesto humano e fazem de mim outro miserável que vê o semelhante a chafurdar no lixo que ali deixei, a recolher os resíduos de quem ainda não tem necessidade de o disputar.
Que raio de sociedade! Ainda hei de saber quem é aquele homem, este irmão de que não sei o nome, morada, se a tem, ou o passado, se isso interessa. Devia, pelo menos, saber como posso ser-lhe útil.
É esta tragédia que as religiões aproveitam para a conquista do poder.
O padre Roberto Francisco Daniel, que causou polêmica na Igreja Católica por sua defesa da homossexualidade, oficiou neste domingo em Bauru, no interior de São Paulo, sua última missa como sacerdote católico.
Isto não é um ato de humildade, é exibição de discutível higiene
– No Texas, a Constituição (Artigo I, Secção 4) permite claramente a discriminação de ateístas em cargos públicos, «ninguém será excluído de uma posição pública com base nos seus sentimentos religiosos, desde que reconheça a existência de um Ser Supremo».
– O protestantismo evangélico é responsável pelos crimes cometidos contra médicos e enfermeiros que trabalham em clínicas onde se pratica a interrupção da gravidez;
– As tentativas de assassinato de Salman Rushdie, para cumprimento da fatwa proferida pelo aiatola Ruhollah Khomeini, e a obsessão dos bons muçulmanos em cumpri-la, são provocadas pela demência da fé;
– As tentativas de assassinar o cartoonista Kurt Westergaa por causa das caricaturas de Maomé devem-se à mesma cegueira religiosa;
– Os atentados das Torres de Nova York, do Metro de Londres, dos comboios de Atocha e numerosos outros crimes têm a assinatura perversa do Corão;
– Os atos terroristas do sionismo contra crianças e mulheres indefesas, o longo historial de horrores referidos no Livro Negro do Cristianismo e a continuada demência fascista do Islão político – atualmente o mais implacável e execrável dos monoteísmos –, mostram bem que deus não é bom e é um detonador do ódio e a mais totalitária das referências.
Efetivamente, deus envenena tudo.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.