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Dia: 3 de Abril, 2013

3 de Abril, 2013 José Moreira

A cruz da minha avó – crónica pascal

A minha avó mora numa vivenda moderna, tipo maison. Quem entra na casa da minha avó depara-se, logo à entrada e do lado direito, com um nicho recheado de tudo quando é parafernália religiosa, desde medalhas a “santinhos”, passando por terços, relicários, estatuetas, e outros atavios de igual  jaez. Sobrepondo-se a toda essa tralha, destaca-se a imponência de um enorme crucifixo em madeira, devidamente equipado com um Cristo pendurado. A minha avó garante que a cruz não é, e ela faz questão em enfatizar, não é, dizia eu e diz ela, daquelas cruzes foleiras que dizem ser de restos da cruz original. Nada disso até porque, argumenta ela e eu assino por baixo, se fossem a juntar todos os bocados que se garante serem da cruz original, isso daria direito a um instrumento de tortura com o peso de tantas toneladas, que nem Cristo, por mais deus que fosse, seria capaz de arrastar até ao Calvário. Não senhores, aquela cruz, a cruz da minha avó era, apenas, feita do que restou da madeira com que se construiu a cruz original, o que já permite crer um pouco mais na sua veracidade, até porque não consta haver cruzes feitas dos restos da madeira, facto demonstrativo da perspicácia criativa do vigarista que vendeu o crucifixo à minha ancestral. Aliás, se calhar foi por isso que aquela cruz custou uma pipa de massa, com manifesto prejuízo para a minha herança, já que sou o neto preferido, não obstante ser único. Já quanto ao Cristo dependurado, a minha avó assume ser uma imitação, já que “o original subiu ao Céu em todo o seu esplendor, como tu sabes”, embora a minha avó nunca tenha explicado se o esplendor era do Céu ou do original referente à carunchenta cópia.

Pois bem, nesta última Páscoa fui de abalada até à santa terrinha onde mora a minha avó. Era Domingo, e a provecta senhora afadigava-se em volta da mesa sobre a qual iam jazendo as mais apetitosas guloseimas pascais, devidamente acolitadas por uma pinga de estalo, colheita própria. Bom, se o vinho é sangue de Cristo, bem-haja quem o matou, que sempre se aproveita alguma coisa de jeito.  “É para o senhor padre e os acólitos, quando trouxerem Nosso Senhor a visitar e a abençoar esta casa”, explicava ela, perante a minha curiosidade. “Mas… ó avó, então o Nosso Senhor não sabe o caminho, é preciso vir tanta gente…” mas a minha avó nem me deixou terminar o aliás preclaro raciocínio: “Nada de heresias! Com Deus não se brinca, que podes ser castigado. Claro que Nosso Senhor está no Céu, sentado à direita de Deus-Pai, mas o senhor padre traz o crucifixo, que é a mesma coisa.” Mesmo correndo o risco de ver a minha herança, ou o que resta dela, ir direitinha para as mãos do padre, não me contive: “Ó avó, o que vale mais? É o crucifixo de metal que o padre traz, ou o crucifixo que a avó tem, e que até é feito dos restos da madeira da cruz original? Para que é que a avó quer a visita do “nosso senhor”, se ele já está cá em casa em regime de permanência?”

Ao longe, ouvia-se a cada vez mais próxima sineta que anunciava o “compasso”. Prudentemente, e sem aguardar a resposta, que se adivinhava pouco simpática, da minha avó, esgueirei-me para a tasca do senhor Alfredo, que corria o risco de se tornar mais bem frequentada do que a casa da minha avó.

O senhor Alfredo é ateu.

3 de Abril, 2013 Carlos Esperança

A vida, a morte, a ressurreição e o sermão ímpio

Na última sexta-feira, adjetivada de santa, a cristandade chorou a morte matada de Jesus Cristo (JC), judeu utilizado por Paulo de Tarso na cisão com o judaísmo, e às 00H00 de domingo houve euforia com a ressurreição, todos os anos repetida. Nos três dias de luto, nunca três dias tiveram tão poucas horas, puseram de lado a carne, sobretudo de porco e, presume-se, também aquela que dá origem ao pecado da luxúria.

JC, antes de proceder à sua ressurreição e de ter subido ao Céu com os órgãos intactos, incluindo o santo prepúcio que, só em Itália, chegou a gozar o ouro de igual número de relicários, antes de um papa acabar com as peregrinações e a disputa sobre o verdadeiro, com a alegação de que a subida ao Céu não podia deixar resíduos, JC já tinha treinado o truque da ressurreição num pobre diabo, que referirei adiante, onde ganhou prática.

Sabe-se que JC morreu no Gólgota onde o dedicado Cireneu o ajudou a arrastar a cruz e, embora com algumas discrepâncias, o Novo Testamento encarregou-se da narrativa da morte, da ressurreição e das conversas com pessoas das suas relações antes de subir ao Céu. Sabe-se que deu nas vistas nos últimos três anos de vida em que se dedicou aos milagres e à pregação, atividades frequentes para quem fugia ao setor primário. Um dos milagres, quiçá o que lhe valeu a divindade, milagre só repetido para si próprio, foi o da ressurreição de Lázaro. Hoje os milagres são pífios e basta a cura da queimadela de um olho com óleo de fritar peixe, suprindo o colírio, para canonizar um bem aventurado.

O homilia da ressurreição de Lázaro é, ainda hoje, um comovente exercício da divina omnipotência. Era este sermão que cabia fazer ao pároco de uma aldeia da Beira, num qualquer domingo depois do Pentecostes, quando ficou afónico. Não se atrapalhou o padre e ordenou ao sacristão, inexperiente na parenética, que fosse ele, a substituí-lo.

Depois das peripécias da recusa, que por economia dispenso de referir, o padre garantiu estar a seu lado para emendar algum erro improvável a quem sabia de cor o sermão que tinha ouvido dezenas de vezes. E assim fez.

Tal como combinado, o sacristão advertiu os paroquianos que ia dizer o sermão pelas razões conhecidas, e começou:

– Queridos irmãos, naquele tempo estava Jesus e alguns apóstolos, com a mesa e a mala, a fazer milagres à beira do Lago de Genesaré, hoje chamado de Tiberíades, e veio junto dele um coxo e disse: «Senhor, curai-me» e o Senhor curou-o; veio depois um cego com igual pedido e o Senhor curou-o; e fez o mesmo com sifilíticos, leprosos e paralíticos. Já Jesus tinha arrumado a mala e ainda vieram junto dele as irmãs de Lázaro, chorosas, e lhe disseram: «Senhor, o nosso irmão morreu; Senhor, valei-nos». O Senhor disse-lhes: ide e orai e elas assim fizeram.

O Senhor foi junto da campa de Lázaro e ordenou-lhe: Lázaro, levanta-te e anda. E ele andeu…

– «andou, estúpido!» balbuciou-lhe do lado o padre, afónico, e o sacristão continuou…

– andou estúpido algum tempo e depois curou-se.

3 de Abril, 2013 Carlos Esperança

Mulher e vítima – Herança tribal e religiosa

A MULHER NA HISTÓRIA DA EUROPA…

DOS HOMENS…

Parirás com dor.
Bíblia.

A mãe não saberia dar vida. Ela é somente o vaso onde o germe vivo do pai se desenvolve. É ao pai que são devidos o respeito e o amor das crianças. Quem mata a mãe não é parricida.
Ésquilo.

Há um princípio bom que criou a ordem, a luz e o homem. Há um princípio mau que criou o caos, as trevas e a mulher.
Pitágoras.

A mulher é fêmea em virtude de uma certa falta de qualidades
Aristóteles.

Mulher, tu és a porta do Inferno, a via da corrupção, a aliada de Satanás. Deverias sempre vestir de luto e não te cobrires senão de andrajos e teres os olhos inundados de lágrimas. Tu és responsável pela a do género humano.
Tertuliano.

A mulher menstruada estraga as colheitas, devasta os jardins. mata as sementes, faz cair a fruta, mata as ovelhas e faz azedar o leite se lhe toca.
Plínio.

Um ser ocasional e acidental, a mulher
São Tomás de Aquino.

A gravidez não é mais do que a tumefação do útero.
São Tomás de Aquino.

É através da mulher que nos foi enviada a destruição; é através da mulher também que nos foi enviado o parto.
Santo Agostinho.

Nascemos entre os excrementos e a urina.
Santo Agostinho.

A mulher é feita para ceder ao homem e suportar-lhe as injustiças
Jean-Jacques Rousseau.

Ela foi dada ao homem para que ela faça filhos e ela pertence-lhe, como uma árvore com frutos pertence ao jardineiro.
Napoleão.

A mulher é uma propriedade que se adquire por contrato. Deveis ter horror às raparigas com instrução
Balzac.

Não tenham a mínima inquietação com os seus queixumes, os seus gritos, as suas dores. A natureza fê-la para suportar tudo. Filhos, pancada e desgostosos do homem.
Balzac

Devemos alimentá-las bem e vesti-las bem mas não as meter na sociedade. E não devem senão ler livros de piedade e de cozinha.
Byron.

Uma mulher, ao usar a sua inteligência torna-se feia, louca, macaca
Proudhon.

Não se pode imaginar uma olimpíada feminina. Seria impraticável, inestética e incorreta.
Pierre de Coubertln

O destino da mulher deve permanecer o que é: na juventude uma coisa adorável e deliciosa; na idade madura, o de uma esposa querida. (…) o desejo do êxito numa mulher é uma neurose, o resultado de um complexo de castração do qual só se curará através de uma total aceitação do seu destino passivo. A mulher… um homem falhado.
Freud.

Citações recolhidas em .Sexologia, de Gilbert Tordjman, e em Assim seja Ela, de Benoite Grautt.