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Dia: 14 de Outubro, 2012

14 de Outubro, 2012 Carlos Esperança

Igreja católica recusa pagar IMI

Por

E – Pá

A Igreja Católica não aceita que os templos e os edifícios destinados à formação e à pastoral paguem Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI). O CM sabe que Vítor Gaspar tentou acabar com essas isenções, mas esbarrou na Concordata, acordo em que Igreja não quer voltar a mexer”. “A Concordata é um tratado internacional que tem de ser cumprido”, disse ao CM o padre Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa. link.

Confrontar esta posição com as recentes declarações do cardeal patriarca – “Não se resolve nada contestando, vindo para grandes manifestações” link – mostra até que ponto a Igreja é uma instituição assustadoramente hipócrita e que, nestes tempos de austeridade, resolveu definitivamente tornar-se cúmplice da selvática espoliação que o Governo pretende – no OE2013 – efectuar aos portugueses. Para memória futura.

De facto, o artº 26 da Concordata de 2004 link é um longo ‘rosário’ de isenções fiscais cheio de armadilhas onde se explicita o âmbito geral, regional ou local. Um pormenor: apesar de não ter sido efectuada a Regionalização do País, esta, ‘à cause des mouches’,  cautelarmente, já  consta do rol de isenções… (futuras!).

Uma intolerável situação de privilégio e de discriminação já tinha sido constatada pelo Governo no levantamento da situação de Fundações. Verificou então que as situações das Fundações religiosas estão acauteladas – artº. 26, 3., c., da Concoradata de 2004).

Resta saber como pretende a Igreja encaixar o problema das Misericórdias que se apressou – segundo deduzimos – a ‘negociar’ com Vítor Gaspar no silêncio dos gabinetes. Estas veneráveis instituições que transitaram para o regime (fiscal) que regula as IPSS, sob a forma de ‘Irmandades’ (onde recentemente ouvimos esta designação?).

Quanto ao IMI – um dos impostos que têm alimentado parte substancial da contestação social que o patriarca verbera – estas IPSS tem o pedido de isenção condicionado ‘ao ano em que se constitua o direito de propriedade’ (em favor das Misericórdias). Simples, barato e dá milhões! …

Para haver uma noção da amplitude destas isenções basta termos em conta que a Misericórdia do Porto é a maior “senhoria” da cidade link sendo o seu património imobiliário de valor ‘incalculável’. De facto, depois de, pela rama, conhecermos estes meandros (outros haverá na escala nacional) de que fala e o que pensa a Igreja quando prega equidade na distribuição dos sacrifícios?

Pergunta necessária:

Partindo do princípio que a sacrossanta ‘Concordata’ funciona como um tratado internacional (Portugal/Vaticano) e cuja denúncia será, no contexto político actual, irrealista, não tem o Governo capacidade para alterar unilateralmente a legislação sobre o regime jurídico e fiscal das IPSS cujo estatuto foi aprovado pelo Decreto-Lei nº 11/83, de 25 de Fevereiro?

Bem, se o Governo tivesse, em nome da justiça e da equidade fiscal, a ousadia de alterar o actual estatuto das IPSS, cuja competência parece inquestionável, provavelmente, o senhor cardeal Policarpo pensaria doutra maneira e rapidamente estaria a promover e abençoar as contestações de rua. Na verdade, a Igreja, no passado recente, já enveredou por este caminho. Todos nos recordamos das manifestações de 1975 contra o ‘gonçalvismo’, a pretexto da RR e a liberdade religiosa…’piedosamente‘ promovidas pela ICAR.

Deste modo e concluindo o purpúreo cardeal, dirigente da CEP, desperdiçou uma soberana oportunidade de não insultar os portugueses…

14 de Outubro, 2012 Carlos Esperança

Também há talibãs romanos na Argentina

Ultracatólicos impedem um aborto com a mulher já na sala de cirurgia

Sequestrada em 28 de julho, levado para a Patagónia e forçada à prostituição, conseguiu escapar da rede do tráfico, mas ficou grávida. Ela queria o aborto que a lei já permite na Argentina. Mas o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, um conservador, anunciou na terça-feira, a intenção de boicotar o primeiro aborto que ia ser feito segundo a nova legislação.

Um grupo católico ultraconservador conseguiu deter a intervenção, interpondo recurso judicial, depois de ter entrado à força na sala de operações do hospital.

Continue a ler esta notícia do El País sobre os talibãs católicos.

14 de Outubro, 2012 Carlos Esperança

A igreja católica portuguesa e as declarações infelizes de um cardeal

Por

Alexandre Castro

A Igreja Católica, desde que se tornou a religião oficial do Império Romano, sempre foi uma religião de poder. O Papa ainda reproduz, nos dias de hoje, nos paramentos e no cerimonial, os tiques dos imperadores. Na sua longa história de dois mil anos, sempre se aliou às aristocracias e às classes possidentes. Foi na Península Ibérica onde ela mais se enraizou com o poder político, que ia sempre outorgando-lhe regalias e privilégios.

Aliou-se ao invasor germano (os Visigodos), que delegou nela a administração da coisa pública. Na Alta Idade Média, eram os bispos que, na prática, governavam, tomando as principais decisões políticas e religiosas nos concílios ibéricos. Na Reconquista, era vulgar ver os bispos nos campos de batalha ao lado dos reis cristãos, batalhando contra o mouro infiel.

Nos Descobrimentos, para evangelizar os novos povos e alargar a sua influência por todos os novos continentes descobertos, atrelaram-se aos navegadores e aos conquistadores dos impérios coloniais, numa aliança espúria entre a espada e crucifixo.

No crucial século XVI, os dois reinos ibéricos, o de Portugal e o de Espanha, foram o principal esteio dos papas no lançamento e consolidação da Contra- Reforma, saída do concílio tridentino. Foi nessa altura, que se instituiu a Inquisição e o Tribunal do Santo Ofício, para queimar os hereges, os apóstatas e os praticantes clandestinos do judaísmo, semeando no país o medo e o terror. Nos séculos seguintes, apesar de alguns contratempos e sobressaltos, ganhou força institucional e espiritual nestes dois países, que atingiu o seu máximo esplendor na aliança com os fascismos ibéricos, o de Salazar e o de Franco.

Após o 25 de Abril, a igreja católica portuguesa constituiu-se num baluarte da contra-revolução, sendo muito interventiva no processo político e usando como arma o púlpito, o confessionário, a fábrica dos milagres do santuário de Fátima e outros processos secretos, pouco recomendáveis.

Afastado o “perigo comunista”, recolheu-se discretamente para os seus espaços de intervenção, mas não deixou de, na sombra, ir urdindo e reforçando o seu poder e sua discreta influência. Durante séculos, teve o monopólio do ensino em Portugal, que lhe serviu de eficiente veiculo para a intensiva doutrinação das elites e da população em geral, monopólio esse que só interrompido abruptamente pelo marquês do Pombal (sec. XVII), por Joaquim António de Aguiar, o Mata-Frades (sec. XIX), e pelos republicanos (sec. XX). A sua influência foi profunda na formatação da mentalidade dos portugueses, principalmente nas zonas rurais do norte do país, onde primeiro se iniciou a Reconquista Cristã.

Na atualidade, e perante a bárbara ofensiva contra o povo português, através de um iníquo plano para os empobrecer, levada a cabo pelo governo PSD/CDS, a soldo dos interesses do capitalismo financeiro internacional, a igreja católica remeteu-se a um silêncio cúmplice, apenas quebrado por uma ou outra voz mais ousada. Mais uma vez, a igreja católica está ao lado dos poderosos, não levantando a voz, como seria o seu dever, na defesa dos mais desprotegidos.

Não admira, pois, que o patriarca Policarpo, e já é a segunda vez que isto acontece, venha a terreiro aplaudir implicitamente a imposição de sacrifícios monstruosos aos portugueses. Ignorando que a igreja utiliza a rua para as suas manifestações da Fé, insurge-se contra aqueles que na rua exercem o seu legítimo direito à indignação e ao protesto.
É bom que o patriarca tenha presente que o bispo de Lisboa, na sequência do golpe palaciano desencadeado pelo Mestre de Aviz, e que deu origem à revolução de 1383-85, foi atirado da torre da Sé, pela populaça enfurecida, que lhe não perdoou a sua aliança com Leonor Teles, a rainha viúva de D. Fernando, que queria entregar o trono português ao rei de Castela.

A História às vezes repete-se. E da segunda vez, normalmente, é uma comédia. E eu não me queria rir de ver D. Policarpo atirado da torre da Sé de Lisboa pelos indignados deste país. Sou contra os atentados contra a vida, seja qual for o pretexto.