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  • 26 de Outubro, 2011
  • Por Raul Pereira
  • Livros

A melhor publicidade vem de borla…

basta provocar a ira das sotainas. Foi o que fez José Rodrigues dos Santos com o seu novo romance, intitulado O Último Segredo.

Como não li o livro (nem tenciono ler), transcrevo, sem mais comentários, a resposta dada pelo jornalista/escritor à nota publicada pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura:

 

«O Secretariado da Pastoral de Cultura da Igreja emitiu um comunicado a criticar em termos violentos o meu romance O Último Segredo. O mais interessante nessa crítica da Igreja é que não é negada uma única das afirmações sobre Jesus e a Bíblia que eu faço nesse romance. Em vez de negar a substância do livro, a Pastoral de Cultura prefere concentrar-se em questões laterais. Fá-lo, claro, porque não pode negar o essencial da obra.

José Rodrigues dos SantosVejamos as questões laterais que são levantadas:

Diz o Secretariado da Pastoral de Cultura que “José Rodrigues dos Santos propõe-se, com grande estrondo, arrombar uma porta que há muito está aberta.” Esta afirmação é interessante, porque se trata de um reconhecimento implícito de que as afirmações que constam no livro são verdadeiras. De facto, no livro nada é dito de novo – para o mundo académico, claro. Porque a verdade é que o cidadão comum nunca ouviu ninguém dizer que Cristo não era cristão, que há indícios no Novo Testamento que questionam seriamente a virgindade de Maria e que existem textos fraudulentos na Bíblia. Os académicos sabem disto, a Igreja também. O público é que não. De facto não arrombei nenhuma porta. Limitei-me a trazer esta informação para o grande público.

Diz o Secretariado da Pastoral de Cultura que “A quantidade de incorrecções produzidas em apenas três linhas, que o autor dedica a falar da tradução que usa, são esclarecedoras quanto à indigência do seu estado de arte.

Importa esclarecer que isto não é uma afirmação sobre o conteúdo do livro, que é verdadeiro, mas sobre uma gralha numa mera nota bibliográfica. Escrevi nas referências bibliográficas que “recorri à Bíblia Sagrada, edição lançada pela Verbo em 1976 e reimpressa em 1982 para comemorar a visita do Papa João Paulo II a Portugal nesse ano”, mas um erro na revisão eliminou a expressão “e reimpressa em 1982”, fazendo com que a referência ficasse absurda – João Paulo II não podia ter visitado Portugal em 1976 porque nem sequer era papa nessa altura. Como a Igreja não encontrou mais nenhum erro em todo o livro, agarrou-se pelos vistos a esta gralha na bibliografia para tentar desacreditar todo o texto. Esta tentativa mostra que realmente não tem muito por onde pegar no essencial da obra.

Diz o Secretariado da Pastoral de Cultura que “Confunde datas e factos, promete o que não tem, fala do que não sabe.” A não ser a gralha referente à nota bibliográfica, que datas e factos são confundidos? Nada é apontado. O que prometi que não tinha? Nada é dito. Do que falei exactamente que não sabia? Nada se clarifica.

Diz o Secretariado da Pastoral de Cultura que “Rodrigues dos Santos faz de Bart D. Ehrman o seu teleponto“. Não é difícil descobrir que li Bart Ehrman porque cito vários livros dele na Nota Final do romance. Se o cito é porque o li – isso é uma verdade de La Palisse. Mas li também E. P. Sanders, Bruce Metzger, Robert Wright, Burton Mack, Anthony Buzzard, Amy-Jill Levine, John Dominic Crossan, Craig Blomberg, Ed Komoszewski, James Sawyer, Daniel Wallace, Craig Evans, Timothy Paul Jones e traduções para inglês dos grandes clássicos alemães de análise bíblica, como Albert Schweitzer, Hans von Campemhausen e Walter Bauer. Teria sido útil que a nota do Secretariado da Pastoral de Cultura tivesse também citado estas minhas fontes. Mas como o objectivo era pelos vistos tentar descredibilizar a obra, optou pelo silêncio.

Agora que lidei com as questões laterais, vamos ao essencial.

A Igreja nega ou não nega que Jesus era judeu – e, consequentemente, que Cristo não era cristão? A Igreja nega ou não nega que há fortes indícios na Bíblia de que Maria não era virgem? A Igreja nega ou não nega que existem textos fraudulentos no Novo Testamento? A Igreja nega ou não nega que nenhum dos autores do Novo Testamento conheceu pessoalmente o Jesus de carne e osso?

Estas é que são as questões que preocupam os fiéis que lerem o meu romance. Ou acham mesmo que a preocupação central dos fiéis é uma gralha numa referência bibliográfica?

Na verdade não percebo bem esta reacção da Igreja. A Igreja está com medo de quê? Que os seus fiéis descubram a verdade sobre Jesus e a Bíblia? Mas faz algum sentido imaginar uma fé que se baseie em mitos e em falsidades? A verdadeira fé só se pode basear na verdade e a Igreja não deve temer a verdade. O Último Segredo abriu uma janela de oportunidade para se explicar a verdade aos crentes. Tenho leitores que me escreveram a dizer: “Li o seu romance, aprendi muita coisa sobre a minha religião mas não mudei a minha fé”. Seria inteligente a Igreja se confiasse na inteligência dos seus fiéis.»