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Dia: 9 de Setembro, 2011

9 de Setembro, 2011 José Moreira

Um pecado é um pecado

O DA é um portal ateu. Isto dito assim, tem laivos de redundância, mas a verdade é que ainda há muita gente que não o vê assim, embora essa falta de visão seja voluntária, pelo que imperioso se torna lembrá-lo: o Diário Ateísta é um portal ateu.
Assim sendo, parece-me razoável que se debruce não só sobre as questões religiosas, mas também sobre as que lhe estão subjacentes – nomeadamente a hipocrisias e os reiterados sermões de Frei Tomás.
Dito isto: um crime é um crime, e cada sociedade trata de julgar e punir os actos que como crime são considerados. Infelizmente, todos os dias a comunicação social nos vai dando conta não só do cometimento de crimes, mas também das acções das polícias e dos tribunais para os combater e/ou punir. E se o cometimento de um crime é um acto condenável, mais condenável se torna se for cometido por quem tem obrigação acrescida de não os cometer. Não é por acaso que a legislação portuguesa – é ela que nos interessa neste contexto – pune com mais severidade os agentes que, por força das respectivas funções têm deveres ampliados de comportamento exemplar. É muito mais grave, por exemplo, um polícia cometer um crime do que se esse mesmo crime for cometido pelo “Zé das Iscas”. Mais grave ainda, se for cometido no exercício das suas funções. Do polícia, entenda-se.
Por isso, parece-me uma inqualificável tentativa de branqueamento, a roçar a cumplicidade doentia, afirmar que um polícia cometeu um crime “mas ninguém fala nos outros”; ou que um médico matou um doente “mas há tanta gente que mata”.
Ou dizer que um padre cometeu abuso sexual de menores, “mas a maior parte desses crimes dá-se no seio familiar” ou que “há ateus que também são pedófilos”. Ai há? E depois? Isso justifica a atitude do padre? As asneiras legitimam-se umas às outras?
Os pecados não foram inventados pelos ateus. Quem os inventou é que deve ter comportamento exemplar. Como os polícias. Ou como os médicos.

9 de Setembro, 2011 Ludwig Krippahl

Parcimónia.

É possível que o Elvis esteja vivo, que as pirâmides tenham sido construídas por extraterrestres e que ocorram curas milagrosas. Não há qualquer contradição lógica que permita rejeitar categoricamente estas hipóteses. No entanto, não basta ser possível para se concluir que é verdade. Também é possível que o Elvis não esteja vivo, que as pirâmides não tenham sido construídas por extraterrestres e que ninguém se cure por milagre, pelo que aceitar uma alegação como verdadeira apenas por ser possível obriga a aceitar uma imensidão de hipóteses inconsistentes entre si.

Um primeiro passo é considerar as evidências, mas mesmo isso não resolve imediatamente o problema. Temos a certidão de óbito do Elvis, relatos históricos da construção das pirâmides e explicações médicas para muitas curas, mas é sempre possível conciliar qualquer hipótese com qualquer conjunto de dados invocando hipóteses auxiliares. Por exemplo, que a certidão de óbito foi falsificada por conspiradores, que os relatos da construção das pirâmides são parte do plano dos extraterrestres para esconder a sua presença e que tudo o que a medicina não sabe explicar é necessariamente milagre.

Portanto, mesmo dispondo de dados concretos, ainda é necessário critérios que permitam avaliar a verdade de uma alegação sem ficar soterrado numa derrocada de hipóteses inconsistentes. Além de factores como a fiabilidade dos dados, da fonte da alegação e das suas motivações, há um critério fundamental para lidar com o excesso de hipóteses possíveis. A parcimónia. Ou seja, preferir aquelas hipóteses que se adequam aos dados com o mínimo de hipóteses auxiliares sem fundamento independente.

É importante perceber que a parcimónia não é simplesmente a preferência pela hipótese mais simples. O objectivo deste critério é evitar a explosão de hipóteses que se pode compatibilizar com os dados por mera especulação, como teorias da conspiração, mistérios e afins. Por isso, o que importa é considerar a alegação enquadrada na rede de hipóteses auxiliares de que precisa. Por exemplo, alguém diz ter visto pardais em Lisboa. Aceitar esta alegação implica aceitar a hipótese auxiliar de haver pardais em Lisboa. Por outro lado, rejeitar esta alegação implica aceitar a hipótese auxiliar de que essa pessoa está enganada ou a mentir. Na ausência de indícios de que essa pessoa seja mentirosa ou incompetente para identificar pardais (e.g. ser invisual ou não saber o que são pardais), a primeira alternativa é preferível porque temos suporte independente para a hipótese de haver pardais em Lisboa. Em contraste, se a alegação fosse de ter visto um brontossauro, o principio da parcimónia recomendaria rejeitá-la como falsa porque há mais suporte independente para a hipótese da pessoa estar enganada ou a enganar do que para a hipótese de haver brontossauros em Lisboa. Considerando as alegações no contexto das hipóteses auxiliares que exigem é fácil ver, nestes casos, qual a alternativa mais parcimoniosa.

Isto vem a propósito de duas discussões paralelas num post recente. A Miriam Levi tem defendido, se bem percebo, a possibilidade de culturas antigas, como a dos maias ou a dos chineses de há dois mil anos, terem muito mais conhecimento do que aquilo que nós julgamos que tinham, ou até ter muito conhecimento que nós já não temos. «Por exemplo, os chineses sentem a pulsação no pulso (nos dois), são capazes de diagnosticar de forma bastante precisa. Infelizmente preferimos gastar muito dinheiro em testes químicos, invasivos ou ressonâncias atómicas que podem queimar ou favorecer o aparecimento de tumores…»(1). O problema é que a possibilidade dessas coisas funcionarem não basta para concluir que funcionam. Sem evidências concretas de que sentir o pulso pode substituir a ressonância magnética ou a TAC, a hipótese mais plausível, pelo critério da parcimónia, é que isto é só conversa.

A outra foi uma pergunta, crítica e desabafo do Carlos Soares, escrevendo de mim que «Critica a bíblia e o cristianismo, que são bastiões da [ciência], do método científico, da rejeição da superstição e da idolatria… Como é possível? Que é que tem contra os cristãos?»(1). Não tenho nada contra os cristãos, mas o critério da parcimónia leva-me a rejeitar o que esta religião alega. A alegação de que o universo foi criado por alguém inteligente implica haver um processo que permita tal criação e implica ser inteligente criar um universo destes, com milhares de milhões de anos e uma imensidão vazia totalmente hostil à vida excepto em pontinhos como este planeta. A alternativa, de tudo isto ser fruto de processos naturais sem inteligência, implica que tem de haver tais processos e, se bem que não seja mais simples por si, essas hipóteses auxiliares estão bem fundamentadas pela ciência moderna. Não sabemos tudo o que ocorreu desde o início do universo até à evolução da nossa espécie, mas sabemos muito acerca da maior parte do percurso. E se considerarmos as alegações adicionais que cada religião acrescenta, acerca do número de pessoas na substância divina, dos livros sagrados, das encarnações e preceitos morais, o que temos é precisamente a tal derrocada de hipóteses infundadas da qual só a parcimónia nos safa.

É possível que os cristãos tenham razão. É possível que as medicinas especulativas sejam melhores do que a medicina experimental. E é possível que o Elvis esteja vivo. Mas ser possível não basta e, pelo que sabemos, o mais certo é nenhuma destas ser verdade.

1- Comentários em Hepatoscopia

Em simultâneo no Que Treta!

9 de Setembro, 2011 Carlos Esperança

Os crentes voltaram de férias

Reprimidos pela castidade a que a sua religião os obriga, voltaram azedos e malcriados, o que não é exclusivo desses seres com os joelhos calejados nas missas e o pensamento obnubilado pelas orações.

Eles sabem que o ateísmo é anterior à inseminação de uma judia por uma pomba e que sem Paulo de Tarso, que fez a cisão com o judaísmo, e o pouco estimável Constantino, que transformou uma seita perseguida em religião oficial, não haveria cristianismo.

Convém recordar que o logótipo do cristianismo foi, nos primeiros séculos, o peixe e, só depois, o sinal mais o substituiu. Para quem sabe que foram os homens que criaram os deuses, e não o contrário, é curioso observar como os crentes ainda vêem no Pentateuco a palavra do deus abrâmico, não sendo honroso que tal manual sirva de orientação espiritual com a sua crueldade, própria da época em que foi criado, habitual nos seis séculos em que a tradição oral foi sendo adaptada.

Eram tempos em que a vida tinha pouco valor e a violência era apanágio das tribos que se submetiam a um rígido poder patriarcal. É por isso, por razões morais, que um ateu civilizado e que preze a vida não pode ver no Deuteronómio ou no Levítico, v.g., a orientação para uma conduta digna.

Ultimamente, o judeu que divinizaram e se tornou a mascote do cristianismo, está a ser substituído pela alegada mãe que aparece a dar recados, em países católicos, a pessoas de parca sabedoria e forte superstição. Da trindade cristã, o Espírito Santo há muito que foi deixado cair no olvido e é hoje residual o culto de que goza. Em breve restará apenas a virgem Maria para meter cunhas ao divino filho a troco das orações e do óbolo.

9 de Setembro, 2011 Carlos Esperança

As orações podem matar

Em Veneza os muçulmanos correm risco de vida para rezarem.

9 de Setembro, 2011 Eduardo Patriota

Site de traição pede desculpas à Igreja por uso da imagem de Cristo

A propaganda do site Ohhtel, que chegou recentemente ao Brasil e visa promover sexo fora do casamento entre seus usuários, usou uma imagem do Cristo Redentor para fazer lá sua graça. A propaganda passa longe de ofender os cristãos ou a Igreja, mas foi uma escolha errada, já que a imagem do Cristo Redentor do Rio de Janeiro pertence à Arquidiocese do Rio de Janeiro. A empresa foi forçada a retirar a propaganda.

A retirada foi possível, principalmente, devido à lei sobre direitos de uso da imagem. Particularmente, acho que já temos tanta hipocrisia no meio religioso (ainda que alguns, certamente, se salvem), com seus escândalos sexuais e abusos de crianças, que considero que a escolha foi infeliz. Uma provocação gratuita demais. Algo que, inegavelmente, traria algum tipo de problema ou, no mínimo, um pouco de polêmica. Na verdade, acho que foi exatamente isso o que a empresa do site queria: polêmica. Um golpe baixo de uma empresa que já não está vendendo um serviço dos mais prestativos.