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Mês: Junho 2011

30 de Junho, 2011 Ricardo Alves

«Nem Alá, nem Senhor»

O documentário «Nem Alá nem Senhor», da realizadora tunisina Nadia El Fani, já provocou manifestações furiosas dos extremistas islamistas, que gritam barbaridades intimidatórias como «a Tunísia é um Estado islâmico» e «o povo quer criminalizar a laicidade». Não suportam que se debata a laicidade num país de maioria muçulmana, e que a realizadora seja ateia. Que ninguém se espante: viram-se cenas semelhantes em Lisboa há poucas décadas, por causa de uma caricatura com Papa e preservativo ou à porta de cinemas que projectavam filmes com «Maria» no título. Tunes não está assim tão distante de Lisboa.

Fica em baixo um excerto do documentário.

29 de Junho, 2011 Ricardo Alves

«Matareis os vossos animais com crueldade e mutilareis as vossas crianças»

Não me indigna nem me entusiasma a proibição do abate ritual de animais (kosher ou halal). Se concordo que não anestesiar um animal antes de o matar é uma crueldade desnecessária (ainda pior quando se reza aos ouvidos do pobre bicho enquanto se lhe corta o gasganete), parece-me um exagero sentimentalista a ideia de que os animais de outra espécie que não a nossa têm direitos inalienáveis. Todavia, por princípio não aceito que um grupo de indivíduos se reclame o direito de fazer qualquer coisa que me é proibida por lei só porque seguem uma religião, seja ela qual for. Portanto, estou a favor. Porque, embora resolutamente antropocêntrico, não entendo por que a religião ou a tradição hão-de ser fonte de direitos, como pretende certo reaccionarismo pós-modernista.
E mais: como temem alguns judeus, ficaria realmente entusiasmado se se proibisse a circuncisão,  sem motivo médico, de menores de idade. A integridade dos órgãos sexuais das crianças parece-me mais importante do que qualquer fantasma de «anti-semitismo» ou «islamofobia» que se queira invocar. Apedrejai-me, clericais.
[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
28 de Junho, 2011 Eduardo Patriota

Galinha mutante levanta debate religioso em Israel

 

E eu pensando que já tinha visto de tudo…

Uma família judia ultra-ortodoxa mostrou nesta terça-feira (28) uma galinha de quatro patas que nasceu em sua casa, no bairro de Mea Shearim, em Jerusalém. A rara ave levantou um debate religioso sobre seu rótulo de alimento “kosher”, aquele que é considerado puro e por isso é permitido na alimentação de judeus.

Segundo a crença, um animal que tenha órgãos sobressalentes seria considerado impuro (“treif”), mas há quem defenda que isso só é verdade no caso de as patas extras estarem ligadas de alguma forma à bacia da ave, como as patas normais.

Por conta disso, alguns defendem que só se saberá se a carne da galinha é “kosher” ou “treif” depois que o animal for abatido, e sua estrutura, analisada.

Isso prova uma coisa e abre uma dúvida:

Prova que todos judeus ultra-ortodoxos faltaram às aulas básicas sobre biologia, DNA, replicação celular, etc. E a dúvida é: será que esse tempo todo os judeus estavam comendo alimentos proibidos? Será que isso explica os infortúnios deste povo ao longo da história?

28 de Junho, 2011 Ludwig Krippahl

Equívocos, parte 12. Grandes equívocos da neurologia?

Técnicas modernas de imagem têm revelado correlações entre experiências religiosas e a actividade de zonas específicas do cérebro, sugerindo hipóteses acerca do que causa algumas experiências religiosas mais profundas. No post mais recente da sua série «Grandes equívocos do ateísmo contemporâneo», o Alfredo Dinis critica estas hipóteses por não abrangerem tudo aquilo que o Alfredo considera experiência religiosa. Fica por explicar porque é que isto há de ser um grande equívoco do ateísmo e, de qualquer forma, parece que os equívocos estão novamente do outro lado.

Escreve o Alfredo que «Sem negar o interesse dos estudos de Newberg e dos neuroteólogos em geral, deve dizer-se que há em todos eles um esquecimento da natureza relacional do ser humano, e da dimensão comunitária da experiência religiosa, entre outros elementos.»(1) Concordo que as religiões são muito mais do que aquelas experiências que a neurologia tenta compreender. Por exemplo, o Daniel Dennett entrevistou alguns sacerdotes cristãos que não acreditam na existência de um deus sobrenatural (2). Este é um exemplo extremo, mas demonstra bem que professar uma religião se pode dever a muitos factores. Quem dedicou a vida a uma carreira terá, compreensivelmente, relutância em admitir publicamente que o fez enganado, principalmente se tal admissão lhe custar o cargo, rendimento e estatuto social. Também haverá quem professe uma religião por pressões familiares, sociais ou até legais, em alguns sítios, e também quem esteja sinceramente convicto da sua religião por uma educação que precedeu a sua autonomia intelectual. Por exemplo, a Assunção Cristas diz não se lembrar da sua vida sem Deus, o que sugere que a sua religião não resulta de uma decisão ponderada, voluntária e consciente (2).

Mas parece-me um equívoco do Alfredo assumir que os neurologistas se esqueceram da complexidade social, psicológica e cognitiva da religião, ou da multiplicidade de factores que levam alguém a dizer ámen e comer a hóstia. A tecnologia, e o que se sabe do cérebro, é que não permitem tal detalhe. Não se pode ver pelos neurónios o que é que levou a Assunção Cristas a acreditar nestas coisas desde criança, ou que factores desencorajam um sacerdote descrente de dizer à sua congregação “lamento, mas isto é tudo mentira”. O que se pode observar é mais grosseiro. Por exemplo, a síndrome de Geschwind, devida a epilepsia no lobo temporal, é caracterizada por uma forte religiosidade, pedantismo, escrita muito extensa e desmaios (4). São sintomas salientes como estes – alguns até evidentes em comentários de blogs – que podem ser correlacionados com actividade nervosa detectável, como a epilepsia. Como um cientista, ao contrário dos religiosos, não se pode afirmar perito acerca daquilo que ninguém sabe, são estas coisas que os neurologistas têm de focar. O que me leva a concordar, em parte, com o Alfredo; “neuroteologia” é um termo infeliz, porque aquilo é só neurologia. Não há lá “teo” nenhum.

O Alfredo afirma também que «a actividade neuronal só poderia ser considerada condição suficiente se aquela experiência fosse fundamentalmente causada pelo cérebro. Ora, isso é o que se pretende provar.» Exactamente. E como fazê-lo? Um problema que os religiosos apontam é que a hipótese de Deus causar certas experiências religiosas não pode ser testada cientificamente, o que está parcialmente correcto. Por exemplo, a ciência não consegue testar, isoladamente, a hipótese de os ataques epilépticos serem causados por possessão demoníaca. O cientista pode examinar os neurónios mas não consegue detectar demónios. No entanto, é hoje consensual* que a epilepsia não tem nada que ver com o mafarrico. Ou seja, a ciência acabou por rejeitar, justificadamente, uma hipótese que não podia ser directamente testada.

A forma como se chegou a esta conclusão foi encontrando outra hipótese, essa testável, que explica melhor a epilepsia. Que dá mais detalhes, elucida o mecanismo e permite prever com mais rigor o que vai acontecer, por exemplo, se a pessoa for medicada. E isto aplica-se a muitas experiências. Não temos de postular um mundo dos sonhos para onde a nossa alma vai quando dormimos, nem um universo paralelo onde o bicho-papão e o Homem-aranha esperam pacientemente que alguém pense num deles. A ciência não pode provar a inexistência de tais coisas mas pode mostrar hipóteses alternativas melhores. Esse é, afinal, o melhor teste de qualquer hipótese: o confronto com as alternativas. E é o que a ciência tem feito, tantas vezes que alguns católicos até já defendem que Deus não intervém neste mundo – especialmente nos desastres naturais – à excepção do ocasional milagre necessário à contratação de novos santos.

A neurologia apenas continua este processo. O êxtase de Teresa de Ávila ou a visão de Saulo de Tarso são também fenómenos para os quais as relações sociais, a educação e a actividade dos neurónios são causas suficientes. Basta isso, que é também o que basta, como certamente o Alfredo concordará, para explicar a conversa entre Maomé e o arcanjo Gabriel, ou todas as experiências religiosas que outras religiões explicam invocando deuses diferentes do deus do Alfredo.

Um dos grandes equívocos do Alfredo é assumir que a sua hipótese de Deus ganha por omissão. Que deve ser aceite como verdadeira enquanto não se provar o contrário. É uma abordagem incorrecta. O correcto é ponderar as alternativas e favorecer aquela que explica mais dados com menos premissas por justificar. E, com o que sabemos hoje, isto deixa o ateísmo à frente de todas as religiões. Bem destacado.

*Excepto para o Bernado Motta.

1- Alfredo Dinis, Grandes equívocos do ateísmo contemporâneo
2- Washington Post,Non-believing clergy: Now what shall we do?
3- SNPC, Assunção Cristas e a questão de Deus, via Companhia dos Filósofos.
4- Wikipedia, Geschwind syndrome
5- Wikipedia, Neurotheology

Em simultâneo no Que Treta!

27 de Junho, 2011 Luís Grave Rodrigues

Informação

                    
25 de Junho, 2011 Eduardo Patriota

Marcha para Jesus vira ato contra união homoafetiva

A tradicional Marcha para Jesus, não se pode negar, é um evento pacífico, fraternal e bonito de se ver. Mas em toda cesta há maçãs podres. Durante, a marcha, o pastor Silas Malafaia aproveitou para atacar  a recente decisão do STF sobre a união homoafetiva. Também protestou contra a PL 122. Afinal, bondosos, misericordiosos e exemplos de compaixão que são os evangélicos, eles querem o direito de poder discriminar e falar mal dos homossexuais. Malafaia ainda classificou como “lixo moral” as pessoas que questionam a interferência das igrejas em assuntos do governo.

Antes que me perguntem em que pesa a opinião de um pastor, a reportagem se encarregou de entrevistar algumas pessoas durante a marcha sobre temas polêmicos, como aborto e união gay. A resposta dos jovens foi de que “quem defende o homossexualismo e a maconha está aqui a serviço de Satanás“.

Penso como deve ser triste, angustiante e amedrontador viver achando que o diabo existe, e que há uma guerra em curso, e que há possessões demoníacas, etc, etc, e etc.

Agora, o que eu não entendo mesmo (nem pela lógica, nem pela emoção, simplesmente não entendo) é por que um evangélico se incomoda tanto com o que um homossexual faz entre 4 paredes. Afinal, se o problema é a condenação divina, ainda assim é algo com o qual o homossexual deve se preocupar, não o religioso.