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Dia: 31 de Dezembro, 2009

31 de Dezembro, 2009 Ricardo Alves

Ricardo Araújo Pereira sobre a mensagem de Policarpo

O ateu Ricardo Araújo Pereira escreveu na Visão sobre a mensagem de José Policarpo. A não perder.

  • «O Natal é tempo de paz, tempo de amor, tempo de lamentar a existência de pessoas como eu. Não admira que seja uma época que toda a gente aprecia. No dia que assinala o nascimento do salvador, o cardeal-patriarca não resistiu a lembrar que há quem não tenha salvação possível. (…) O ateísmo tem sido, para mim e para tantos outros incréus, a luz que me tem conduzido na vida. Às vezes fraquejo, em momentos de obscuridade e de dúvida, mas, mesmo sendo incapaz de provar a inexistência de Deus, tenho conseguido manter a fé – uma fé íntima fundada numa peregrinação que tem a grandeza e a humildade da longa caminhada da vida – em que Ele não exista. Todos os dias busco a não-existência do Senhor com renovada crença, ciente de que a Sua inexistência é misteriosa demais para que eu a tenha inventado. (…) Acreditar que Deus existe é uma convicção profunda, mas acreditar que não existe, curiosamente, não o é. Alguém, munido de um aparelho próprio, mediu a profundidade das convicções e deliberou que as do crente são mais fundas que as do ateu. Quando alguém diz acreditar em Deus, está a exprimir legitimamente a sua fé; quando um ateu ousa afirmar que não acredita, está a agredir as convicções dos crentes. Ser crente é merecedor de respeito, ser ateu é um crime contra a humanidade. (…)»
31 de Dezembro, 2009 Carlos Esperança

O que eu penso da homilia de Natal do Patriarca

A escalada da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) contra as liberdades entre as quais se conta o direito à crença (a qualquer crença), à descrença e mesmo à anti-crença é uma evidência, enquanto o ateísmo defende a liberdade religiosa na qual se inclui o direito à descrença.

Recordo que em 2008, no dia 13 de Maio, o senhor cardeal Saraiva Martins, então angariador de mila-gres e criador de beatos e santos, presidiu em Fátima à «peregrinação contra o ateísmo na Europa». Podia ter sido a favor da fé mas entendeu a ICAR, no seu fervor belicista, dedicar o evento «contra o ateísmo» e o Sr. Cardeal considerou o ateísmo o «maior drama da humanidade», esquecendo a fome, as doenças, as guerras, as religiões e o terrorismo religioso, por exemplo.

A Igreja católica só aceitou a liberdade religiosa no Concílio Vaticano II mas, apesar de ser recente a conformação com um direito inalienável, julgava que já o tinha assimilado na sua praxis. Pelo contrário, a convivência com o pluralismo e as liberdades individuais parece ser uma dificuldade inultrapassável para a ICAR e para os seus prelados.

Em 2009, entre vários ataques de diversos bispos ao ateísmo, recordo o do Sr. bispo Carlos Azevedo, contra a AAP e o seu presidente, em 2 de Junho, no Correio da Manhã. Escusado será dizer que não foi permitida a defesa, apesar de reiteradamente solicitada, e os ataques parecem ser uma tentativa deses-perada de fazerem do ateísmo o bode expiatório de uma Igreja de onde desertam os padres e fogem os crentes.

Deixo agora de parte a cruzada violenta contra os casamento homossexuais quando seria fácil aconse-lhar os adversários a não se casarem com pessoas do mesmo sexo.

Usando poderosos meios de propaganda e a complacência da televisão pública para com a ICAR, pôde o Sr. Cardeal difundir a sua Mensagem de Natal e divulgar a homilia da missa de Natal em que não se coibiu de atacar os «inimigos», assim considerados todos os que não partilham as suas crenças.

Estranha-se a veemência com que na referida homilia arremeteu contra os agnósticos e, sobretudo, contra os ateus, como se ser ateu ou agnóstico mereça censura, sobretudo de um cardeal.

Os ateus revêem-se na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Constituição da República Portuguesa e, defendendo a liberdade sem privilégios defenderão qualquer religião que, eventualmente, venha a ser perseguida por religiões rivais ou por algum Estado ateu que possa surgir, tão perverso como os confessionais.

Apesar das profundas divergências que separam os ateus do cardeal, pensando os ateus que foram os homens que criaram Deus e o Sr. Cardeal o contrário, os ateus defenderão a liberdade, a democracia, o livre-pensamento e a ciência, contra o obscurantismo, a mentira, o medo e o pensamento único. Serão sempre contra a xenofobia, o racismo, o anti-semitismo e qualquer forma de violência ou de discrimi-nação por questões de raça, religião, nacionalidade ou sexo. O que não acontece com a ICAR.