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Dia: 28 de Dezembro, 2009

28 de Dezembro, 2009 Carlos Esperança

Associação Ateísta Portuguesa – Carta ao Patriarca Policarpo

Exmo. Senhor
Prof. Dr. José da Cruz Policarpo
Cardeal Patriarca de Lisboa
[email protected]
Lisboa

Excelência:
A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) vem manifestar a V. Ex.ª o seu apreço pela grande melhoria do estatuto do ateísmo aos olhos da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR).

Em 2008, no dia 13 de Maio, o senhor cardeal Saraiva Martins presidiu em Fátima à «peregrinação contra o ateísmo na Europa». No mesmo ano, V. Ex.ª, Sr. Cardeal, considerou o ateísmo o «maior drama da humanidade», maior ainda que a fome, as doenças, as guerras e o terrorismo religioso. Foi por isso com agrado que notámos o tom mais conciliatório desta última Homilia de Natal e da mensagem de V. Ex.ª por essa ocasião. Tal como V. Ex.ª, também a AAP defende que «Ser crente ou descrente não pode transformar-se em conflito, um motivo mais para as tensões e agressões mútuas entre os homens.»

No entanto, a AAP lamenta ainda que V. Ex.ª considere os ateus, os agnósticos e todos os que são indi-ferentes à Vossa religião como oponentes a vencer em vez de interlocutores a considerar. Afinal, se as certezas de quem crê são verdadeiramente humildes, como afirma V. Ex.ª, deveriam abrir-se à possibi-lidade de serem os outros quem tem razão ou, no mínimo, da crença ser igualmente legítima como opção pessoal sem precisar do aparato religioso e de representantes oficiais dos deuses.

Apesar destas reservas, a AAP encara com satisfação o progresso na atitude da Igreja Católica em Por-tugal. Despedimo-nos com votos de Boas Festas e o desejo de que, em 2010, V. Ex.ª opte por usar a posição privilegiada que a comunicação social lhe concede para afirmar mais claramente a falta de fé, tal como a fé, como opções individuais às quais todos têm direito.
Esperando que deixe de ver os ateus como oponentes a vencer.

Apresentamos-lhe cordiais saudações.

Associação Ateísta Portuguesa – Odivelas, 28 de Dezembro de 2009

28 de Dezembro, 2009 Carlos Esperança

IRÃO: tempos de mudança?

Por

E – Pá

As manifestações dos últimos dias em Teerão, no seguimento da morte do ayatollah Montazerí, trouxeram à rua, no passado domingo, milhares de manifestantes.

Na verdade, as motivações destes protestos entroncam-se nas últimas eleições presidenciais, que conduziram, sob a interferência discricionária do líder supremo, à reeleição de Mohammoud Ahmadinejad. Na altura, em Junho, os apoiantes do candidato reformista Mirhossein Mousavi, contestaram os resultados e manifestaram-se expressivamente em várias cidades do Irão.

O ayatollah Montazerí, tornou-se um dissidente da teocracia xiita que, a partir de Qom, governa o Irão. Esta visível dissidência mostrou ao povo iraniano, e ao Mundo, que as fracturas no interior da clique religiosa que detêm o poder, organizada pelo “pai da revolução”, ayatollah Komennei, são profundas e, obrigatoriamente, conduzirão a mudanças.

A inevitabilidade destas mudanças reflectem um paradigma que se evidencia nas poucas imagens e nos telegráficos e truncados relatos das agências noticiosas – sobre os quais se abateu uma implacável censura e um black-out na comunicação com o exterior – onde, se observam, que os apoiantes de Mousavi, são na maioria jovens – homens e mulheres.

Estes jovens são um incontornável fermento de mudança que a oligarquia religiosa de Qom não conseguirá travar. E, o mais relevante, é exactamente a significativa participação de mulheres, num Estado teocrático islâmico, onde o estatuto de cidadãs tem sido, oficialmente, negado.
Este facto, só por si, é um forte indício de que, no seio da sociedade iraniana, se levantam ventos de mudança.

O “mundo democrático”, nomeadamente a UE, deve estabelecer pontes com os vários movimentos oposicionistas e reformistas que se movem conjuntamente para por termo a esta anacrónica teocracia e, vislumbram desenvolvimento de uma cultura democrática, no seio de uma sociedade islâmica, o que parecendo paradoxal poderá não ser.

O Mundo move-se. E muda.